Não é bem assim...
27 de novembro de 2002No caso de um ataque ao Iraque, a Alemanha não restringirá aos Estados Unidos e aos demais aliados da OTAN o direito de trânsito e de uso das bases militares em seu território. Isto foi anunciado em Berlim pelo chanceler Gerhard Schröder, que também informou às bancadas parlamentares a intenção de Berlim de atender a solicitação do governo israelense, fornecendo mísseis do tipo Patriot e veículos blindados de transporte Fuchs.
Num detalhe, porém, Schröder manteve-se firme: as unidades militares alemãs, atualmente estacionadas no Kuwait no âmbito da operação Enduring Freedom (Paz Duradoura), não estarão à disposição para ações relacionadas com o conflito do Iraque. O mandato dessas tropas e dos tanques Fuchs, por elas operadas, permanecerá restrito à luta contra o terrorismo internacional.
Pisando em ovos
Os apuros do chanceler alemão são ainda um resquício da atribulada campanha eleitoral, em meados do ano. A fim de contentar eleitores potenciais do segmento pacifista na sociedade alemã, os partidos da coalizão governamental de Berlim distanciaram-se explicitamente da política americana para o Iraque. Sem considerar compromissos formais ou morais, seja com os aliados americanos ou – por razões históricas – com Israel, Schröder refutou terminantemente qualquer envolvimento alemão, direto ou indireto, num conflito com o Iraque.
Passadas as eleições, Gerhard Schröder teve de retornar ao dia-a-dia da política internacional. Em primeiro lugar, veio a lenta e difícil reaproximação com Washington, lograda finalmente durante a conferência de cúpula da OTAN, em Praga, nos dias 21 e 22 de novembro.
Em seguida, o chanceler teve de buscar uma forma de responder positivamente às solicitações dos EUA e de Israel, sem perder a credibilidade. Pisando em ovos, o chefe do governo de Berlim procurou convencer os parlamentares e a opinião pública de que a sua negativa de um envolvimento num possível conflito do Iraque dizia respeito exclusivamente às tropas estacionadas no Kuwait.
"Déjà vu"
O constrangimento enfrentado agora pelos meios oficiais em Berlim poderia ter sido evitado. A mesma situação já foi vivida pela Alemanha no início da década de 90, por ocasião da intervenção militar contra o Iraque. Também naquela época, o governo de Israel solicitara o fornecimento de mísseis alemães do tipo Patriot, sendo prontamente atendido.
Mas o governo alemão recusou-se a atender outros pedidos israelenses – de baterias antiaéreas do tipo Stinger ou Hawk e de helicópteros militares. Não sendo armamentos de caráter exclusivamente defensivo, o fornecimento de tais sistemas foi considerado um desrespeito patente ao princípio de não vender armas a regiões de conflitos.
Para o governo alemão da época, isto não constituiu nenhum paradoxo, nem foi um problema de credibilidade. Afinal, não se tinha anunciado de antemão e peremptoriamente a intenção de não se deixar envolver, de maneira alguma, num conflito iminente.