O improvável charme de Davos como meca da economia mundial
21 de janeiro de 2014Pão de nozes do cantão suíço de Grisões, pão de pera de Davos e, naturalmente, o tradicional fondue de queijo suíço: o cardápio do Café Schneider oferece tudo o que o coração do turista possa desejar. Mas os numerosos jornalistas internacionais, que já de manhã cedo lá tentam conseguir um lugar à mesa de madeira, estão mais interessados é num posto para trabalhar.
Lugares de trabalho são artigo raro durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, que este ano acontece entre 22 e 25 de janeiro. No grande centro de imprensa, até o menor cantinho está ocupado. Os profissionais sentam-se no chão frio e digitam seus textos nos laptops, a velocidade máxima.
Um longo caminho, no frio glacial, leva do centro de conferências, onde se realiza a maior parte dos eventos, até os locais de trabalho. Quem tem sorte consegue um lugar num carro de golfe, geralmente pilotado por jovens suíços, americanos ou franceses, que oferecem uma carona para os jornalistas enregelados e carregados de bagagem pesada.
Do lado de dentro, veem-se ministros e presidentes de bancos centrais que erram pelas salas, à procura dos locais de transmissão ao vivo das emissoras de televisão, para darem as entrevistas combinadas. Mas também esse caminho é longo: muitas TVs querem ter como pano de fundo o belo panorama montanhoso de Davos, conhecida como local de esportes de inverno, e estão instaladas lá no alto, no terraço do centro.
Bênção para a economia local
A logística desta conferência gigantesca na localidade suíça a 1.560 metros de altura constitui uma tarefa hercúlea. Ninguém sabe quantos metros de cabos, quantas antenas parabólicas ou conexões seguras de internet estão instalados. Mas a técnica funciona miraculosamente, assim como a vigilância de segurança.
Bem antes de se chegar ao centro de conferências, vê-se os postos de controle. Apenas quem tem credenciamento pode sonhar em chegar perto dali. Então a ordem é despir os agasalhos e passar pelos raios X. O procedimento é democrático: a fila vale tanto para o banqueiro de investimentos quanto para o presidente da Anistia Internacional ou o oligarca russo. Quase todos transitam pela zona de segurança sem guarda-costas, pois estes não recebem credencial.
As Forças Armadas suíças também se encarregam de isolar Davos em grande escala, e os moradores suportam a situação com tranquilidade estoica. Não é para menos: mesmo com oferecendo hospedagem mais modesta, eles podem lucrar muito nos dias do Fórum Econômico Mundial. Um apartamento de um quarto no estilo da década de 1960, coberto de papel de parede desbotado, custa pelo menos 400 francos suíços (324 euros, ou cerca de R$ 1.000) por dia, com um contrato mínimo de sete dias.
E quem conseguir esse apartamento ainda pode se considerar feliz. Há poucos hotéis, as alternativas são cabines de esqui ou hospitais. Assim, muitas vezes os participantes do fórum são forçados a escoar para as cidades vizinhas, o que implica longas viagens, com inúmeras paradas em postos de controle.
O trajeto pelas pistas cobertas de gelo escorregadio das montanhas suíças não é para todos. Quem não tem correntes de neve para os pneus, não precisa nem tentar. Mesmo com os preços estratosféricos cobrados pelos taxistas, a demanda sempre suplanta a oferta.
Chá com Bill Clinton
Por que, apesar de tudo, todos continuam viajando até Davos? Bem, parte do charme está justamente em sua localização isolada. Em nenhum outro lugar do mundo é possível encontrar tantos lideres econômicos, políticos, banqueiros e representantes de organizações não governamentais.
Por isso, a cada ano, jornalistas entram no Café Schneider; ficam felizes em ver Bill Clinton tomando chá. Depois, atravessam a rua, cumprimentam Tony Blair; e veem o presidente colombiano Juan Manuel Santos correndo apressado para o centro de conferências.