Escolha certa?
20 de novembro de 2009A nomeação do primeiro-ministro belga, Herman van Rompuy, para presidente da União Europeia e da comissária europeia do Comércio, a britânica Catherine Ashton, para o cargo de alto representante para Negócios Estrangeiros e Políticas de Segurança causou reações controversas na política e na opinião pública internacionais.
Entre os líderes dos maiores países da UE, as escolhas realizadas na última quinta-feira (19/11) foram vistas com satisfação e contentamento. Os Estados Unidos, principal parceiro comercial e militar do bloco, também encararam as indicações como um bom sinal para o futuro das relações políticas entre o bloco e o país.
"Os Estados Unidos não têm um parceiro mais forte que a Europa no avanço da segurança e da prosperidade no mundo", afirmou o presidente norte-americano Barack Obama. Ele acrescentou que as indicações para os postos mais altos do bloco "fazem da Europa um parceiro ainda mais forte".
No entanto, para a oposição alemã e a imprensa internacional, as nomeações de Van Rompuy e Ashton foram medíocres, já que ambos não possuem grande visibilidade política.
Boas vindas de Berlim
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, deu boas vindas ao novo presidente da UE e à nova representante para políticas externas do bloco, enfatizando a experiência de ambos na construção de coalizões políticas.
Segundo o porta-voz de Merkel, Cristoph Steegman, a chanceler federal afirmou ter total confiança em Van Rompuy e Ashton e estar convencida de que eles farão um bom trabalho.
Para Merkel, o primeiro-ministro belga já demonstra suas habilidades há tempos em sua larga carreira política. "Nos países da Benelux [Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo], Van Rompuy desfruta de um respeito muito grande", elogiou a chanceler. Sobre Ashton, Merkel declarou que a comissária possui uma grande capacidade e é adequada para o cargo.
Da Rússia, o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, disse que os futuros presidente e encarregada da política externa do bloco são "figuras competentes" para os cargos e que podem contar com o apoio da Alemanha para os futuros desafios.
Decisão agrada também Portugal, França e Inglaterra
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, também se mostrou contente com as indicações feitas em Bruxelas, afirmando que seria impossível encontrar uma escolha melhor para a liderança da União Europeia.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, descreveu as nomeações de Bruxelas como "uma decisão muito sábia". Ele também apontou a importância de eleger um presidente que venha "de um país importante, mas não um dos mais importantes, para que ninguém se sinta excluído".
Embora tenha apoiado previamente o seu antecessor Tony Blair, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, ao final consentiu com a escolha de Van Rompuy para presidente. Foi a concordância de Brown com o nome de Ashton para o cargo de alta representante da políticas externa, abrindo mão da candidatura de Blair, que deixou o caminho livre para o primeiro-ministro belga.
Na opinião de Brown, ter Ashton na chefia da diplomacia europeia "garante que a voz da Grã-Betanha seja ouvida em alto e bom som. Isso também garante que nós continuemos – o que quero para a Grã-Betanha – no coração da Europa".
Oposição critica ferozmente indicações
Os partidos de oposição alemães, no entanto, consideraram a decisão tomada em Bruxelas medíocre, já que esta seria uma oportunidade de dar maior visibilidade para o bloco no cenário internacional.
De acordo com a chefe de bancada parlamentar do Partido Verde da Alemanha, Renate Künast, perdeu-se mais uma vez a chance de dar à UE um rosto forte, tanto interna como externamente.
"A decisão dos membros não foi um sinal de que a Europa se posicionará fortemente seja em Washington, seja em Moscou, seja em Pequim", criticou Künast.
O partido A Esquerda também se demonstrou insatisfeito com as escolhas, alegando que nenhum dos novos representantes se posiciona a favor de uma nova política.
O primeiro secretário do partido, Alexander Ulrich, afirmou que, como encarregada dos assuntos de políticas externas e como vice-presidente, Ashton atuaria como uma "serva de dois senhores".
Mr. and Mrs. Nobody
A imprensa também se mostrou extremamente cética e crítica em relação às escolhas dos líderes europeus. O artigo da revista alemã Der Spiegel intitulado "Europe chooses Nobodies" (Europa escolhe zé-ninguéns), ressalta que os líderes do bloco não têm motivos para se orgulhar das indicações realizadas em Bruxelas, pois com a criação dos novos cargos "a Europa deveria ganhar novo peso no cenário mundial e exibir unidade e confiança em si mesma. Em vez disso, os líderes do bloco escolheram dois zé-ninguéns para representar a UE".
Para o jornal espanhol El País, a indicação de duas pessoas desconhecidas para os cargos mais importantes do bloco "aumentará a distância entre os cidadãos e as suas instituições".
Além disso, o jornal ainda afirma que a União Europeia está dançando de acordo com a música do Reino Unido, o que seria um sinal ruim, "já que o país não é membro nem da zona do euro nem do Tratado de Schengen".
Autor: JBN/mrh/dpa
Revisão: Alexandre Schossler