Sinto que a proatividade sempre existiu dentro de mim. Desde novinha, gostava muito de ajudar meus colegas, participar de peças etc. A vontade de fazer e participar vem também da vontade de ser útil para outra pessoa naquele momento, de devolver sonhos e fazê-la sonhar. E, no final, ver em seus olhos gratidão e felicidade – isso é o que faz tudo valer a pena.
Estudo na Escola Cidadã Integral Professor Itan Pereira desde o 6º ano. A rotina na escola é puxada. Temos nove aulas por dia, que podem ser da Base Nacional Comum Curricular ou da Base Diversificada, que são eletivas, projeto de vida, colabore e inove etc. Além desse currículo um pouco mais flexível, a escola oferece projetos para incentivar o protagonismo dos estudantes. Um deles é o Acolhimento, que conta com a mobilização de todas as escolas públicas integrais do estado da Paraíba e que consiste, basicamente, em acolher os alunos novatos da sua própria escola ou de outras instituições de ensino. Nós, acolhedores, jovens protagonistas, somos uma injeção de ânimo para aqueles estudantes que, por vezes, desistiram de sonhar com um futuro melhor ou até não sonham, porque estão presos em uma bolha de falta de esperança. Então, temos a missão de trazer essa luz para eles.
Para além do acolhimento, há o projeto Liderança de Turma, que faz com que o estudante crie uma certa autonomia para ser capaz de resolver problemáticas simples do dia a dia da turma e que também seja um porta-voz, para quando houver problemas maiores, levá-los para a gestão. No horário do almoço, funcionam os Clubes de Protagonismo, que são criados pelos próprios alunos. São espaços para compartilhar hobbies e conhecimentos de mundo. Por exemplo, se eu sei maquiar, jogar futebol muito bem ou até editar vídeos, tenho a possibilidade de criar um clube com aquela temática e os estudantes se inscrevem, com base nos seus interesses, em apenas um desses clubes. Além de incentivar que os alunos trilhem seus próprios caminhos, isso permite que a gente forme uma corrente e passe adiante nossos conhecimentos.
Pelo fato de eu ficar o dia todo na escola, consigo facilmente conciliar os estudos com os projetos, pois eles estão interligados. É engraçado porque muitas vezes estou envolvida em uns cinco projetos simultaneamente, e um amigo me pergunta: "Mas como você está? Não está enlouquecendo, não?" Todos os meus amigos admiram muito minha força de vontade de ser tão participativa, e, quando surge um projeto novo, eles me chamam para participar ou me pedem opinião para ajudá-los.
A escola integral teve um papel muito importante na minha formação e no meu desenvolvimento pessoal. Graças a ela, me tornei mais autônoma e, agora, sou capaz de resolver sozinha problemas que antes eu não conseguia. Também me tornei um ser humano mais empático, pois passo o dia com meus amigos, que, às vezes, estão com um furacão de problemas e têm vergonha de compartilhar e pedir ajuda. Então, a escola aumentou a minha sensibilidade em perceber quando alguém está se sentido mal, desconfortável ou até precisando de ajuda em alguma atividade ou matéria.
Na minha concepção, participar e fazer o máximo de coisas que puder é maravilhoso, porque você usufrui de tudo o que o ambiente educacional tem a lhe oferecer. Toda vez que vou às escolas fazer acolhimento ou qualquer outro projeto, um dos meus primeiros conselhos é: "Participem e, se não tiver nada para participar, inventem algo!" Garanto que você não vai se arrepender, porque vai absorver muito conhecimento – e isso ninguém tira da gente. Estou finalizando a escola agora e o sentimento é de dever cumprido. A escola me transformou. Me ensinou muito mais do que matemática e português, me ensinou a ter mais responsabilidade e proatividade. Contrariando todas as estatísticas, posso dizer que devo muito ao Itan Pereira, escola integral e pública, do Nordeste, a mulher que sou hoje.
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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1
Este artigo foi escrito por Kauanny Silva Cordeiro de Lima, de 17 Anos, estudante de Campina Grande, Paraíba. O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.