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O agente funerário Fritz Roth, de Bergisch-Gladbach

18 de maio de 2010

Aceitar a morte faz parte da vida. Esta é a mensagem que Fritz Roth pretende repassar. O agente funerário de 60 anos se considera uma espécie de pastor das almas. E, mesmo sendo agente funerário, lida é com os vivos.

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O velório de hoje é especial para Fritz Roth

"A morte é algo pessoal"

É domingo e, como acontece diversas vezes, Fritz Roth se encontra em um funeral. Só que desta vez é diferente: ele está velando alguém que lhe foi muito próximo.

Fritz é natural da Renânia, uma região no oeste da Alemanha. Ele dirige a funerária Pütz-Roth, na cidade de Bergisch-Gladbach, há mais de 25 anos. Ser agente funerário é uma vocação, diz.

Seu estabelecimento é conhecido muito além daquela região. "É importante para mim manter um relacionamento natural com a morte e o luto", argumenta. Este fato o motivou a criar o primeiro cemitério privado da Alemanha.

O quintal da agência funerária é muito bem cuidado, se assemelhando a um hotel-fazenda. E o entusiasmo de Fritz é perceptível: acompanhar as pessoas de luto para além do funeral.

"Quero encorajar as pessoas a entender a morte", diz Roth, que se vê como um "pastor das almas". O que tem a ver com sua história de vida.

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'Quero encorajar as pessoas a entender a morte'Foto: DW

A primeira experiência

Quanto Fritz tinha dez anos, missionários católicos deram a ele o gosto por uma vida no mosteiro. Influenciaram sua entrada contando que lá existia uma piscina e um campo de futebol.

Fritz passou nove anos em um mosteiro na comunidade holandesa de Steyl. Ele sempre se entusiasmou com novas idéias. Mas uma vida sacerdotal no celibato não estava em seus planos.

Após a temporada no mosteiro, estudou administração de empresas em Colônia, na Alemanha. Seu sogro havia contado que um velho amigo procurava um sucessor para sua agência funerária. E já foi dizendo ao velho amigo que o genro a assumiria com gosto.

Neste domingo, fecha-se um ciclo. Pois o homem que Fritz está sepultando no cemitério é justamente seu sogro - a pessoa que o transformou num agente funerário.

"É um dia especial para mim, porque tudo o que quero mudar no modo como as pessoas vivem o luto se voltou para mim mesmo, com a minha própria tristeza."

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Entes queridos expressam seus sentimentos por meio da arteFoto: DW

A criação

O agente funerário nasceu em 1949 na pequena fazenda dos pais. Ser o único rapaz – irmão de quatro meninas – foi para ele como ganhar na Mega-Sena, conta Fritz.

Toda a família o bajulava e mimava. A sua avó lhe realizava todas as vontades. Mas ela morreu quando Fritz tinha seis anos de idade, proporcionando uma experiência única ao rapaz. "Eu podia segurar a mão da minha avó mesmo depois de morta", conta, de certa forma contente.

Foi assim que ele entendeu a morte: a partir daí, nunca mais ela iria lhe preparar um chocolate quente ou um pudim. Neste instante, Fritz captou a diferença entre a vida e a morte.

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'A morte é algo pessoal', diz FritzFoto: DW

As crianças e a morte

Para ele, ainda hoje é interessante ver como as crianças percebem o luto. "Primeiro elas mostram seus sentimentos e gritam 'Eu quero a minha mãe'. Depois se viram e dizem algo como: agora eu quero um sorvete!"

A morte fez parte da infância de Fritz mais de uma vez. Quatro irmãozinhos morreram na hora do parto. Mas foi também na pequena propriedade no interior, onde os pais criavam galinhas, porcos e vacas, que Fritz experimentou a felicidade. "Uma sensação de segurança. Fazíamos as refeições todos juntos numa grande mesa. Eu subia nos ombros do meu pai. Ele também tinha uma careca, como eu. E nos contava histórias."

A influência paterna

O pai tinha uma grande paixão por assuntos culturais. Durante passeios pelas florestas da região, lhe falava de castelos e narrava contos de fadas. "Esta fantasia e o amor pela arte, eu herdei dele", complementa Fritz. "A arte nos presenteia com imagens. Com ela, podemos expressar o que é difícil de entender". Como a vida – ou a morte.

Fritz Roth está convencido de que a sociedade moderna precisa de mais espiritualidade. Questionado sobre o que exatamente quer dizer com isso, ele responde: "A morte é algo pessoal".

E cita um trecho do poema Memento, da poetisa alemã de origem judaica Mascha Kaléko, que em tradução livre que dizer: "A própria morte, somente se morre. Mas com a morte dos outros precisamos viver".

Autor: José Ospina-Valencia (br)
Revisão: Rodrigo Rimon