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Velhos problemas, novo tom

DW (cb/av)20 de janeiro de 2009

A herança que o novo presidente dos EUA recebe da administração Bush é pesada. De um lado as tensões no Oriente Médio, do outro as relações problemáticas com a Rússia e a China. A nova palavra de ordem é "smart power".

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Mito antes mesmo de assumirFoto: AP

Guerras no Iraque e no Afeganistão, tensões entre o Paquistão e a Índia, choques entre israelenses e palestinos, o impasse sobre o programa nuclear iraniano, relações tensas com Moscou: é longa a lista das tarefas que esperam o governo Barack Obama na política externa.

Parece quase impossível enfrentar todos os desafios de uma vez, sobretudo diante da crise financeira global e dos problemas internos, que igualmente exigem total atenção do novo presidente norte-americano. Porém a equipe de política externa de Obama já pôs mãos à obra.

Hillary Clinton im Weissen Haus 1995
Clinton: o outro caminho à Casa BrancaFoto: AP

A secretária de Estado designada, Hillary Clinton, demonstrou, em seu discurso ao Senado, nesta terça-feira (20/01), que novos tempos se anunciam para a diplomacia estadunidense. "A América não pode solucionar sozinha os problemas mais urgentes do mundo, e o mundo não pode solucioná-los sem a América", declarou.

No lugar de unilateralismo e política de relações exteriores ideologicamente orientada, Washington aposta no smart power. "Precisamos exercer poder inteligente, para tal utilizando todos os meios à nossa disposição: diplomáticos, econômicos, militares, políticos, jurídicos e culturais. Temos que escolher o instrumento ou combinação de instrumentos adequado a cada situação", observou Clinton.

Israel x palestinos

Allen Keiswetter, do Instituto para o Oriente Médio em Washington, antecipa que, em seu discurso de posse, Obama deixará bem claro para o mundo que, na política externa, os EUA vão operar tanto com ameaças como com um tom mais brando.

O primeiro passo no conflito entre israelenses e palestinos seria estabilizar a situação na Faixa de Gaza; suspender os choques e ao mesmo tempo permitir o acesso à região para alimentos e outros gêneros de primeira necessidade por meio do estacionamento de uma tropa internacional de paz.

A retomada das negociações de paz entre as partes conflitantes seria um segundo passo. "Pois é importante para ambos os lados poder voltar a ter esperanças de paz." Só assim há chance de resolver o conflito, não a curto prazo, mas sim nos próximos anos e décadas, comentou Keiswetter.

Mais Oriente Médio

Anschlag auf die Deutsche Botschaft in Kabul, Afghanistan
Ataque à embaixada alemã no Afeganistão, em 17/01/2009Foto: AP

Porém o conflito armado entre Israel e palestinos é apenas um dos problemas relacionados com o Oriente Médio, que vão do Iraque à Índia. Falando à emissora ABC no último domingo, Obama ressaltou o Irã como "um dos nossos maiores desafios", concluindo: "Precisamos mudar nossa estratégia, o diálogo é um bom início."

Vanda Felbab-Brown, do Instituto Brookings, um dos mais antigos think tanks dos EUA, concorda. Para a cientista política, a guerra no Iraque, que dominou boa parte da campanha eleitoral norte-americana, não se encontra mais no foco da atenção pública desde que a violência diminuiu e a segurança melhorou. Além disso, o recente tratado militar prevê a retirada das tropas norte-americanas até 2011.

Problemática permanece a falta de um governo estável. "É importante Washington permanecer ativo no nível político, quer dizer, manter a pressão sobre o governo xiita e os grupos sunita e curdo, a fim de alcançar uma unidade política. O governo Bush negligenciou esse aspecto."

Obama anunciou que se concentrará mais no Afeganistão. Lá a situação é dramática, assinala Felbab-Brown. Em 2009, 5 milhões de pessoas estarão dependentes dos gêneros alimentícios da ajuda humanitária, o governo é corrupto e perdeu legitimidade, e além disso haverá eleições em breve.

A cientista política do Instituto Brookings considera correta a decisão – ainda da administração Bush – de reforçar com mais 20 mil homens as tropas estadunidenses no Afeganistão. "Uma situação de segurança estável é precondição para a melhoria social e econômica. Só assim a população aceitará o governo e a perspectiva de futuro que este e a comunidade internacional oferecem."

Herança delicada

Dmitri Medwedew bei Indien Premierminister Manmohan Singh.jpg
Promessa de distensão para Medvedev (d)Foto: AP

Além dos conflitos no Oriente Médio, Obama herda outros desafios externos, como o relacionamento tenso com China, Coreia do Norte e Rússia. O presidente não pode se dar ao luxo de se concentrar numa região, adverte Michael Fullilove, diretor de Relações Internacionais do Instituto Lowy de Sydney. "Mas ele possui uma equipe muito talentosa, que poderá enviar às regiões de crise. E também uma secretária de Estado muito experiente."

Além disso, enviados especiais manterão o presidente informado através de Clinton. O mundo também acompanhará com interesse a forma como Obama lidará pessoalmente com outros chefes de Estado como, por exemplo, o russo Dimitri Medvedev. Fullilove antevê:

"Penso que o contato será objetivo, positivo, possivelmente cálido, mas não carinhoso. Há pouco espaço para intimidades políticas, mas acho que os russos estarão aliviados de tratar com o presidente Obama e não com seu adversário derrotado, John McCain. Eles estavam preocupados com as opiniões do republicano a seu respeito."

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