O que o líder da Coreia do Norte busca com suas provocações?
11 de outubro de 2022A Coreia do Norte afirmou na segunda-feira (10/10) que o míssil lançado sobre o norte do Japão no início do mês era um "novo tipo de míssil balístico de alcance intermediário terra-terra", ou seja, projetado para ser disparado do solo contra alvos terrestres. No mesmo dia, a mídia estatal noticiou que o líder do país, Kim Jong-un, assistiu recentemente a exercícios de suas unidades nucleares táticas.
As duas semanas de exercícios das forças armadas norte-coreanas envolveram mísseis balísticos de capacidade nuclear, aviões de guerra e outros recursos para realizar possíveis ataques a alvos sul-coreanos e americanos. Há uma expectativa generalizada de que Kim ordenará outro teste nuclear secreto no campo de testes de Punggye-ri.
Pyongyang reforçou que a enxurrada de lançamentos de mísseis e exercícios militares é meramente defensiva e ocorre em reação a exercícios militares conjuntos que envolveram unidades navais de Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul na Península Coreana.
Postura mais agressiva
Analistas dizem que, após vários anos de relativa contenção, com um número limitado de lançamentos de mísseis e o último teste nuclear tendo ocorrido há cinco anos, a Coreia do Norte pode estar voltando a apresentar uma postura mais agressiva em relação a seus rivais.
Aparentemente, eventos em outras partes do mundo não foram ignorados por Pyongyang.
"A Coreia do Norte aprendeu lições com o que está acontecendo na Ucrânia", afirma Dan Pinkston, professor de relações internacionais no campus de Seul da Universidade de Troy.
"O país pode ver claramente a utilidade e a importância de ter capacidade de armas nucleares, uma vez que a Rússia as utiliza na Ucrânia como forma de dissuasão ante um ataque da Otan. Mas embora possam ser muito eficazes para dissuadir inimigos, as armas nucleares não são nada eficazes para obrigar um inimigo a fazer algo."
Em entrevista à DW, Pinkston aponta que "os objetivos políticos da Coreia do Norte têm sido bastante consistentes ao longo do tempo e permanecem os mesmos. Fundamentalmente, o país diz que ainda está lutando a revolução e continuará fazendo isso até a 'vitória final', que seria uma península unida sob o controle norte-coreano."
De forma ainda mais urgente, a Coreia do Norte pressiona pelo fim das sanções internacionais impostas ao regime devido aos seus programas nuclear e de mísseis balísticos, bem como para ser reconhecida como potência nuclear, diz Pinkston. Ele destaca que Pyongyang acredita piamente – com ou sem razão – que esse reconhecimento daria prestígio e respeito ao regime.
"A longo prazo, [a Coreia do Norte] quer acabar com as alianças de segurança dos EUA na região, particularmente com a Coreia do Sul e o Japão, e que as forças americanas deixem o nordeste da Ásia", afirma o professor.
"Demonstração de força"
Min Tae-eun, pesquisadora do Instituto Coreia para a Unificação Nacional em Seul, concorda que os recentes lançamentos de mísseis e outros exercícios militares visam ser uma "demonstração de força" frente aos EUA e à Coreia do Sul, bem como uma demonstração de poder nacional para a própria população. Mas, para ela, vai além disso.
"Eles [a Coreia do Norte] não estão simplesmente enviando uma mensagem à comunidade internacional. Estão mostrando que são um Estado com armas nucleares, e isso é mais sério", afirma Min. "Eles têm a confiança de dizer que são um Estado com armas nucleares e que, mesmo que a comunidade internacional não lhes dê esse reconhecimento, continuarão seguindo seu próprio caminho."
A pesquisadora também enfatiza ser importante identificar a maneira como a Coreia do Norte muda seu comportamento no cenário internacional no longo prazo.
"Os EUA e a Coreia do Sul não têm opções viáveis para mudar a Coreia do Norte no momento, e acho que podemos dizer que as sanções internacionais foram um fracasso. O que Washington ou Seul podem fazer quando o próximo teste nuclear ocorrer?", questiona.
Testes unem países
Pinkston, da Universidade de Troy, observa que, em vez de enfraquecer a determinação na região, os recentes lançamentos norte-coreanos tiveram o efeito oposto. Além de mais exercícios militares multilaterais, incluindo o envio de caças alemães para exercícios com parceiros japoneses, as agressões de Kim serviram para aproximar Coreia do Sul e Japão.
Dois anos atrás, os governos de Seul e Tóquio mal se falavam, e havia poucas perspectivas de cooperação de segurança entre ambos. Recentemente, no entanto, navios de guerra das duas nações participaram de exercícios militares antissubmarino em conjunto com os EUA.
Essa nova disposição para cooperar é, em parte, resultado da crescente ameaça representada pela Coreia do Norte, bem como da crescente consciência de que a China tem mais ambições territoriais na região. A guerra na Ucrânia também indica que a paz não pode ser dada como certa.
"No entanto, quando se trata disso, a ameaça nuclear norte-coreana é vazia", avalia Pinkston. "Se Kim desse a ordem para um ataque nuclear, seria suicídio. O único valor que essas armas têm é de dissuasão, e não vejo nenhum outro país planejando atacar a Coreia do Norte."