'Perigo ainda não passou'
28 de fevereiro de 2010O terremoto de sábado (27/02), no sul do Chile, foi um dos mais graves da história. Com 8,8 pontos na escala Richter, ele foi cerca de 50 vezes mais forte do que o ocorrido no Haiti em 12 de janeiro último, embora o terremoto no Haiti tenha causado mais vítimas.
O número de vítimas fatais da atual catástrofe é estimado em mais de 300. A Comissão Europeia já anunciou que liberará 3 milhões de euros para ajuda imediata aos chilenos.
Sobre as causas e consequências do abalo sísmico, a Deutsche Welle entrevistou o professor Rainer Kind, do Centro Helmholtz de Potsdam, pertencente ao Centro Alemão de Geopesquisa (GFZ).
Deutsche Welle: Professor Kind, qual foi a causa do tremor no Chile? Ele era previsível?
Rainer Kind: A causa foram movimentos tectônicos. As diferentes placas continentais se deslocam umas em relação às outras, na superfície da Terra. Assim, a parte oriental do fundo do Oceano Pacífico se move sempre em direção leste. Sob a América do Sul geram-se fricções, o deslocamento não ocorre sem atritos, as placas se engancham e geram tensões, que são liberadas [em forma de sismo]. É como quando placas de gelo se chocam num rio. Trata-se de processos de milhões de anos, porém vez por outra irrompem, transformam-se em terremotos, particularmente na América do Sul
Haverá mais réplicas sísmicas?
Sim, houve várias réplicas de magnitude superior a 6, isto é, mais fortes do que todos os tremores já registrados até agora na Alemanha. E elas podem seguir se produzindo, mas não sabemos por quanto tempo.
Foram registrados tremores também na Alemanha?
Sim, claro. O sismo foi tão forte que pôde ser registrado em todo o mundo, quer dizer, gerou grandes oscilações nos instrumentos de medição.
Em meados de janeiro a terra tremeu no Haiti; neste sábado foi registrado outro sismo na província de Okinawa, no sul do Japão. Tudo isso tem uma causa comum?
Sim, a causa é dinâmica da Terra. O interior do planeta é quente; a matéria quente, mais leve, sobe, enquanto a mais fria desce. São processos que levam milhões e anos e que explicam por que nosso planeta não é tão firme quanto pensamos. Neste sentido, todos os terremotos têm causas semelhantes. Ainda que não nos detalhes, pois aí não há relação direta entre os diferentes sismos.
Embora todas as regiões se encontrem no "Cinturão de Fogo do Pacífico"...
Não, até agora não se pôde provar que haja uma interrelação entre os terremotos de um lado e de outro do globo.
O Chile enviou equipes de assistência à Ilha Robinson Crusoé, a 700 quilômetros da costa chilena, e à Ilha de Páscoa, a uns 3 mil quilômetros da terra firme. Como o senhor avalia a situação nas ilhas? Ou há informação concreta?
Não disponho de qualquer informação, para tal dependemos dos meios de comunicação, pelo menos no tocante às vítimas da destruição. Surgiu um maremoto que se expande por grandes áreas do Oceano Pacífico. Porém o tsunami já deve ter passado da Ilha de Páscoa, já que se move à velocidade de um avião comercial, e a uma altura de 20 a 30 centímetros, em direção ao leste. Quando se choca contra uma costa marítima no Pacífico, ou até a Austrália, pode gerar ondas de vários metros de altura nas águas baixas.
Quão altas são essas ondas? Quatro, cinco metros?
É muito difícil prever, depende das condições locais. Mas podem perfeitamente ser de alguns metros, de forma que o perigo ainda não passou. Toda a região do Pacífico está sob alerta contra tsunamis.
Deve-se contar agora com atividade vulcânica?
Não necessariamente. Há uma relação geral [entre atividade sísmica e vulcânica], mas é muito difícil provar uma relação específica.
Quão avançada está a pesquisa no tocante à previsão de terremotos e que meios se utiliza nela?
Infelizmente não posso dar uma resposta positiva, neste ponto. No decorrer do desenvolvimento da sismologia já houve, em relação à previsão de tremores, muito otimismo, que, no entanto, não se concretizou. No momento, a maior parte dos especialistas supõe que serão ainda necessárias décadas até estarmos ao menos próximos de um sistema de previsão confiável.
Entrevista: Pablo Kummetz
Revisão: Carlos Albuquerque