O que RB Leipzig, Bayern de Munique e Borussia Dortmund têm em comum? É simples. Os três já enfrentaram o Union Berlin na atual temporada e não conseguiram sair do icônico estádio "An der alten Försterei" ("Na antiga guarda florestal", em tradução livre) com uma vitória na bagagem.
Logo no começo do campeonato, na terceira rodada em fins de agosto, o Union recebeu o Leipzig e venceu por 2x1. Duas semanas depois, foi a vez dos bávaros fazerem uma visita aos berlinenses: tiveram que se contentar com um empate (1x1). E agora, domingo último, um Borussia Dortmund, recheado de talentos indiscutíveis, sucumbiu diante dos "ferreiros". Ao apito final do juiz, o placar analógico à moda antiga anotava Union 2x0 Visitantes.
"Ninguém consegue impedi-los"
Os dados estatísticos que determinam o jogo ativo e dominante de um time mostram, para espanto geral de comentaristas esportivos, que os números do Union estão muito abaixo da média dos 18 clubes da Bundesliga.
No que se refere à posse de bola, por exemplo, os comandados do técnico Urs Fischer se contentaram com apenas 23%, de acordo com a tabela do prestigioso portal kicker. No quesito índice de passes precisos, outra surpresa: apenas 60% dos passes berlinenses chegaram ao seu destino, enquanto que os aurinegros do Dortmund registraram um alto percentual de 88%.
Nem nas finalizações certas ao gol o Union levou vantagem: foram cinco contra seis do Borussia. No quesito que interessa, porém, o clube da capital alemã levou vantagem – marcou dois gols enquanto seu oponente ficou de mãos abanando.
Dito isso, cabe perguntar: qual é afinal o segredo do atual líder da Bundesliga? De fato, não tem segredo. Todo mundo sabe como o Union joga. O próprio técnico do Borussia, Edin Terzic, acertou na mosca quando afirmou logo depois da partida: "Todos sabem o que eles fazem, mas ninguém consegue impedi-los". Algumas semanas antes, Julian Nagelsmann, do Bayern, e o então técnico do Leipzig, Domenico Tedesco, haviam chegado à mesma conclusão.
O que caracteriza o jogo do Union Berlin?
Basicamente, trata-se de uma forma de jogar concentrada e disciplinada, onde o coletivo prevalece sobre o individual. É um estilo de jogo que dá corda ao adversário à espreita de um erro que imediatamente é punido sem piedade.
Foi assim no primeiro gol, quando o goleiro aurinegro Gregor Kobel inadvertidamente escorregou na tentativa de afastar a bola da grande área, fatalidade da qual se aproveitou Janik Haberer para marcar aos oito minutos de partida.
Pouco depois, o jovem talento aurinegro Karim Adeyemi perdeu infantilmente uma bola no meio de campo, dando ensejo a um ataque fulminante que resultou no segundo gol berlinense, novamente através de Haberer. Eram decorridos apenas 21 minutos do primeiro tempo.
Union Berlin estressa adversários
Jogar contra o Union Berlin equivale a um "stress test", ou teste de estresse. "Conseguimos estressar o Borussia", afirmou Urs Fischer, técnico do Union, depois do jogo. Seus comandados não estressaram apenas o Dortmund, estressam qualquer um por sua forma inusitada de jogar levando o adversário ao limite de sua competência.
Não dão a mínima para posse de bola, precisão no passe ou quantidade de finalizações. Priorizam, antes de mais, a ocupação de espaços. Felix Magath, técnico de longa história no futebol alemão, dizia que um jogo de futebol se parece com um jogo de xadrez. Vence aquele que ocupa melhor os espaços impedindo assim a desenvoltura do jogo adversário.
Na atual temporada, não existe time mais desagradável de se enfrentar que o Union. Há momentos durante uma partida nos quais a equipe estende sua zona de pressão (pressing zone) sobre o oponente em quase todo o campo, sem dar sossego ao jogador adversário e procurando induzi-lo ao erro.
No decorrer de uma partida, seus jogadores alternam marcação por zona com marcação homem a homem, caçam a bola e o adversário com agressividade incomum, que lembra o futebol praticado por alguns times da Premier League.
Bem que o Borussia Dortmund tentou, especialmente na fase final do confronto, incomodar a defesa berlinense com seu máximo poder ofensivo: Brandt, Reus, Malen, Hazard, Reyna, Moukoko. Estavam todos lá, mas tudo o que conseguiram nos últimos vinte minutos do jogo foram três chances desperdiçadas – nenhum gol. A primeira finalização aurinegra na segunda etapa ocorreu faltando quinze minutos para o fim. Isso diz muito sobre sua impotência ofensiva.
Naquela altura do jogo, o Union já havia percorrido dez quilômetros a mais que o Borussia e esta estatística reforça outra característica da equipe comandada por Urs Fischer: o desempenho físico dos seus jogadores que não temem entrar em divididas nem correr o campo inteiro atrás da bola ou do adversário, sem firulas e sem inprodutivas demonstrações de habilidades individuais.
À medida que a partida chegava ao seu final, os torcedores do Union cantavam a plenos pulmões: "Union Berlin será campeão alemão". Cantavam eufóricos e de um jeito que pareciam mesmo acreditar na realização deste sonho utópico.
O técnico Urs Fischer ouvia atento o canto da torcida, mas como sempre, advertia: "Os fãs tem todo direito de sonhar, mas é um luxo que nós não podemos nos permitir". Talvez esse tipo de postura também seja um dos segredos do atual sucesso dos "ferreiros".