O que separa candidatos à UE de sua meta
29 de março de 2005
Localize a Bulgária, a Romênia e a Croácia no nosso mapa da Europa.
Dois dos principais setores econômicos da Bulgária são o turismo e a construção civil. O faturamento do setor turístico subiu para mais de 1,6 bilhão de euros em 2004, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Os investidores norte-americanos consideram a Bulgária o "felino mais ágil da Europa", em alusão aos "tigres asiáticos".
Nos últimos anos, o crescimento econômico da Bulgária superou os 4% ao ano. Só em 2004, os investimentos estrangeiros no país somaram dois bilhões de euros, o que corresponde a um terço do total investido nos Bálcãs. Os maiores investidores são os conglomerados de energia E.ON, EVN, CEZ, ao lado da empresa norte-americana de comunicação Viva Ventures e do fabricante turco de vidro Sisecam. Todos eles se estabeleceram na Bulgária no ano passado.
No entanto, não são todos os búlgaros que tiram proveito da conjuntura econômica. Professores, por exemplo, ganham em média 140 euros por mês. Assim como a maioria dos profissionais do serviço público, também os médicos estão entre os perdedores nestes 15 anos de transição para a economia de mercado. Nos hospitais públicos, um médico ganha no máximo 250 euros por mês.
Salários baixos e energia cara
Há cinco anos, os investidores estrangeiros estão invadindo a Romênia, a fim de tirar proveito da mão-de-obra barata. Um trabalhador romeno chega a ganhar apenas 95 centavos de euro por hora. Em 2004, os investimentos diretos bateram o recorde de 4,1 bilhões de euros. A economia cresceu 8,3%, enquanto a inflação ficou pela primeira vez abaixo da marca de 10%.
Até agora, nenhum governo deixou claro o que o ingresso na UE vai custar à população romena. O presidente Traian Basescu, que tomou posse há quatro meses, foi o primeiro a explicitar o mal-entendido: "Os romenos acreditam que, após entrar para a UE, vai jorrar leite e mel em todas as cidades, inclusive pelos rombos da União". Mesmo assim, 80% dos romenos favorecem o ingresso na UE.
Nos últimos dois anos, o preço do petróleo praticamente duplicou. Por pressão da União Européia e do Fundo Monetário Internacional (FMI), os custos de energia foram elevados e adaptados ao nível mundial. Em conseqüência, o que os domicílios romenos gastam com calefação durante o inverno corresponde a mais da metade de um salário líquido médio (177 euros).
Anteriormente, empresas mal-administradas podiam se manter à tona por causa dos baixos custos de energia. Para entrar na UE, a Romênia terá que acabar com este fator de desequilíbrio da competitividade, além de suspender as subvenções à indústria mineradora e metalúrgica e cortar privilégios fiscais para estatais e empresas privadas. A economia romena indicou um crescimento dos setores de software e automóveis, que poderão compensar a baixa da indústria têxtil.
Contudo, o maior problema da Romênia é a agricultura. Sessenta por cento dos romenos são agricultores. Quem quer produzir em massa, deve se ater às normas da UE para criação e abate de animais. Isso é algo que toca em tradições profundamente arraigadas. Um agricultor romeno certamente resistiria em anestesiar um porco antes do abate, só porque Bruxelas quer que seja assim.
Estudos revelam que 43% das empresas romenas nem sequer começaram a se preparar para o futuro ingresso na União Européia; 30% nem sabem o que as espera.
Boom do turismo
A Croácia espera que a entrada na União Européia melhore o abastecimento de bens de consumo, gere mais empregos e incentive o crescimento da indústria de turismo graças a investimentos internacionais. Hoje, mais da metade do comércio exterior croata é feito com países da UE. Os principais parceiros são Itália, Alemanha e Áustria. Isso deverá se intensificar ainda mais – na Alemanha, sobretudo por causa dos 240 mil imigrantes croatas, motivados a enviar suas economias para casa.
Nos últimos anos, os investimentos estrangeiros na Croácia aumentaram sensivelmente, de 88 milhões de euros em 1995 para mais de 780 milhões no ano passado. A metade deste montante provém da Alemanha e da Áustria. A Holanda está em terceiro lugar.
As redes de comércio por atacado e varejo Metro, Lidl e Billa já conquistaram a Croácia e pretendem se expandir ainda mais. Além do comércio, as telecomunicações e as indústrias petrolífera e farmacêutica são os setores que mais atraem investidores estrangeiros. Apesar de ser a grande esperança dos croatas, o turismo – que representa 22% do PIB (em comparação com 18% da indústria), com tendência crescente – foi beneficiado com apenas 7% dos investimentos de fora.
No ano passado, mais de nove milhões de turistas visitaram a Croácia, com seus mil quilômetros de litoral no Mar Adriático. Após as guerras civis nos Bálcãs, esta é a primeira vez que se atingiu novamente o nível de afluência de 1990. Dos 7,5 milhões de estrangeiros, mais de 20% provinham da Alemanha. Com investimentos estrangeiros, a indústria de turismo poderia reverter a situação do mercado de trabalho num país em que 20% dos trabalhadores não têm emprego fixo.
A Croácia ainda tem muito a fazer antes de se tornar membro da União Européia. A economia croata é dominada por empresas estatais. A falta de segurança jurídica e uma Justiça muitas vezes parcial assustam possíveis interessados estrangeiros. Os custos de produção são nitidamente maiores que nos países vizinhos. A moeda croata – kuna – ainda é supervalorizada por razões político-ideológicas. Além disso, uma dívida externa de 25 bilhões de dólares e um grande endividamento público distanciam ainda mais o país de uma candidatura-modelo à União Européia.
E, de fato, as perspectivas da Croácia não são das melhores. A UE adiou o início das negociações por tempo indeterminado, alegando que o governo em Zagreb não está cooperando o suficiente com o Tribunal de Haia para crimes de guerra na antiga Iugoslávia.