Infância feliz
2 de setembro de 2009No seu primeiro estudo comparativo sobre a qualidade de vida das crianças em seus 30 países-membros, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirma que altos investimentos governamentais nas crianças não necessariamente reduzem os índices de pobreza infantil ou melhoram as condições de vida das crianças.
O relatório intitulado Doing Better for Children (Fazer melhor para as crianças) foi divulgado simultaneamente em Paris e em Berlim nesta terça-feira (1/09). Os resultados buscam indicar linhas de ação para que os governos assegurem melhor qualidade de vida para as futuras gerações.
O estudo mostra profundas diferenças entre os investimentos públicos dos países nas crianças, variando entre 380 mil dólares investidos por criança em Luxemburgo e 24 mil dólares no México (considerando o total até os 18 anos de idade).
Qualidade vale mais que quantidade
Mas dinheiro não é tudo, alertam os autores do estudo. A coordenadora da pesquisa, Monika Queisser, diz que a qualidade pesa mais do que a quantidade.
"Altos investimentos não indicam necessariamente que os países obtenham bons resultados em relação à qualidade de vida de suas crianças", disse Queisser à Deutsche Welle. "Nenhum dos países se saiu bem em todos os indicadores. Cada um deles tem pontos positivos e negativos."
Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo, fazem parte do grupo de países que investem cerca de 145 mil dólares por criança até os 18 anos de idade. O montante está acima da média da OCDE, que ficou em 126 mil dólares. Mas o relatório também concluiu que os altos investimentos nesses países não geraram resultados correspondentes.
A Inglaterra, por exemplo, apresenta taxas relativamente altas de gravidez na adolescência, alcoolismo e jovens fora da escola e do mercado de trabalho. Já nos Estados Unidos, a juventude enfrenta os piores índices de mortalidade infantil, gravidez na adolescência e pobreza infantil entre os países industrializados.
Pontos fracos da Alemanha
A Alemanha falha na hora de oferecer igualdade de oportunidades, especialmente em educação, diz o estudo. O país investe em média 20% a mais do que os demais em educação e serviços para as crianças. Do total, cerca de 40% são destinados a bolsas de auxílio financeiro para os filhos, pagas diretamente aos pais.
Apesar disso, uma a cada seis crianças no país vive em situação de pobreza, em famílias cuja renda é inferior à metade da média nacional. A média da OCDE para este quesito é de uma a cada oito crianças. O país com as melhores condições é a Dinamarca, onde apenas uma a cada 37 crianças vive essa situação.
"O risco de empobrecimento na Alemanha ainda é muito alto, especialmente para residências com apenas uma fonte de renda. E é necessário fazer mais por essas pessoas", diz Queisser.
Alemanha está no caminho certo
Mesmo assim, Queisser reconhece que a situação na Alemanha já pode ter melhorado em virtude de medidas recentes tomadas pelo governo alemão, como a bolsa de auxílio para os pais e a construção de novos berçários. O estudo se baseia em dados de 2005.
"Observamos mais opções para a assistência às crianças. Também vemos os pais recebendo mais incentivo para retornar ao trabalho, o que é muito importante", diz.
Ela avalia como bons ainda os resultados da Alemanha referentes a instalações para os estudantes, e também para a sua saúde.
"Há mais carteiras e livros escolares, computadores, calculadoras e dicionários do que em outros países, por exemplo. Os bebês alemães são melhor amamentados, as taxas de vacinação contra coqueluche e sarampo são muito altas. Há menos adolescentes grávidas. E a juventude da Alemanha bebe menos álcool do que a média dos países da OCDE. Por outro lado, os jovens alemães fumam mais, especialmente as mulheres", relata.
Primeiro estudo da OCDE
A pesquisa divulgada pela OCDE foi o primeiro estudo para compreensão das condições de vida, saúde e educação de crianças nos 30 países-membros da organização. Fazem parte da OCDE 23 países europeus, além de Austrália, Japão, Canadá, Coreia do Sul, México, Nova Zelândia e Estados Unidos.
O Brasil não aparece no estudo porque não é membro da OCDE, mas coopera com a entidade desde os anos 1990 e já integra diversos de seus comitês.
Autores: Uwe Hessler/Marcel Fürstenau/Francis França
Revisão: Alexandre Schossler