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ONG pede fim dos investimentos em fabricantes de bombas de fragmentação

28 de março de 2012

Bombas de fragmentação e minas antipessoais são proibidas por tratados internacionais. Apesar de terem se comprometido a não mais fazê-lo, bancos alemães e fundos de pensão ainda investem nessas empresas.

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Foto: picture-alliance / dpa

Branislav Kapetanovic não possui quaisquer ações de bancos alemães. Mas ele estava presente no encontro de acionistas da maior instituição financeira alemã em maio do ano passado.

Por muitos anos, o sérvio de 46 anos trabalhou como desarmador de minas, desativando bombas de fragmentação do tipo BLU 97, até que um acidente o deixou sem braços e pernas. A convite da Federação de Acionistas Críticos, Kapetanovic subiu ao pódio do encontro em Frankfurt, em sua cadeira de rodas. Ele relatou aos acionistas como seu corpo foi mutilado numa explosão de um armamento que ele mesmo queria desativar.

"Estou contente de poder falar hoje com vocês porque o Deutsche Bank é um importante financiador de bombas de fragmentação em todo o mundo", disse o sérvio a uma plateia chocada.

Mais de 100 mil mortos

Desde que a Convenção de Oslo sobre Munições de Fragmentação entrou em vigor, a 1° de agosto de 2010, 68 Estados se comprometeram a eliminar bombas de fragmentação e minas antipessoais, inclusive a Alemanha. Outros 44 países concordam com o espírito do acordo, mas ainda não se comprometeram oficialmente.

Segundo estimativas da organização Handicap International, munições de fragmentação já mataram mais de 100 mil pessoas no mundo, quase todos civis. Após espalhados por uma bomba de fragmentação, centenas de explosivos podem continuar em sua volta, representando perigo durante décadas.

Isso inclui munições não detonadas que podem explodir com o menor toque, como foi o caso de Kapetanovic ao tentar desativar em 1999 uma bomba da guerra da Iugoslávia. "A bomba que me feriu foi fabricada pela firma Alliant Techsystems", disse Kapetanovic. "Essa firma é cliente do Deutsche Bank".

Maior sensibilização

Investigações encomendadas pelo grupo de lobby ambientalista Urgewald, crítico do mercado financeiro, e pela campanha financiada pela União Europeia "Facing Finance" (enfrentando as finanças), revelaram que até o início de 2011 fabricantes de munições de fragmentação receberam de bancos alemães 1,3 bilhão de euros em investimentos em ações, títulos e empréstimos.

Facing Finance está tentando, segundo suas próprias palavras, sensibilizar investidores para que não apliquem em empresas que estão envolvidas em violações dos direitos humanos, destruição ambiental e corrupção.

Esse também é o caso de instituições financeiras alemãs que continuam a investir direta ou indiretamente, através de fundos e da participação da poupança privada, em fabricantes de munição de fragmentação. Em 2010, foi revelado que em algumas instituições, até mesmo o plano de aposentadoria com apoio estatal, a chamada aposentadoria Riester, estavam cheios de títulos de fabricantes dessas armas ilegais.

ONGs pedem o fim do financiamento de bombas de fragmentação e minas antipessoais
ONGs pedem o fim do financiamento de bombas de fragmentação e minas antipessoaisFoto: picture-alliance/dpa

De acordo com as investigações de Facing Finance, entre essas empresas estavam gigantes militares como a General Dynamics, Lockheed Martin, Alliant Techsystems, Textron, L-3 Communications ou Raytheon.

Um número particularmente elevado de ações e empréstimos diretos ou indiretos a fabricantes de munição de fragmentação foram descobertos pelas investigações nos livros de balanço do Deutsche Bank Group. No encontro de acionistas do ano passado, o presidente do banco, Josef Ackermann, prometeu melhoras.

Meio ano depois, a administração do Deutsche Bank anunciou, em novembro de 2011, que o Deutsche Bank Group iria banir todos os negócios com tais fabricantes. Ainda em 2 de fevereiro último, Ackermann reiterou no noticiário Tagesschau, da emissora pública alemã ARD, que o Deutsche Bank teria desistido completamente dos negócios com bombas de fragmentação.

Novas descobertas

Um estudo divulgado pela campanha Facing Finance na semana passada em Berlim sugere o contrário. Segundo o estudo, os atuais investimentos de instituições financeiras alemãs em fabricantes de bombas de fragmentação somam 1,6 bilhão de euros, bem mais que um ano atrás. Isso surpreende, já que segundo um estudo das prestadoras alemãs de serviços elas teriam reduzido seus investimentos no setor.

Barbara Happe, do grupo lobista Urgewald, vê no engajamento do Deutsche Bank possíveis razões para esse aumento. Citando a pesquisa, Happe afirmou que quase 90% dos atuais negócios com munição de fragmentação estão relacionados com o Deutsche Bank Group. "Esses números são um atestado de pobreza de espírito para o Deutsche Bank e comprovam que o autocomprometimento do banco não vale nem o papel em que foi escrito".

Os ativistas de Facing Finance apontaram que um dia após a entrevista de Ackermann na tevê, o Deutsche Bank concedeu um empréstimo à empresa de armamentos norte-americana L-3 Communications. "O Deutsche Bank quebrou sua promessa", acusou Thomas Küchenmeister, da Facing Finance.

Um porta-voz do Deutsche Bank disse à Deutsche Welle, no entanto, que a instituição financeira assume plenamente suas responsabilidades e suas promessas públicas.

Interromper fluxo de dinheiro

Para Agnieszka Brugger, deputada do Partido Verde alemão e membro da Comissão Parlamentar de Defesa, está mais do que na hora de se proibir investimentos em minas antipessoais e munições de fragmentação. Isso resulta da convenção internacional contra bombas de fragmentação. "A convenção que proíbe o uso, o armazenamento, o desenvolvimento e o comércio de minas antipessoais e bombas de fragmentação inclui naturalmente que não se possa mais investir em tais armamentos", disse Brugger.

De acordo com Facing Finance, a pressão da opinião pública no decorrer do ano passado levou grandes instituições financeiras alemãs a agir – incluindo o Commerzbank, o Unicreditgroup / HypoVereinsbank e diversos bancos regionais. Mas o que foi alcançado não foi suficiente, disse Brugger. "Em amostras aleatórias, descobrimos que somente uma pequena porcentagem de instituições se comprometeu."

Por esse motivo, na última quinta-feira (22/03), os partidos de oposição em Berlim concretizaram seus planos e apresentaram um projeto de lei para regulamentar a proibição de investimentos. Eles esperam que isso possa trazer mais transparência para os cidadãos – criando principalmente instrumentos de sanções diante de instituições financeiras não cooperantes.

Não se acredita, todavia, que tal projeto de lei seja aprovado, já que a coalizão de governo conservadora-liberal em Berlim não deverá apoiar o projeto. Christoph Schnurr, deputado do Partido Liberal e membro da Comissão Parlamentar de Defesa, vê até prejuízos para a missão alemã no Afeganistão. Schnurr afirmou que o instrumento de autocomprometimento voluntário por parte de instituições financeiras mostrou eficácia e, por esse motivo, novas leis não são necessárias.

Autor: Richard Fuchs (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer