Veto de Rússia e China a sanções contra Síria
19 de julho de 2012A Rússia e a China vetaram nesta quinta-feira (19/07) a resolução do Conselho de Segurança da ONU no sentido de aumentar as ameaças de sanções contra o presidente da Síria, Bashar al Assad, caso suas tropas continuem empregando armas pesadas nos embates com os grupos rebeldes.
Esta foi a terceira vez em nove meses que os dois países – dos cinco com poder de veto – impedem a aprovação de ações internacionais mais duras contra a aliada Síria, apesar do apoio de 11 dos 15 membros da comissão. África do Sul e Paquistão se abstiveram de votar.
O embaixador britânico na ONU, Mark Lyall Grant, ressaltou a decepção dos países da Comissão com o veto. "Lamentamos profundamente que este colegiado hoje não tenha desempenhado o papel para o qual foi criado", disse Grant. A resolução havia sido apresentada pelo Reino Unido e recebeu apoio imediato dos EUA, da França, da Alemanha e de Portugal.
"Nossa resolução era uma chance, talvez a última, de acabar com esse círculo vicioso de violência na Síria", declarou o embaixador alemão, Peter Wittig. "Está claro que a Rússia apenas quer dar mais tempo para o regime sírio esmagar a oposição", acusou o embaixador francês na ONU, Gérard Araud.
China e Rússia também foram duramente criticadas pela organização de direitos humanos Human Rights Watch. "Seu indiferente descaso pela violência, evidente a partir de seus vetos, é inadequado para um membro permanente do Conselho de Segurança e pode fazer com que o grêmio se torne irrelevante em outros episódios."
Intervenção militar
Os russos afirmam que os líderes ocidentais tentam justificar, com a resolução, uma intervenção militar na Síria. Segundo o embaixador russo Vitaly Tchurkin, a resolução busca "abrir caminho para a pressão de sanções e seguir com um envolvimento militar externo em questões domésticas sírias". Já o embaixador chinês, Li Baodong, disse que os países ocidentais têm sido "arrogantes e rígidos" nas negociações da resolução.
A resolução permitiria ao Conselho autorizar sanções econômicas e diplomáticas e também intervenções militares.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, confirmou que com o "fracasso" do Conselho, a missão dos observadores da ONU na Síria deve encerrar seus trabalhos nesta sexta-feira, quando chegam ao fim os 90 dias planejados inicialmente. À proposta de sanções havia sido somado um pedido para renovar por mais 45 dias a missão de paz. As atividades dos quase 300 observadores estavam suspensas desde o dia 16 de junho,devido ao agravamento da violência no país.
Agora, em meio a crescentes questionamentos sobre o papel desempenhado pelo Conselho de Segurança da ONU no caso, os Estados Unidos querem buscar apoio junto a outros parceiros fora do Conselho, para confrontar Assad. Mais de 17 mil pessoas já morreram desde o início dos conflitos armados entre tropas leais a Assad e rebeldes, há 16 meses.
Crescente violência
Nesta quinta-feira, canais de televisão mostraram imagens de Assad durante a posse do novo ministro de Defesa do país, Fahad Iassim Feraj, que substitui Daud Raiyha, morto no atentado da quarta-feira. Foi a primeira aparição pública do presidente sírio após o atentado suicida na sede do comando de segurança do país, em Damasco, que vitimou pelo menos três integrantes do regime Assad. Após o episódio, a repressão do governo contra os rebeldes se intensificou.
Segundo forças de segurança libanesas, cerca de 20 mil sírios cruzaram a fronteira do país com o Líbano nas últimas 24 horas, tentando escapar da violência. Desde o início dos conflitos, o número de refugiados sírios no Líbano aumenta em cerca de 5 mil por dia.
Nesta quinta-feira, os rebeldes afirmaram ter ocupado a região de cruzamento da fronteira com a Turquia e tomaram os prédios da alfândega e da imigração no norte da fronteira, além da principal via. Segundo autoridades iraquianas, eles também estariam com o controle da fronteira da Síria com o Iraque. Em Damasco, os rebeldes também atacaram o principal distrito policial.
"O regime está em seus últimos dias", declarou o chefe do Conselho Nacional Sírio, Abdel Basset Sayda, durante encontro com o ministro italiano do Exterior, Giulio Terzi. Ainda assim, Sayda afirmou que o veto no Conselho de Segurança pode ter "consequências desastrosas".
MSB/rtr,dpa,afp,dapd
Revisão: Augusto Valente