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Movimentos revolucionários

Ina Rottscheidt (sm)13 de fevereiro de 2007

A libertação de Brigitte Mohnhaupt, ex-terrorista da Fração do Exército Vermelho, gerou um amplo debate na Alemanha. A Itália e a França também já tiveram que se confrontar com sua herança terrorista de esquerda.

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Terrorismo de esquerda na Itália: as Brigadas VermelhasFoto: AP
Aldo Moro in der Hand der Roten Brigaden
Aldo Moro na mão das Brigadas VermelhasFoto: AP

Na casa número 9 da Via Caetani, no centro de Roma, uma placa discreta lembra o assassinato de Aldo Moro. Em 9 de maio de 1978, o corpo do ex-premiê italiano Aldo Moro foi encontrado dentro do porta-malas de um automóvel estacionado nesse local. O caso representou o auge do terror das Brigadas Vermelhas. O seqüestro do político, mantido como refém durante 55 dias, e seu assassinato pelos terroristas marcaram um dos períodos mais dramáticos vividos pela Itália depois da Segunda Guerra.

Assim como na Itália, os extremistas de esquerda na Alemanha e na França também se mobilizaram durante os anos 70, a fim de criar uma "frente antiimperialista européia". Segundo Rolf Tophoven, diretor do Instituto de Pesquisa sobre Terrorismo e Política de Segurança, a Fração do Exército Vermelho (RAF), as Brigadas Vermelhas e a Action Directe tinham em comum a meta de uma revolução social. "Contra o Estado, contra a exploração e pelos interesses da classe trabalhadora. Todas essas organizações ansiavam a reforma revolucionária da sociedade conforme o modelo marxista-leninista", explica Tophoven.

Metas comuns, sem cooperação

O meio era a violência. Os alvos eram, sobretudo, os líderes políticos e os empresários de destaque. Esses grupos, porém, nunca chegaram a formar mais do que uma rede ideológica. Uma cooperação para além das fronteiras nacionais, como a que se vê hoje no terrorismo islâmico, nunca chegou a existir.

Joelle Aubron kommt frei
Libertação de Joelle Aubron, adepta da Direct Action, em 2004Foto: AP

Na França, o governo do presidente François Mitterand reagiu de forma relativamente reservada à Action Directe durante os anos 80. Ao contrário do que ocorria na Alemanha, o governo francês não considerava a ordem estatal realmente ameaçada. Mas com as primeiras vítimas fatais da Action Directe, a opinião pública mudou. Os grandes jornais liberais de esquerda da França, Le Monde e Libération, condenaram a Action Directe e criticaram sua falta de vínculo com a classe trabalhadora, em nome da qual a organização alegava atuar.

Sem perdão

Entführung von Aldo Moro
Após o seqüestro de Aldo MoroFoto: AP

Após os assassinatos do general René Audran, em 1985, e do presidente da Renault, Georges Besse, em 1986, o Estado francês também apelou para o rigor. Um ano depois, os fundadores do grupo, Jean-Marc Rouillan, Nathalie Ménigon e Georges Cipriani, foram presos e a Action Directe se desintegrou. Em 2006, após cumprimento da pena mínima de 18 anos, os três prisioneiros pediram liberdade condicional. O pedido foi negado, porque os requerentes não se mostraram arrependidos pelos crimes cometidos.

As Brigadas Vermelhas, fundadas em 1973, sonhavam com uma ordem comunista na Itália. Mas seu ativismo só levou a inúmeros atentados e seqüestros, gerando no país um clima de insegurança e violência. Até hoje, mais de 400 mortes foram atribuídas às Brigadas Vermelhas.

Rápida dissolução

Generalbundesanwalt Buback bei Anschlag getötet RAF
Atentado da RAF contra o procurador-geral da República Siegfried BubackFoto: picture-alliance / dpa

O assassinato de Aldo Moro representou uma ruptura. "O acontecimento chocou toda a Itália. Pela primeira vez, se formou, então, uma ampla frente de todos os partidos contra o terrorismo de esquerda", explica Tophoven.

Um aspecto decisivo na época foi a decisão da Justiça italiana de oferecer redução de pena aos líderes que confessassem os crimes da organização e delatassem os demais. "Isso levou à dissolução das Brigadas Vermelhas em 1982", lembra Tophoven.

Mais de 200 ativistas deveriam ter sido condenados à prisão, 85 deles à prisão perpétua. No entanto, muitos já foram libertados. A libertação do fundador das Brigadas Vermelhas, Renato Curcio, em 1998, após cumprimento de 24 anos de prisão, não chegou a gerar grande discussão na Itália.

RAF decidiu seu próprio fim

Fahndungsfoto Christian Klar und Brigitte Mohnhaupt
Christian Klar e Brigitte MohnhauptFoto: AP

Na Alemanha, a RAF se dissolveu por decisão própria, admitindo que sua luta não faria mais sentido e reconhecendo o fracasso de seu experimento. Após o anúncio da libertação da ex-terrorista Brigitte Mohnhaupt, três integrantes da RAF ainda cumprem pena de prisão: Christian Klar, Eva Sybille Haule e Birgit Hogefeld. A partir de 2009, suas penas poderão ser convertidas em liberdade condicional.

"Os experimentos revolucionários que apelaram para a violência e o terrorismo fracassaram nos três países", comenta Tophoven. O que também contribuiu para isso foi a derrocada do socialismo real em quase todo o mundo: "A história da frente européia antiimperialista é uma história de fracassos".