"Objetivo do Hamas é que haja muitas vítimas", diz embaixador israelense
22 de julho de 2014Para o embaixador israelense na Alemanha, Yakov Hadas-Handelsman, o objetivo do Hamas é justamente que haja muitas vítimas do lado palestino. Mortes entre civis, afirma o diplomata, jogam a opinião pública contra Israel.
Em entrevista à DW, Hadas-Handelsman lembra que Israel pediu aos moradores da Faixa de Gaza que deixassem suas casas quatro dias antes da ofensiva. A maioria não o fez, e o número de mortos no conflito já passa de 580, grande parte deles civis.
"Lamentamos realmente por qualquer inocente que foi ferido ou morto. Mas o que devemos fazer? Devemos permitir que o Hamas continue a disparar foguetes sobre nossos vilarejos e cidades?", afirma.
Deutsche Welle: Por que o Exército Israelense age de forma tão dura, apesar de todos os apelos internacionais?
Yakov Hadas-Handelsman: No momento, temos o seguinte problema: ali, onde o Exército está israelense está avançando, há uma área residencial, mas também um bastião do Hamas. Ali são fabricados foguetes, está o centro de comando, se iniciam os túneis que levam a Israel. Anteriormente, advertimos durante quatro dias e pedimos aos moradores para que deixassem seus prédios. Infelizmente, a maioria deles não o fez – também porque foram ameaçados pelo Hamas. Lamentamos realmente por qualquer inocente que foi ferido ou morto. Mas o que devemos fazer? Devemos permitir que o Hamas continue a disparar foguetes sobre nossos vilarejos e cidades? Devemos permitir que eles continuem a penetrar no território israelense através dos túneis, para assassinar civis?
Estávamos dispostos a um cessar-fogo. Houve a proposta do governo egípcio para uma trégua. O gabinete israelense aprovou, o Hamas rejeitou. O cessar-fogo temporário por razões humanitárias também foi quebrado pouco tempo depois pelo Hamas. Eles usam as pessoas lá como escudos humanos.
Não são poucas as vozes que dizem: militarmente, esse conflito continua sem solução, porque ele não pode ser ganho, permanentemente, por nenhuma das partes. Não faria então mais sentido empregar a energia nos esforços para se chegar a uma nova trégua e se iniciar negociações sérias?
Para um cessar-fogo é preciso sempre dois lados. O povo do Hamas continua a se recusar, a maioria deles está escondida em algum bunker ou num hotel 5 estrelas em algum Estado do Golfo. Eles se importam com a morte de pessoas? Eu não quero ser cínico, mas, para o Hamas, o objetivo é justamente que haja muitas vítimas, para que a opinião pública veja os crimes que, segundo eles, Israel está cometendo: genocídio, massacre e assim por diante. Lamentamos realmente pelas muitas pessoas que morreram, mas, ao mesmo tempo, soldados israelenses também foram mortos. Isso mostra que há combates e não é assim simplesmente que o Exército israelense esteja bombardeando qualquer área residencial.
Mesmo assim surge a questão fundamental sobre o aspecto humanitário e sobre a proporcionalidade dos meios empregados. Vê-se a situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza, onde as pessoas realmente não sabem para onde fugir. Tais princípios ainda valem para Israel?
Os postos de fronteira para Israel estão abertos. Em média, a cada dia entra uma centena de caminhões transportando suprimentos: alimentos, remédios, gasolina e gás. O fato de permitirmos à população que tenham acesso a tudo é algo sem precedentes numa guerra. E a razão é muito simples: não temos nada contra o povo palestino, contra essas pobres pessoas. Mas combatemos terroristas. E não se pode tolerar que as pessoas em Israel tenham sempre de viver com o medo de que, em breve, as sirenes comecem a tocar.
Em alguns países europeus, principalmente na França e na Alemanha, houve no último fim de semana diversas manifestações anti-Israel – algumas delas escalaram para a violência. Isso é preocupante?
Isso nos preocupa. Não temos nada contra as manifestações e contra a liberdade de se expressar, isso é a essência da democracia. Mas quando se trata de violência contra a polícia ou manifestantes pró-Israel, como aconteceu neste fim de semana, então não se pode aceitar. Acho que os alemães também deveriam se preocupar com slogans antissemitas como "judeus para a câmara de gás". Resta a questão de como lidar com tais afirmações.
Mas também há muitas pessoas na Alemanha que gostam de Israel, mas que consideram desproporcional a ofensiva na Faixa de Gaza? O senhor é da opinião de que as críticas contra a operação militar se dirigem, inevitavelmente, contra Israel?
Nós não gostamos que Israel seja visto automaticamente como culpado. Dizemos sempre que existem três padrões na ONU: um para a maioria dos Estados não democráticos, um para os Estados democráticos, e um para Israel. Deixamos a Faixa de Gaza nove anos atrás – e isso somente para mostrar aos palestinos e ao mundo que estamos dispostos à paz. E o que recebemos? Uma organização terrorista, cujo principal objetivo é aniquilar Israel. Todos têm a liberdade de criticar Israel. Mas espero que haja sensibilidade nesse ponto, para que se reconheçam as realidades. Também no caso atual, esperamos durante semanas e advertimos, e o Hamas continuou a nos provocar – o que você acha que deveríamos fazer?
No entanto, já está claro que, dessa maneira, uma solução está cada vez mais longe de ser alcançada. Em sua opinião, como a situação deve continuar?
Em meu ponto de vista, há uma solução: uma vez que a violência acabe, e isso deve acontecer em ambos os lados, então se poderia desarmar o Hamas. Pois a situação não pode continuar assim, os israelenses têm o direito de viver como gente normal, da mesma forma que os palestinos têm o direito de levar uma vida normal e não ser ameaçados por uma organização terrorista.
O problema é: quando se vê as exigências do Hamas, muitas delas não têm nada a ver com Israel. O Hamas está fazendo tudo isso, principalmente porque está sem dinheiro. Mahmoud Abbas não tem dinheiro suficiente nem para pagar os funcionários do chamado governo. O Egito fechou definitivamente a fronteira para os territórios palestinos, porque também para eles o Hamas passou a ser um inimigo – isso não tem nada a ver conosco. Precisamos antes de tudo um cessar-fogo, então se pode conversar com calma sobre tudo. Mas o mais importante é que o Hamas perca as suas capacidades militares.