O controverso projeto do Monumento à Unidade Alemã
22 de agosto de 2018A queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, e a subsequente Reunificação da Alemanha é um dos acontecimentos mais importantes e comemorados no país. Em 2007, o Bundestag (Parlamento alemão) aprovou o projeto de um monumento nacional que visa celebrar esse momento histórico.
"A revolução pacífica do outono de 1989 e a restauração da unidade alemã" devem ser lembradas, afirma a resolução parlamentar. A coragem dos cidadãos da ex-Alemanha Oriental deve ser destacada, em primeiro lugar, por possibilitar a Reunificação com liberdade, diz o texto dos parlamentares.
Em muitos países, como Estados Unidos e França, a história nacional não é alvo de tantos debates como ocorre na Alemanha. O projeto para comemorar a reunificação da Alemanha com a construção do monumento em Berlim vem sendo amplamente contestado nos últimos dez anos – com críticas abrangendo de sua localização ao design da obra.
A discussão fez com que a questão da memória fosse transformada em jogo político. A isso somam-se os limites do interesse público, dificultando avanços na construção do memorial.
Isso poderá mudar nesta quarta-feira (22/08), quando a cidade-estado de Berlim conclui a venda do terreno onde será erguido o memorial para o governo federal, que comissionou o projeto. Isso removerá um dos maiores entraves à construção, mas as discussões sobre como comemorar a revolução pacífica da ex-Alemanha Oriental e a Reunificação seguem ofuscando as celebrações em torno do acontecimento histórico.
Design contestado e alto custo
Os planos para o chamado Monumento à Liberdade e à Unidade tiveram um início conturbado. O design do memorial, criado pela firma de arquitetura Milla und Partner e pela coreógrafa Sascha Waltz, tem formato de uma meia lua de 50 metros de comprimento.
Os visitantes poderão caminhar sobre o monumento e até movimentá-lo. Gravado na obra estará o cântico entoado pelos alemães do lado oriental durante os protestos pela Reunificação: "Somos o povo, somos apenas um povo".
Os criadores do projeto dizem que o monumento chamará bastante atenção. "Ele ganha vida quando as pessoas ali se reúnem, se comunicam e se movimentam em conjunto. É um convite à participação e uma imagem da democracia verdadeira", afirmam.
No entanto, as formas criadas com a intenção de ser um paralelo ao que de fato aconteceu em 1989 vêm sendo alvo de chacota, com alguns afirmando que se parece com uma gangorra, uma casca de banana ou uma tigela dourada.
A localização, no centro de Berlim, também vem sendo criticada. O monumento deve ser construído no local onde se encontra o pedestal de uma estátua equestre do imperador Guilherme 1º, em frente ao reconstruído Palácio da Cidade de Berlim.
"Há o que ocorreu em 1989, a queda do muro de Berlim. Há então a Reunificação alemã, que ocorreu em 1990. São coisas diferentes", afirma Annette Ahme, organizadora do grupo dos que se opõe ao monumento.
"Isso deveria ser sobre a unidade", acrescentou, justificando o motivo pelo qual defende que o memorial deveria ser erguido em frente ao edifício do Reichstag, sede do Bundestag, onde a Reunificação foi legalmente firmada.
O memorial deveria ter sido construído em 2013, mas os planos foram adiados quando os inspetores encontraram uma colônia de morcegos embaixo do antigo pedestal da estátua do imperador, fazendo com que os animais tivessem de ser realocados com segurança.
Depois, os azulejos da obra tiveram de passar por manutenção. Tudo isso fez com que o custo da obra aumentasse de 10 milhões para 17 milhões de euros. O projeto esteve por diversas vezes próximo de ser cancelado, até mesmo pelo Bundestag, que apenas voltou a aprovar o plano original em maio do ano passado.
A cultura da memoria na Alemanha
A ministra alemã da Cultura, Monika Grütters, que lidera o projeto, contribuiu para as incertezas ao questionar durante um debate sobre a cultura da memória se os alemães estão aptos a celebrar memórias que criam identidade em um sentido positivo.
Segundo afirmou, a criação de monumentos não ocorre de modo fácil no país. "Monumentos nacionais eram algo impensável desde 1945, em razão do sofrimento que a Alemanha causou na Europa e no mundo no século 20", afirmou.
O Memorial dos Judeus Mortos na Europa serve como exemplo das dificuldades que a Alemanha tem de aceitar com orgulho ou felicidade sua própria história de liberdade e democracia.
"É altamente simbólico que, após mais de dez anos de discussões e debates e competições envolvendo centenas de projetos e repetidas revisões daquele que foi selecionado, o Memorial dos Judeus Mortos na Europa tenha se tornado o memorial mais significativo em Berlim", disse Grütters.
Permanece, porém, a dúvida se o Monumento Nacional para a Liberdade e Unidade conseguirá alcançar esse mesmo patamar de simbolismo. Enquanto isso, começa a se esgotar o prazo para a obtenção de todas as licenças necessárias e para que a construção do memorial termine a tempo da data desejada, o dia 9 de novembro de 2019, que marcará o 30º aniversário da queda do Muro de Berlim.
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