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Aliança estratégica

23 de maio de 2011

Presidente está na Europa para consolidar relações, mas em muitas questões ainda falta consenso, seja sobre o futuro da missão no Afeganistão, a política para o Oriente Médio ou o apoio à democratização no mundo árabe.

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Obama iniciou na Irlanda sua visita à EuropaFoto: AP

A estada do presidente norte-americano, Barack Obama, na Europa não é exatamente uma viagem de férias. Por um lado, o cronograma é apertado, incluindo não só visitas oficiais a Irlanda, Reino Unido e Polônia, como a participação na cúpula do G8, na cidade balneária francesa de Deauville.

Por outro lado, o brilho pessoal do chefe de Estado norte-americano perdeu muito de seu efeito no Velho Mundo. Em muitas questões, há necessidade concreta de consenso entre os Estados Unidos e seus parceiros europeus – quer se trate do futuro da missão no Afeganistão, a política para o Oriente Médio, ou o apoio ao movimento de democratização no mundo árabe.

Werner Weidenfeld München
Werner WeidenfeldFoto: C.A.P.

Aliança incipiente

Diplomatas de ambos os lados do Oceano Atlântico gostam muito de evocar a parceria ou aliança estratégica euro-americana em todas as questões globais. No entanto, ela só é perceptível de forma incipiente, no melhor dos casos, observa o professor Werner Weidenfeld, estudioso das relações transatlânticas. Pois construir algo do gênero "exige infinitamente muito mais esforço e engajamento do que os norte-americanos têm demonstrado até agora", afirma.

Isso ficou demonstrado recentemente na crise da Líbia. Ao abster-se de votar no Conselho de Segurança da ONU, a Alemanha adotou uma posição recebida com desconcerto por Washington. Entretanto, também no tocante à missão conjunta no Afeganistão, percebem-se até hoje formas divergentes de proceder. Isso se deve às diferenças entre as culturas políticas dos dois continentes, explica Weidenfeld.

"Tanto europeus quanto norte-americanos têm déficits em relação ao Afeganistão. Os norte-americanos têm muito pouca noção da sociedade civil afegã, e os europeus preferem deixar o aparato de poder pesado para os EUA". A presidência Obama pouco alterou esta situação. Mas ao menos ele parece ter se libertado da carga ideológica de seu antecessor no tocante ao Afeganistão. A meta da guerra no país não é mais construir uma democracia, e sim criar um contexto no qual não mais seja possível a Al Qaeda planejar atentados a partir do Afeganistão.

Os EUA não estão mais tão preocupados em estabelecer uma sociedade civil em que todas as meninas possam frequentar a escola. Agora sua intenção é preparar a retirada de suas tropas e as negociações de paz com os talibãs, que já deverão participar da Conferência para o Afeganistão, programada para dezembro de 2011, em Bonn, na Alemanha.

Processo de paz entre Israel e palestinos

Na Europa e nos EUA, sabe-se que as reviravoltas no mundo árabe se aproximam cada vez mais do epicentro do conflito, Israel. Com seu discurso sobre o Oriente Médio, na semana passada, Obama tentou dar uma perspectiva às pessoas no mundo árabe.

Contudo, o verdadeiro conflito do Oriente Médio – entre israelenses e palestinos – se agravou ainda mais sob o governo Obama. Tanto que o encarregado especial para a região, George Mitchell, renunciou ao cargo devido à estagnação no processo de paz.

Segundo Michael Werz, professor de Política da Universidade de Georgetown, em Washington, o anúncio de Obama, no início de seu mandato, de que traria movimento às frentes endurecidas entre israelenses e palestinos, até agora não se cumpriu.

Werz acrescenta que os êxitos do presidente se concentram antes em outros campos, como a busca por uma coalizão internacional contra a política atômica do Irã – tema onde os europeus desempenham papel importante.

Westerwelle bei Clinton in USA
Chefes de diplomacia Westerwelle e Clinton nos EUAFoto: AP

Capacidade de escutar

Por outro lado, "Obama sabe que nenhuma potência do mundo é capaz de resolver sozinha questões importantes como o conflito do Oriente Médio, mas também questões globais", ressalta Weidenfeld. E aponta uma diferença essencial entre o atual chefe de Estado norte-americano e seu antecessor, George W. Bush: Obama sabe escutar.

Deste modo, ele deverá receber com curiosidade cética a intenção de Paris de, já nos próximos meses, propor o reconhecimento de um Estado palestino autônomo, nos termos do direito internacional, numa manobra que forçaria Israel a ceder.

O futuro da missão na Líbia é outro ponto em que EUA e Europa precisam alcançar um consenso. O mesmo se aplica à ocupação do posto de diretor do Fundo Monetário Internacional – decisão que, caso necessário, poderá ser atribuída aos altos escalões durante o encontro do G8. Desse modo, o tradicional direito da Europa de propor um candidato permanecerá intocado pelo escândalo Strauss-Kahn – pelo menos é o que esperam os europeus.

Tudo bem com a Alemanha

E por que Obama evita a Alemanha neste giro pela Europa? No momento, não consta da agenda teuto-americana nenhum tema tão urgente que não possa ser discutido na cúpula do G8 em Deauville, ou na visita aos EUA da chanceler federal alemã, Angela Merkel a Washington, onde em 7 de junho ela receberá a Medalha da Liberdade.

"O fato de Obama não passar por Berlim durante uma viagem de crise à Europa deve ser interpretado como indicador de boas e estáveis relações bilaterais", analisa Axel Heck, especialista em assuntos norte-americanos da Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz.

Ao que tudo indica, pertencem ao passado os tempos em que uma discordância alemã – como agora, no caso da Líbia – podia ser a causa de um congelamento das relações bilaterais. "Acredite, a Alemanha é um de nossos parceiros mais importantes no mundo", assegurou à Deutsche Welle o embaixador norte-americano Philip Murphy. Interpretar o atual roteiro de viagem de Obama como qualquer outra coisa seria "pura perda de tempo", assegura o diplomata.

Autor: Daniel Scheschkewitz (av)

Revisão: Roselaine Wandscheer