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O medo reconstrói o muro?

(sv)8 de novembro de 2004

Quinze anos após a queda do Muro de Berlim, "Ossis" (orientais) e "Wessis" (ocidentais) traçam, sem resquícios da euforia inicial, um panorama desta década e meia sem divisão.

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Checkpoint Charlie: pedaço de Muro reerguido com "peças originais"Foto: dpa

Neste terça-feira, (9/11), a Alemanha celebra os 15 anos do fim do muro que dividiu o país durante 28 anos. As perguntas lançadas no ar pela mídia alemã nesta ocasião são várias: o que pensam os adolescentes de hoje, que poucas lembranças têm de uma Alemanha dividida? E os ativistas da antiga Alemanha Oriental, que foram às ruas pouco antes da queda do Muro, o que foi feito deles? E o Muro real, de concreto – cujos supostos restos foram espalhados em chaveiros por todo o mundo – deve ou não ser considerado patrimônio histórico da humanidade?

"Cidadãos de segunda classe"

Galerie Berliner Mauer: Die Westseite
Potsdamer Platz do passado: grafite por Berlim sem MuroFoto: AP

As questões que para os alemães, no entanto, parecem ser cruciais nesta data, estão ligadas às diferenças que persistem entre Ossis (orientais) e Wessis (ocidentais). O medo de uns e de outros frente à crise econômica, que está levando o país a cortar as regalias do Estado do bem-estar social. As formas de reação nos dois "ex-lados" frente a essas mudanças e os conflitos que elas acarretam. E talvez a ainda persistente sensação dos orientais de que seus compatriotas "do lado de lá" os consideram "cidadãos de segunda classe".

"Experiências vividas no Leste alemão valem pouco na Alemanha reunificada. Como filhos da RDA, os orientais foram intitulados depois da construção do Muro de o resto bobo. Isso suscitou um sentimento de que seriam cidadãos de segunda classe, que persiste até hoje. Embora os cinco Estados do Leste do país sejam tudo exceto desfavorecidos no que diz respeito à divisão das verbas oficiais", escreve o diário suíço Neue Zürcher Zeitung.

Evasão de jovens

Desde a reunificação alemã, fluíram somas em torno de 1,2 trilhão de euros rumo aos territórios da antiga Alemanha Oriental. Isso sem contar que a renda de metade da população local provém dos cofres públicos.

Após a queda do Muro, boa parte dos mais velhos fez uso da aposentadoria antecipada. Entre os jovens, as alternativas parecem ter sido duas: ou sair em direção ao oeste, mesmo que este não seja tão dourado quanto antes; ou render-se ao desemprego (que atinge na região 20% da população) e à ajuda social.

Contabilidade de erros e acertos

Galerie Berliner Mauer: Mauerfall
Comemorações no Portão de Brandemburgo: imagem que correu o mundoFoto: AP

Ou seja, uma vida de Alice no país das maravilhas está longe de ser realidade nesta Alemanha sem o Muro. O entusiasmo estampado nas imagens históricas do 9 de novembro de 1989 já foi há muito substituído por uma sobriedade que analisa o passado na ponta do lápis. Tantos por cento de desemprego, tantos bilhões de euros transferidos, um sem-número de preconceitos daqui, uma série de acusações acolá.

"A atmosfera que paira na Alemanha neste outono de 2004, uma década e meia após a queda do Muro e no ano um de uma séria reforma social, tem várias razões", enumera o semanário Die Zeit: "São os [empresários] que removem empregos para salvar a própria pele; o governo, que carece de um cuidado maior ao formular as leis; e também aqueles que agravam a crise, cujos olhos vêem a Alemanha se transformando no palco violento de uma catástrofe em termos de justiça social".

Pouca flexibilidade

Ou seja, situações que sacodem o chão de um país tão acostumado à segurança e à previsibilidade e tão pouco habituado ao que no Brasil se conhece como "jogo de cintura". De uma forma ou de outra, frente à dramaturgia das reformas no palco político, a sensação, segundo o Die Zeit, é de um medo generalizado.

"Não só o trabalhador tem medo, não apenas o desempregado e aquele que recebe ajuda social, mas hoje em dia até o médio empresário, a antiga e a nova burguesia, os especialistas e os talentosos. Isso sem contar a resignação prematura dos recém-formados. Quando as pessoas têm medo, é absurdo especular se este medo é legítimo ou não. Ele é um fato social." Um fato social a ser enfrentado por um país sem Muro. Quer queira, quer não.