Às vésperas de completar 20 anos, em 12 de setembro de 2009, Thomas Müller entrou em campo pelo Bayern contra o Dortmund logo no começo do segundo tempo. Era o seu nono jogo na Bundesliga, nunca como titular e, também daquela vez, como coringa no lugar de Hamit Altintop. Naquele dia, ele marcou seus dois primeiros gols no campeonato alemão com tiros precisos de longe e sem defesa para Weidenfeller, o goleiro aurinegro. O jovem Müller era um joão-ninguém meio desajeitado naquele time de estrelas como Lahm, Schweinsteiger, Robben e Ribéry.
27 títulos e 21 anos e sete meses depois, aposentado forçosa e prematuramente da seleção alemã por Joachim Löw há dois anos, Müller volta a ser o centro das atenções no mundo do futebol alemão. Discute-se, dia sim e outro também, se já não está na hora de Löw rever sua decisão e reintegrar o jogador à Mannschaft especialmente após novo vexame. Desta vez foi diante da Macedônia do Norte – 65ª no ranking da Fifa – pelas eliminatórias da malvista Copa do Catar. Uma inesperada derrota da Alemanha colocou mais lenha na fogueira que alimenta diariamente a mídia esportiva local, pedindo, de um lado, a saída imediata do técnico e, de outro, a volta dos que Löw dispensou em março de 2019, como Hummels e Müller.
É possível afirmar com a maior tranqüilidade que, sob o comando de Hansi Flick, Thomas Müller, aos 31 anos, está na melhor fase de sua carreira. Não custa nada lembrar que durante a desastrada gestão de Niko Kovac, o "bávaro da gema" fora relegado ao banco de reservas, sendo utilizado apenas em casos de emergência. Na época, Phillipe Coutinho contava com as preferências do treinador.
Ao assumir, de bate-pronto Flick reconheceu o talento de Müller, que vai muito além dos meros fundamentos básicos de um profissional bom de bola. No setor defensivo, Neuer e Alaba são as vozes dominantes, e do meio de campo para frente quem dá as cartas são Kimmich e Müller.
Faltando ainda sete rodadas para o encerramento do campeonato, Müller participou, direta ou indiretamente, de 32% dos gols do Bayern – marcou dez e deu assistência para que 15 fossem feitos por seus colegas. É simplesmente o garçom mais eficiente do futebol europeu e, como todos sabem, na Europa jogam os melhores futebolistas do mundo.
Matthias Sammer, ex-jogador da seleção alemã, com a qual foi campeão europeu em 1996, e vencedor da Champions League em 1997 com o Borussia Dortmund, é categórico: "O futebol alemão não pode se dar o luxo de abrir mão de Thomas Müller, um líder bem aceito pelos colegas dentro e fora de campo".
Além do eventual retorno de Müller, Sammer defende também a volta de Mats Hummels caso esteja em excelente forma física: "Hummels pode ser aquela coluna mestra na linha defensiva da Mannschaft, um setor que tem mostrado falhas gritantes, como se viu frente à Espanha e, mais recentemente, diante do modesto time da Macedônia do Norte".
Com a reintegração de Müller no time nacional, Löw teria uma oportunidade concreta e sedutora de montar um setor do meio campo para frente formado predominantemente por jogadores do Bayern: Kimmich, Goretzka, Müller, Sané e Gnabry. É um conjunto talentoso que, dependendo do adversário, pode ser completado com Kroos, Gündogan, Havertz ou Werner. Nesse caso só falta um ou outro acerto no setor defensivo, e a Alemanha voltaria a ter uma seleção de respeito.
Quem acompanhou o jogo entre Leipzig e Bayern no último fim de semana viu do que Thomas Müller é capaz mesmo num time sem Robert Lewandowski, ausente por conta de uma contusão no joelho. Era talvez a última chance do time dirigido por Julian Nagelsmann de entrar na disputa pelo título. Para tanto, era preciso vencer. Oportunidades não faltaram, mas todas foram desperdiçadas.
Do outro lado, os bávaros não costumam perder chances claras de gol quando aparecem. A rigor, no primeiro tempo houve poucas para o Bayern, e uma foi muito bem aproveitada. Kimmich fez um longo lançamento pelo lado direito para Müller, que dominou a bola com perfeição, levantou a cabeça à procura de um companheiro, foi até a linha de fundo, levantou a cabeça novamente, viu Goretzka se infiltrando na grande área e cruzou. Goretzka acertou um míssil no canto superior direito, o que deu a vitória aos bávaros e, provavelmente, decidiu o título da temporada. E tudo isso em alta velocidade.
É uma combinação que eventualmente poderá ser vista na Eurocopa em julho, mas só no caso de Joachim Löw chamar Thomas Müller de volta à seleção, bem entendido.