Onda de violência no Iraque mostra poder de extremistas
12 de junho de 2014Pela primeira vez, militantes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) estão patrulhando uma metrópole iraquiana. Depois de intensos combates, os radicais conquistaram na terça-feira (10/06) a província de Nínive, incluindo a capital da província, Mossul. Além disso, unidades da organização, que é ligada à Al Qaeda, entraram nas províncias de Salaheddine e Kirkuk.
Um ataque à cidade de Baiji, ao sul da região de Salaheddine, pôde ser rechaçado pelas tropas do governo. Desde o começo do ano, a bandeira negra do EIIL tremula na província de Al-Anbar, ao oeste. Também na vizinha Síria, o grupo conquistou um largo território. O objetivo é a criação de um Estado entre o Mediterrâneo e o Iraque, em que reine uma interpretação rigorosa da sharia, a lei islâmica.
Segundo Falko Walde, especialista em Iraque da Fundação Friedrich Naumann, o avanço em Mossul foi uma surpresa para o governo em Bagdá. O ataque, no entanto, afirma o especialista, não surgiu do nada e há uma série de razões para o ganho de força dos radicais.
Primeiro, o grupo atuante no Iraque e na Síria se beneficia da fronteira porosa entre os dois Estados. "Assim é possível movimentar combatentes", afirma Walde. Além disso, após as recentes eleições, há uma morosidade no processo de formação de governo em Bagdá. "O suposto homem forte do Iraque, o primeiro-ministro Nuri al-Maliki, teme em não conseguir mais um mandato. Existe um vácuo de poder", explica.
O conflito entre a minoria sunita e a maioria xiita no Iraque garante ao EIIL um influxo especial de apoiadores. Muitos sunitas se sentem prejudicados pelo governo xiita em Bagdá. De acordo com Walde, isso implica um terreno fértil para o EIIL, que têm como alvo a desestabilização de cidades sunitas. "Eles realmente se especializaram em incitar e se aproveitar de tumultos", afirma o funcionário da Fundação Friedrich Naumann.
Ataques desmoralizam Exército
Aparentemente, os guerrilheiros do EIIL perseguem uma tática multifacetada. O grupo está profundamente enraizado em Mossul, diz Aymenn Jawad al-Tamini, do think tank americano Fórum do Oriente Médio. Ali, todos os meses, há centenas de ataques do EIIL, e isso, segundo ele, tem desgastado cada vez mais as forças de segurança. Além disso, o EIIL construiu uma base financeira sólida na região, por meio do contrabando de petróleo e da extorsão, e conseguiu trazer outras milícias sunitas para o seu lado.
Em Al-Anbar, milícias tribais sunitas, cujo motivo não é a instalação de uma teocracia, também simpatizam com os guerrilheiros do EIIL. Eles estão unidos pelo ódio ao governo em Bagdá. O ataque a Mosul mostrou claramente que, na esteira do EIIL, outras unidades de combate perseguem os seus objetivos, afirmou o especialista em extremismo Al-Tamini. "Está claro que isso é usado por outros grupos como o exército da seita religiosa Naqshbandi." Entre outros, pertencem a esse exército membros do regime Baath do ditador Saddam Hussein, deposto em 2003. Até mesmo grupos da região de Kirkuk entraram no mesmo barco, disse Al-Tamini.
O EIIL foi criado a partir do Estado Islâmico do Iraque, liderado pelo jihadista Abu Bakr al-Bagdadi. Em 2012, al-Bagdadi se envolveu na guerra civil na vizinha Síria e estabeleceu ali a islâmica Frente Al-Nusra. Mas a aliança não durou muito tempo. Enquanto a Frente Al-Nusra luta hoje na Síria em nome da rede terrorista Al Qaeda, o EIIL opera na Síria e no Iraque de forma independente. Em abril último, as suas unidades avançaram até Abu Ghraib, nas proximidades de Bagdá. Os membros do EIIL são temidos pela sua crueldade. Por esse motivo, no norte do Iraque, cerca de meio milhão de pessoas estão agora em fuga.
Mossul: só uma etapa
Na opinião de Falk Walde, da Fundação Friedrich Naumann, com a subida ao poder do EIIL em Mossul, o governo em Bagdá tem de mudar a sua estratégia. A província de Al-Anbar, controlada pelo EIIL, passou meses isolada e negligenciada pelo governo.
"Isso não é mais possível. Mosul é uma rota importante de exportação de petróleo", assinala o especialista em Iraque. Além disso, o governo em Bagdá deve partir do princípio que o EIIL quer continuar o seu avanço, acrescenta Walde, dizendo que Mosul é apenas uma etapa e que isso já pode ser visto nos combates nas províncias vizinhas. Segundo ele, o grupo receberá ainda mais influxo e distinguir-se perante outras milícias islamistas.
Em sua impotência, Maliki apelou à população civil para resistir aos extremistas sunitas. Dessa forma, ele está, provavelmente, alimentando ainda mais o conflito no país. As milícias xiitas já anunciaram estar preparadas para a luta. Isso pode ser motivo para que um número ainda maior de sunitas se junte ao EIIL. E, então, a estratégia do grupo extremista sunita terá funcionado.