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"Não há solução militar para o Oriente Médio"

Bernd Riegert (av)9 de agosto de 2006

Para Marc Otte, encarregado da UE para o Oriente Médio, o fim do conflito no Libano só se dará através de cooperação e integração, pois numa guerra não há vencedores. A Deutsche Welle conversa com o especialista.

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Na hora da reconstrução as verbas da UE serão bem-vindasFoto: picture-alliance/ dpa

Há três anos o político belga Marc Otte viaja pelo Oriente, como enviado especial da União Européia. Ele dispõe de conhecimentos precisos sobre a região e bons contatos com os líderes políticos locais. Embora não tão bem-vinda quanto suas verbas, a influência política da UE está crescendo, afirmou o encarregado à DW-RADIO.

Em sua opinião, a crise no Líbano volta a demonstrar que não há solução militar possível para os conflitos mais profundos entre Israel e os Estados árabes. Otte porém não arrisca um prognóstico sobre quanto tempo ainda durarão os choques entre as Forças Armadas israelenses e a milícia Hisbolá.

"Ninguém 'vence' uma guerra. A guerra é sempre perdida, pois sempre significa morte e destruição. Na Europa já tivemos essa lição dolorosa."

Marc Otte apela para que cessem o mais rápido possível as operações bélicas. Independente da resolução da ONU a respeito, ainda não se preencheu a primeira condição para um cessar-fogo: a anuência dos partidos envolvidos.

"As hostilidades precisam terminar. Não se encontrará nenhuma solução sem o fim das lutas. Isto inclui a libertação dos soldados seqüestrados e o desarmamento do Hisbolá. Na Europa predomina o ponto de vista unânime de que não existe uma saída militar."

Disposição a ajuda financeira

Em suas numerosas viagens de mediação pelo Oriente Médio, contudo, Otte constatou que a visão européia da situação não é de forma alguma compartilhada por todos os envolvidos. Em sua opinião, é preciso paciência: serão necessárias décadas, e não apenas anos, para que se pacifique a região.

"Talvez esta tragédia leve a compreender que não há uma solução militar. Para a UE isso significa que precisamos mostrar, a partir de nossa experiência e história, que a solução dos conflitos a longo prazo só virá através de cooperação e integração. Para tal precisamos fornecer as ferramentas."

A UE continua disposta a cooperar com o Líbano, Israel, Síria e outras instâncias decisivas, prossegue Otte. Ele também tem plena consciência de que após o atual conflito a ajuda financeira do bloco europeu voltará a ser solicitada para a reconstrução das casas, pontes e ruas destruídas.

"Há uma prontidão extrema por parte dos europeus em disponibilizar os meios financeiros para a reconstrução e para uma solução não-militar, como já foi o caso no passado."

Palestina é prioridade

Do ponto de vista político, a União Européia só poderá ter influência a longo prazo apresentando seu modelo de integração como via para a paz. A solução do conflito na Palestina é uma chave para o apaziguamento estável na região.

O roadmap internacional – o plano para a paz que prevê um Estado palestino autônomo dentro de fronteiras seguras – tem que ser ressuscitado, crê o encarregado da UE para o Oriente Médio.

"Ninguém força ninguém a qualquer coisa, só se pode aconselhar. Se superarmos esta crise no Líbano, há, acredito, uma boa chance de as forças políticas palestinas chegarem a um consenso sobre um programa de governo aceitável. Este seria a base para uma cooperação completa com a comunidade internacional."

O governo radical do Hamas precisa reconhecer Israel e iniciar negociações de verdade. Israel tem que devolver aos palestinos territórios contíguos na Cisjordânia, não apenas "ilhas" em terras ocupadas.

O resultado último deveria ser o fim da ocupação israelense. Marc Otte não arrisca citar um prazo, porém para as pessoas nos territórios palestinos é vital ter um horizonte político concreto.