Falha do Papa?
13 de março de 2010O líder da Igreja Católica da Alemanha, arcebispo Robert Zollitsch, anunciou neste sábado (13/03) a indicação de um prelado para acompanhar as denúncias e casos de pedofilia no clero alemão.
"O papa emitiu decisão favorável sobre as medidas adotadas pela Conferência Episcopal Alemã", disse Zollitsch. Estas incluem a nomeação de um bispo para acompanhar o tema dos abusos sexuais.
Segundo o arcebispo, a meta agora deve ser "curar as feridas do passado e evitar possíveis novas feridas". Após uma audiência de 45 minutos com o sumo pontífice, na sexta-feira, em Roma, Zollitsch declarara que o papa estava "abalado" e "muito impressionado com os fatos relatados".
Arcebispo Ratzinger falhou?
No meio tempo, a onda de escândalos de abuso sexual na Igreja se aproximou da própria figura do Papa. Em sua edição de sábado, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung (SZ) revelou que, durante seu mandato como arcebispo de Munique e Freising, Bento 16 tomou uma decisão com graves consequências num caso de pedofilia.
Em 1980, um padre com antecedentes de abuso foi enviado para a Baviera e integrado em outra paróquia, onde voltou a se aproveitar sexualmente de menores. Segundo a diocese de Munique, em 1986 o capelão foi condenado pelo delito a 18 meses de prisão condicional, acompanhados de uma multa de 4 mil marcos (cerca de 2 mil euros).
De acordo com o SZ, o então arcebispo Joseph Ratzinger participou do ordinariado que determinou a transferência do padre pedófilo, porém sem saber que este seria enviado a uma nova congregação. Em 1982, Ratzinger foi convocado para o Vaticano como prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, a mais alta instância de interpretação e defesa da fé católica.
A diocese de Munique e Freising declarou que o então vigário-geral Gerhard Gruber assumia "total responsabilidade" pela decisão. O porta-voz do Vaticano Federico Lombardi apoiou esta versão dos fatos, acentuando que o atual papa "nada tem a ver com o assunto".
Ataques ao celibato
Diante do acúmulo de denúncias de abusos sexual por religiosos católicos, o presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), Alois Glück, manifestou-se a favor do fim do celibato para os padres. Em sua opinião, a Igreja deveria encaminhar consequências estruturais dos escândalos, e refletir se não existem circunstâncias específicas à instituição que propiciam o abuso infantil.
"Entre essas reflexões está, sem dúvida, uma abordagem do tema sexualidade como um todo, desde a forma de lidar com ela até a escolha do pessoal eclesiástico", disse Glück ao jornal SZ. O relaxamento do celibato compulsório seria um caminho, mas não a solução total do problema, relativizou o político social-cristão.
Igualmente contra a repressão sexual dos padres é o Prêmio Nobel da Literatura Günter Grass. "A propensão para os abusos sexuais com menores existe em todos os lugares onde há gente que lida com crianças, mas acentua-se ainda mais com o celibato", declarou Grass à agência de notícias DPA.
"A taxa de natalidade na Alemanha melhoraria se a totalidade da sexualidade contida dentro da Igreja Católica pudesse manifestar-se em muitos, muitos filhos de sacerdotes, filhos de sacerdotes casados [...] e seguindo os preceitos católicos, sem usar preservativo", sublinha o autor de O tambor. Contudo ele adianta que considera a Igreja Católica incapaz de abordar qualquer reforma, por estar asfixiada em seu próprio dogma.
Enquanto isso, o papa Bento 16 continua defendendo a manutenção do celibato. Este se trata de um "presente de Deus", que não deve ser sacrificado ao espírito da época, definiu numa conferência do Vaticano sobre a carreira eclesiástica.
AV/lusa/dpa/rtr
Revisão: Roselaine Wandscheer