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O que se sabe sobre as atrocidades nos arredores de Kiev

4 de abril de 2022

Imagens de corpos espalhados pelas ruas e valas comuns na cidade de Bucha chocaram o mundo. Ucrânia acusa tropas russas por massacre. Moscou rejeita as acusações e fala em encenação.

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Dois homens carregam um corpo
Voluntários recolhem corpos das ruas de BuchaFoto: REUTERS

O mundo reagiu com horror e condenação às imagens e relatos da cidade de Bucha, nos arredores de Kiev, revelados no fim de semana, às valas comuns de civis ucranianos, bem como às acusações de assassinatos sumários e uso de violência sexual como ferramenta de guerra por soldados russos. 

Bucha é uma cidade de cerca de 36 mil habitantes e fica a menos de 8 quilômetros dos limites da cidade de Kiev. No final de fevereiro, tornou-se alvo das forças russas em seu caminho para alcançar a capital ucraniana. 

Relatos de testemunhas e jornalistas

De acordo com os sobreviventes, muitos cidadãos permaneceram por semanas escondidos nos porões de suas casas, sem luz e calefação, até que as tropas ucranianas retomaram a cidade.

Depois que os russos recuaram, começaram a surgir relatos de que as forças russas teriam aprisionado e executado civis, além de agredir sexualmente mulheres, cujos corpos foram deixados nus e parcialmente queimados na margem das ruas. 

Jornalistas independentes confirmaram relatos de moradores sobre a existência de valas comuns e muitas das atrocidades cometidas na cidade. 

Repórteres da agência de notícias AP viram os corpos de pelo menos nove pessoas em roupas civis, que pareciam ter sido mortas à queima-roupa em Bucha. Pelo menos dois estavam com as mãos amarradas atrás das costas. Os jornalistas da AP também viram dois corpos envoltos em plástico e amarrados com fita adesiva em uma vala. 

Um correspondente da agência de notícia Reuters relatou ter visto o corpo de um homem na beira da estrada com as mãos amarradas nas costas e com um tiro na cabeça. A emissora britânica BBC relata algo semelhante. 

Cadáveres com as mãos amarradas atrás das costas
Alguns cadáveres tinham as mãos amarradasFoto: Zohra Bensemra/REUTERS

O prefeito de Bucha, Anatoliy Fedoruk, estimou que pelo menos 300 moradores foram mortos, e alguns foram enterrados ao lado de vários soldados russos. 

O jornal ucraniano Ukrayinska Pravda informou no domingo que 340 corpos foram encontrados na cidade. 

Há também relatos de vários moradores locais. "As pessoas estavam andando na rua e simplesmente foram abatidas a tiros", diz um deles. "Eles simplesmente atiraram sem fazer perguntas."     

O que diz a Ucrânia?

A Ucrânia culpa as tropas russas pelo massacre e as acusa de atrocidades contra a população civil. O Ministério Público anunciou investigações. Mais de 50 membros do Ministério Público e da Polícia Nacional trabalham colhendo indícios. 

"Este é um inferno que precisa ser documentado para que os monstros que o criaram possam ser punidos", escreveu a procuradora-geral ucraniana Iryna Venediktova no Facebook. 

Autoridades ucranianas disseram que estavam documentando evidências para processar autoridades russas por crimes de guerra. Para condená-los, os promotores do Tribunal Penal Internacional (TPI) terão que demonstrar um padrão de atrocidades cometidos contra civis durante a invasão russa. 

"Somos cidadãos da Ucrânia e não queremos ser subjugados à política da Federação Russa. Esta é a razão pela qual estamos sendo destruídos e exterminados", disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, à emissora americana CBS. 

Ele também criticou o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy e a ex-chanceler alemã Angela Merkel, acusando-os de tentar "apaziguar" o presidente russo, Vladimir Putin, através de grandes contratos com empresas estatais e por não se oporem à anexação da Crimeia em 2014. "Convido Merkel e a visitarem Bucha e verem a que levou a política de concessões feitas à Rússia em 14 anos", disse.

Condenação internacional 

Líderes mundiais e grupos de direitos humanos foram rápidos em condenar a violência em Bucha. 

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, disse que aliados ocidentais vão determinar novas sanções contra a Rússia nos próximos dias por causa da invasão e das "atrocidades" cometidas pelas tropas russas perto de Kiev. "E continuaremos a disponibilizar armas para a Ucrânia para que o país possa se defender da invasão russa", acrescentou. 

Dois corpos caídos num terreno
Testemunhas afirmam que civis foram mortos por soldados russosFoto: Mikhail Palinchak/REUTERS

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, escreveu no Twitter que Washington condena as "atrocidades aparentes" cometidas pelas "forças do Kremlin" e prometeu que os EUA "usarão todas as ferramentas disponíveis" para documentar os assassinatos e levar os responsáveis à justiça.

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também se juntaram ao coro de condenações contra Putin e os militares russos. 

Nesta segunda-feira (04/04), Macron disse a uma rádio francesa haver "indicações claras" de crimes de guerra russos em Bucha. "O que aconteceu em Bucha exige uma nova rodada de sanções e medidas muito claras", ressaltou.

A UE também condenou as "atrocidades" pelas quais "as autoridades russas são responsáveis". O chefe de política externa do bloco, Josep Borrell, disse que, após os relatórios, a UE "avançará, com urgência, na implementação de novas sanções contra a Rússia". 

Explicações contraditórias russas

A ONG de direitos humanos Human Rights Watch disse que documentou o que descreveu como "aparentes crimes de guerra", incluindo execuções sumárias, com base em testemunhos, mas disse ser ainda "muito cedo" para declarar os massacres um genocídio, à medida que aumentam os pedidos de investigação oficial sobre o que aconteceu na cidade. 

Já as autoridades russas alegam que as imagens de Bucha são "encenadas" ou que as tropas foram "provocadas" por "extremistas", mas não forneceram evidências para tais alegações. Moscou solicitou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para tratar das acusações de crimes de guerra. 

MD/CN (AP, Reuters, DW, ots)