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Novo presidente ucraniano tem missão de levar consenso a país dividido

Roman Goncharenko (av)26 de maio de 2014

Eleito já no primeiro turno, bilionário Petro Poroshenko promete retorno da Crimeia à Ucrânia, adesão em breve à UE e solução para o leste separatista. Em relação a Moscou, um discurso de vitória cauteloso.

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Petro Poroshenko (e) e Vitali KlitschkoFoto: SERGEI SUPINSKY/AFP/Getty Images

A festa irrompeu no centro de imprensa da elegante galeria de arte Mystezki Arsenal, em Kiev, quando, às 20h (hora local) deste domingo (25/05), naquele mesmo prédio, o bilionário Petro Poroshenko anunciou: "A Ucrânia tem um novo presidente."

A notícia não foi uma surpresa. Nas pesquisas de opinião, há meses o candidato estava à frente de sua principal adversária, a ex-primeira ministra Yulia Timoshenko. Embora ainda não haja resultados oficiais, as pesquisas de boca de urna de diversos institutos apontam a vitória de Poroshenko já no primeiro turno, com até 55% dos votos. Segundo as mesmas sondagens, Timoshenko, que já admitiu sua derrota, teria obtido apenas 12%.

Após o anúncio da vitória, o empresário não ocupou o palco sozinho por muito tempo e convocou seu maior apoiador, o político e campeão mundial de boxe Vitali Klitschko, eleito prefeito de Kiev, também no domingo. O novo presidente ucraniano enfatizou que trabalhará em colaboração com o ex-pugilista, que em março renunciou em favor dele a concorrer à presidência. No palco, ambos os nomes, "Poroshenko" e "Klitschko", apareciam com o mesmo destaque.

Velho "rosto novo" na política

Especialistas atribuem a fatores diversos a vitória de Poroshenko logo no primeiro turno. Segundo Volodymyr Paniotto, diretor do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (KMIS), o vencedor "é percebido como uma figura de consenso". Ele foi favorecido, afirma o especialista, tanto pelos votos do oeste e do centro da Ucrânia, de orientação pró-Ocidente, quanto do leste e o sul, onde predomina o idioma russo.

Além disso, o candidato do SDPU conseguiu convencer a muitos com sua mensagem: a Ucrânia, há três meses sob governo interino, precisa de um presidente legítimo já. Por fim, acrescenta Paniotto, ele conseguiu se apresentar como um novo rosto na política ucraniana – embora, na realidade, não o seja.

Poroshenko atua nesse campo, o mais tardar, desde a assim chamada Revolução Laranja de 2004. Na época, apoiou o candidato pró-ocidental, Viktor Yushchenko, de quem é amigo íntimo e em cujo governo foi chefe do Serviço de Segurança e ministro do Exterior.

Sob o sucessor de Yushchenko, o pró-russo Viktor Yanukovytch, Poroshenko também chefiou o Ministério da Economia. Além disso, ele é o que na Ucrânia se denomina um "oligarca": entre outras empresas, é proprietário do consórcio de doces Roshen, ao que deve o apelido "Rei do Chocolate".

Crimeia, separatistas e Putin

Präsidentschaftswahlen in der Ukraine 25.05.2014
Veículos militares na Praça da Independência de KievFoto: DW/V. Mixich

Contudo nada disso prejudicou o bilionário de 48 anos, explica o cientista político ucraniano Olexiy Haran: "O importante é que, desde o início, ele estava na Maidan [Praça da Independência de Kiev, foco dos protestos anti-Yanukovytch]". O movimento que forçou o presidente pró-Moscou a bater em retirada exigia novos rostos, e acabou aceitando Poroshenko, resume o especialista.

Na noite das eleições, o futuro chefe de Estado agradeceu por esse fato e prometeu que será um "presidente de todos os ucranianos" – inclusive da península da Crimeia, anexada pela Rússia em março, e das regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, no leste do país. Nessas duas províncias, os ativistas pró-russos sabotaram com violência o escrutínio de domingo, impedindo grande parte da população de votar. Nesta segunda-feira, o aeroporto de Donetsk foi tomado por forças separatistas, e os militares pró-Kiev tentam retomar seu controle.

Petro Poroshenko prometeu visitar em breve para a Bacia de Donets (Donbas) e se ocupar das preocupações e desejos dos habitantes dessa região mineradora separatista, na fronteira com a Rússia. Lá, exemplificou, o idioma russo deverá receber um status especial, mas sem se tornar segunda língua oficial, ao lado do ucraniano.

Ele prometeu, ainda, reconquistar a Crimeia e promover em breve a adesão da Ucrânia à União Europeia. Em seu discurso de vitória, Poroshenko foi intencionalmente cauteloso com qualquer crítica a Moscou, e afirmou que estará disposto a colaborar com o chefe do Kremlin, Vladimir Putin.

Maidan vazia

Segundo observadores, um grande desafio para o novo presidente da Ucrânia será sua relação com o Parlamento, o Verkhovna Rada. De acordo com a Constituição nacional, o primeiro-ministro tem mais poderes do que o chefe de Estado, e, através de uma reforma constitucional, o governo do premiê Arseni Yatsenyuk pretende cercear mais ainda as competências do presidente, que se tornaria, antes, uma figura simbólica.

O Rada é quem decide se Yatsenyuk permanecerá na chefia do governo. Poroshenko pressiona por eleições legislativas para breve, enquanto o atual grêmio parlamentar quer se manter até 2017. Assim, segundo analistas, agora é a hora de o futuro presidente provar sua capacidade de alcançar uma solução de compromisso.

O magnata abriu mão de se apresentar logo na noite de domingo na simbólica Praça da Independência de Kiev. Permaneceu vazio o palanque em que, no inverno passado, ele prometeu um futuro melhor para os ucranianos. Somente alguns jovens ocupavam as tendas ao lado das barricadas – e não demonstravam alegria pela vitória de Poroshenko.

"O que é que há para festejar? O país continua à beira do abismo", comenta o rapaz de cerca de 20 anos. Ele adverte: se o novo presidente não fizer o que os ativistas da Maidan exigem, também ele vai ser derrubado pelos protestos, como Yanukovytch. Mas disso, Petro Poroshenko também sabe.