Novo Oriente Médio após décadas de diplomacia
15 de agosto de 2005O verde alemão Joschka Fischer foi o político europeu e ocidental que mais visitou o Oriente Médio desde sua posse no Ministério do Exterior em Berlim, em 1998. No entanto, o êxito das visitas foi inversamente proporcional à sua freqüência – uma prova da impotência dos países europeus na política para o Oriente Médio.
O caso dos alemães é singular. Em decorrência de seu passado histórico e do Holocausto, a Alemanha não pôde assumir um papel "neutro" no Oriente Médio, pelo menos enquanto o conflito ainda era drástico, ou seja, até o Tratado de Oslo, assinado em 1993. Na época, os palestinos exigiam a extinção do Estado judaico e Israel se recusava a reconhecer a OLP e o direito dos palestinos de um Estado próprio. Naqueles anos, a Alemanha só se manifestou ativamente em relação ao Oriente Médio dentro de iniciativas européias.
Descaminhos do processo de paz
Com o Tratado de Oslo, isso mudou. Israelenses e palestinos se reconheceram reciprocamente e se comprometeram a cessar a violência. Quando a implementação do tratado estagnou, foi a hora de a Alemanha oferecer seus préstimos de mediadora.
A coalizão de governo social-democrata e verde tomou posse em Berlim juntamente nesse contexto, com a consciência de que o êxito do processo de paz no Oriente Médio dependia de uma colaboração com Washington e da boa vontade dos palestinos e israelenses. Foi por isso que, em suas visitas à região, Fischer pretendia primordialmente animar ambos os lados a tomar iniciativa e fazer avanços no processo de paz.
Todos as perspectivas de êxito desapareceram quando uma nova intifada eclodiu em setembro de 2000, fazendo as relações entre Israel e palestinos retroceder ao pior estágio desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Joschka Fischer não parou de se empenhar pela conciliação, mas tudo o que ele conquistou foram palavras polidas de ambas as partes.
Foi então que a Alemanha voltou a se alinhar numa ação internacional. Em 2003, a União Européia, as Nações Unidas, os Estados Unidos e a Rússia acertaram o chamado "road map" para o Oriente Médio e, desde então, este plano é a base declarada das intervenções diplomáticas alemãs no conflito regional.
Recusa às armas no Iraque
O maior impacto que a Alemanha causou com a política externa durante o governo Schröder foi através de sua recusa de participar da guerra do Iraque. Essa decisão garantiu, por um lado, a reeleição da coalizão social-democrata e verde, mas abalou fortemente as relações entre Berlim e Washington.
Resta saber se a abstinência alemã no Iraque e no Oriente Médio tem alguma vantagem a médio ou longo prazo. Berlim se dispõe a treinar a polícia iraquiana, porém, enquanto os alemães não estiverem presentes de fato no Iraque, não poderão participar das decisões sobre o futuro da região. Isso também tem implicações econômicas, pois o empresariado alemão dificilmente fechará negócios que o interessem no Iraque, diante da falta de segurança da região e da concorrência dos EUA.
As relações econômicas de Berlim com o Irã, por sua vez, são satisfatórias. Se bem que possam ser abaladas, caso a União Européia não consiga avançar em suas negociações sobre a política nuclear de Teerã. Berlim, Paris e Londres tentam dissuadir o governo iraniano de enriquecer urânio, um passo decisivo para a construção da bomba atômica.
Diplomacia entre bomba atômica e petróleo
A intenção européia era mostrar a Washington que a diplomacia surte mais efeito do que o confronto. No entanto, até agora os europeus não alcançaram nada com isso, e a irritação de Teerã poderá prejudicar as relações em outros âmbitos, sobretudo depois da posse do governo altamente conservador do presidente Mahmud Ahmadinejad.
Entre outras relações bilaterais de interesse econômico, os laços da Alemanha com os países produtores de petróleo da Península Arábica também são prioridade do governo social-democrata e verde. O premiê alemão chegou a visitar os países do Golfo e a Arábia Saudita duas vezes em pouco tempo. Durante as visitas, aventaram-se diversos projetos bilaterais, mas – como de costume – pouca coisa foi concretizada.