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"Não vou fazer política contra os refugiados", diz prefeito

Carsten Grün (av)16 de setembro de 2016

Após confronto entre migrantes e extremistas na cidade no leste da Alemanha, prefeito dialogou com cidadãos. Em entrevista à DW, ele fala de medidas contra incidentes futuros e das consequências para a imagem de Bautzen.

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Prefeito Alexander Ahrens, de Bautzen
Prefeito Alexander Ahrens não descarta perdas econômicas para Bautzen após episódio violentoFoto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert

Situada no estado da Saxônia, no leste da Alemanha, Bautzen tem pouco menos de 40 mil habitantes. Além de contar com um centro histórico medieval muito bem conservado, ela é conhecida por abrigar o antigo presídio da Stasi, o serviço secreto da antiga Alemanha Oriental.

Na noite desta quarta-feira (14/09), cerca de 20 requerentes de asilo e 80 alemães e alemãs, em grande parte militantes da extrema direita, se confrontaram na praça Kornmarkt. Os policiais que tentaram intervir foram, por sua vez, atacados e responderam com cassetetes e sprays de pimenta.

Bautzen tem sido palco de incidentes xenófobos nos últimos meses. Em fevereiro, um incêndio danificou um antigo hotel que estava sendo preparado para receber refugiados. Em março o presidente Joachim Gauck foi ofendido durante uma visita para discutir a crise dos refugiados com os moradores.

O prefeito de Bautzen, Alexander Ahrens, é berlinense e apartidário. Vivendo lá desde 2008, ele diz se sentir cidadão local por convicção. Após o mais recente episódio violento, ele foi às ruas dialogar com a população, inclusive cidadãos aparentemente pertencentes à extrema direita. E se prepara para novos choques: grupos radicais anunciaram manifestações contra os migrantes neste fim de semana.

DW: Os recentes confrontos entre refugiados e moradores em Bautzen o surpreendem?

Alexander Ahrens: Sim, de fato, fiquei surpreso pela dimensão. É verdade que antes, na praça do mercado, houvera várias histórias prévias, em pequena escala, com insultos e altercações entre refugiados e alemães. Mas foram todas situações dentro do limite de tolerância, e a Justiça não precisou intervir. Por outro lado, se notava que os incidentes iam se acumulando.

Consta que até 80 indivíduos de extrema direita teriam participado dos conflitos. Eles são todos de Bautzen?

Fiquei chocado com o grau de organização dessas pessoas e sua grande disposição à violência, que redundou em uma ambulância ser apedrejada. Mais tarde, a polícia me comunicou que vários direitistas que participaram dos choques partiram em carros com placas de outros locais.

Grande mobililização na praça Kornmarkt de Bautzen, durante choques entre migrantes e locais
Grande mobililização na praça Kornmarkt durante choques entre migrantes e locaisFoto: picture-alliance/dpa/Xcitepress

Grupos de extrema direita anunciaram que planejam novas ações para o próximo fim de semana. Como a cidade está lidando com isso?

Haverá seguramente maior presença policial, e os refugiados também terão apoio de assistentes sociais que fazem trabalho de rua. Eu também gostaria que o toque de recolher fosse suspenso e que os jovens refugiados voltassem a poder sair à rua. Quando assumi a prefeitura, declarei que não faria política contra os refugiados – e ainda sustento isso até hoje.

Após os incidentes, o senhor foi até os cidadãos na praça do mercado e discutiu com eles lá. Como se sentiu, como o trataram? A pessoa sente medo, numa situação assim?

Num caso desses, eu basicamente não tenho medo. Discuti objetivamente com gente que, a julgar por seu comportamento e roupas, parece pertencer à extrema direita. Várias vezes eu escutei deles que não se veem, absolutamente, como direitistas: eles só não querem refugiados. Só que, claro, isso não vai acontecer. Eu disse claramente que não vamos tolerar eles tomarem os destinos [dos outros] nas próprias mãos.

Mas estou sempre disposto a conversar. Só no meu horário oficial de atendimento aos cidadãos já fico disponível cinco horas por semana. Muitos me manifestaram respeito, me dizendo na cara que eu tinha muita coragem de ir lá e me confrontar com eles.

Sua esposa é policial, portanto o senhor tem penetração nos procedimentos da polícia. É comum ouvirem-se críticas ao procedimento em relação ao extremismo de direita nas cidades do Leste Alemão. Muitas vezes se escuta a acusação de que a polícia é cega do olho direito. Como vê tais acusações?

Só posso dizer que elas não valem para a polícia como um todo. Com certeza há casos em que é assim. Aqui em Bautzen, isso definitivamente não vale para o delegado e seus colegas.

O que tais explosões de violência significam para uma cidade como Bautzen, também em relação ao desenvolvimento econômico? Isso pode assustar investidores?

Na Alemanha sabe-se muito pouco sobre Bautzen, só se pensa na prisão da Stasi. Bautzen tem alto grau de engajamento dos cidadãos. A cidade é livre de dívidas, alcançou até mesmo superávit, e na região do leste da Saxônia tem uma espécie de papel de fanal. Ela é considerada uma das cidades medievais alemãs mais belas e bem conservadas.

Mas, com ações como a desta semana, não se fez nenhum favor a Bautzen. Como isso se refletirá na sua imagem e junto aos investidores, ainda não posso dizer. Mas nos próximos dias tenho conversas marcadas com investidores em potencial, e aí vamos ver como são as repercussões.