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OMS recomenda que ivermectina não seja usada contra covid-19

31 de março de 2021

Mesmo sem eficácia, vermífugo vem sendo promovido por Bolsonaro como parte de "tratamento precoce" contra a doença. OMS diz que uso só deve ser feito em testes clínicos.

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Mão segura uma caixa do medicamento.
Vendas da ivermectina cresceram 557% em janeiro no BrasilFoto: Almeida Aveledo/ZUMA Wire/picture alliance

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou nesta quarta-feira (31/03) que a ivermectina, um vermífugo, não seja utilizada no tratamento de pacientes com covid-19, independentemente do nível de gravidade ou da duração dos sintomas.

De acordo com a OMS, em relação ao coronavírus, a ivermectina só deve ser utilizada no contexto de testes clínicos. Segundo a organização, há poucas evidências de que o medicamento tenha efeito benéfico em termos de diminuição da mortalidade, ventilação mecânica, internação hospitalar, tempo de hospitalização e carga viral.

Os especialistas afirmam que o fato de uma droga ser barata e amplamente disponível, não justifica sua utilização se seu benefício permanece obscuro.

Mesmo sem comprovação científica que apoiem seu uso contra a covid-19, a ivermectina, assim como a hidroxicloroquina – outro remédio ineficaz contra o coronavírus –, se tornou uma das drogas favoritas do governo Jair Bolsonaro. O presidente incentiva regularmente o uso do vermífugo como parte de um "tratamento precoce" contra a covid-19 e o remédio foi incluído nos assim chamados "kit covid" distribuídos pelo governo e prescritos por alguns médicos por todo país.

Os únicos medicamentos que a OMS endossou para pacientes hospitalizadoscom sintomas graves de covid-19 são os corticosteroides, em particular a dexametasona, um produto que também é barato.

O grupo que analisou a eficácia do medicamento é formado por especialistas em cuidados médicos de várias áreas. Eles revisaram os resultados compilados de 16 ensaios clínicos, com mais de 2,4 mil pacientes internados e não internados.

Há uma semana, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) também desaconselhou o uso da ivermectina para prevenção e tratamento da covid-19, alertando que "os dados disponíveis não apoiam" sua utilização generalizada fora dos testes clínicos controlados.

Fabricante não recomenda o uso

Em fevereiro, a farmacêutica americana Merck, empresa que desenvolveu a ivermectina nos anos 1980 e até hoje é a sua principal fabricante, afirmou que não existem evidências sobre a eficácia do medicamento contra a covid-19.

Para a empresa, o medicamento só deve ser usado para sua função original: como vermífugo usado para promover a eliminação de vários parasitas do corpo, e não como tratamento contra o coronavírus.

O incentivo de Bolsonaro e de outros políticos levou a uma explosão no Brasil do consumo de ivermectina e outros medicamentos sem eficácia contra covid-19. Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF) mostrou em janeiro que as vendas de hidroxicloroquina duplicaram de 963.596 unidades em 2019 para 2,02 milhões em 2020. Já as vendas da ivermectina cresceram 557%. 

Recentemente, Associação Médica Brasileira (AMB) pediu que seja banida a utilização de ivermectina e outros fármacos sem eficácia comprovada contra a covid-19, num posicionamento contrário ao defendido por Bolsonaro.

"Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida", defendeu a AMB em comunicado.

A popularidade da ivermectina contra a covid-19 vem, principalmente, de um estudo australiano publicado no início de 2020, no começo da pandemia, que observou eficácia in vitro, ou seja, em laboratório, da ivermectina no Sars-CoV-2, vírus causador do covid-19.

le (efe, afp, lusa)