1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

O comércio ilegal de passaportes sírios

Anne-Sophie Brändlin / Mulham Al-Malaika (fc)20 de novembro de 2015

Em meio à crise de refugiados, muitos que desejam se estabelecer na União Europeia buscam maneiras de aumentar chances de obter asilo no bloco. Página no Facebook vende documentos sírios falsos.

https://p.dw.com/p/1H9oi
Foto: picture-alliance/dpa/D. Reinhardt

Há atualmente cerca de 20 milhões de refugiados em todo o mundo. Até agora, esse é o maior número da história. Sobrecarregada por conta do fluxo de migrantes, a União Europeia (UE) tem deixado claro que os migrantes que se dirigem ao continente em busca de trabalho não vão ter o asilo concedido. Somente os considerados "refugiados políticos" ou "refugiados de guerra" vão ter a chance de ter seus pedidos aprovados.

A Alemanha, por exemplo, criou recentemente uma lista de "países de origem seguros", o que significa que refugiados não são vistos como "merecedores" do status de requerente de asilo quando seu país de origem é percebido como seguro suficiente para viver. A lista, atualmente, inclui todos os membros da União Europeia, três países dos Bálcãs e, ainda, Gana e Senegal.

Já refugiados de países devastados pela guerra, como a Síria, são vistos como "refugiados políticos" e recebem um tratamento preferencial. Isso significa que eles têm uma boa chance de receber asilo. De fato, muitos países da UE se comprometeram a acolher mais refugiados sírios nos próximos anos.

É por isso que cada vez mais contrabandistas colocam à venda passaportes sírios nas mídias sociais. Eles têm como alvo os refugiados do Oriente Médio ou Norte da África que falam árabe, são atualmente refugiados econômicos, mas que procuram documentos para que autoridades acreditem que eles são refugiados de guerra da Síria.

Uma das maneiras mais fáceis de obter tais documentos falsos é através de uma página no Facebook chamada اللجوء الى المانيا, que em árabe significa "Asilo na Alemanha" (veja imagem acima).

Screenshot Facebook EINSCHRÄNKUNG
Página no Facebook vende passaporte sírio falso por 1.500 dólaresFoto: facebook.com

O mais provável é que a página no Facebook tenha sido criada na Turquia, já que a maioria dos anúncios que aparece é de táxis em Istambul. Não está claro porque a foto da capa mostra um ícone da Federação Alemã de Futebol – talvez para tentar dissuadir o verdadeiro conteúdo da página ou por falta de conhecimentos de alemão.

De qualquer forma, a página, que foi criada em abril de 2015 e tem quase 11 mil seguidores, oferece dicas e truques para refugiados, como números de telefone das guardas costeiras da Grécia, Turquia, Itália e Malta e, ainda, qual a melhor forma de encontrar uma esposa na Suécia.

Um dos posts mais surpreendentes, no entanto, oferece abertamente documentos sírios falsos. A publicação parece ser direcionada a sírios que já chegaram à Turquia e têm problemas com o regime, o que torna difícil para que eles recebam sua papelada, tais como documentos universitários e passaportes. Mas os passaportes falsos também podem ser comprados por cidadãos não sírios. Conforme o post, um diploma de bacharel forjado está disponível por 100 dólares. Já um novo passaporte, por 1.500 dólares.

Todos os documentos em oferta possuem, de acordo com o texto, um carimbo oficial de autenticidade do Ministério do Exterior da Síria – os selos também parecem ser falsos.

É por isso que a mensagem no Facebook salienta que nenhum dos documentos estão arquivados em embaixadas sírias e que o receptor dos itens falsos nunca deve mostrá-los à autoridade sírias. Os documentos devem apenas ser usados para cruzar países europeus, que, de acordo com a página, não serão capazes de perceber a diferença.

Na parte inferior da mensagem, há a informação de que se deve contatar um homem chamado Samer em caso de qualquer problema. Aparentemente, é possível contatá-lo via Viber e Whatsapp.

Dicas e truques para refugiados

A página oferece também dicas sobre como se comportar quando participar da entrevista durante o processo de requerimento de asilo. Essas dicas incluem ser forte e confiante, mas não arrogante, ser paciente e não parecer nervoso, ter certeza de que a sua história é idêntica à de seus familiares, ser preciso nas respostas e não respondê-las com muitos detalhes e, por último e não menos importante: manter sempre um sorriso no rosto.

Screenshot Facebook EINSCHRÄNKUNG
Página também apresenta dez passos a serem seguidos em entrevistasFoto: facebook.com

Há até mesmo um mapa da Alemanha que lista todas as cidades e estados que são mais lenientes quando se trata da implementação do chamado Regulamento de Dublin e da verificação das impressões digitais dos refugiados que foram feitas no momento da chegada à Europa.

De acordo com o Regulamento de Dublin, um pedido de asilo tem que ser processado no país em que o refugiado ingressou na União Europeia. De acordo com o mapa, as cidades alemãs de Karlsruhe, Dortmund, Munique e Bremen são as mais propensas a ignorar as impressões digitais anteriores.

O fato de aparentemente ser tão fácil comprar um passaporte sírio não é apenas um problema para a União Europeia e a Frontex, a agência europeia de controle de fronteiras, mas também para os próprios refugiados sírios.

No pior dos casos, os passaportes sírios falsos vão prejudicar as chances de se obter asilo e, na melhor das hipóteses, vão fazer com que seus pedidos andem a passos lentos, já que as autoridades vão precisar de mais tempo para descobrir quem é realmente um cidadão sírio e quem comprou documentos falsos.