1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Ano da Batata

Carlos Albuquerque5 de fevereiro de 2008

Para aumentar a conscientização sobre um vegetal responsável, no passado, pelo crescimento populacional europeu e que, hoje, é essencial no combate à fome e à pobreza, a ONU declarou 2008 o Ano Internacional da Batata.

https://p.dw.com/p/D2q8
A batata é importante alimento para países em desenvolvimentoFoto: picture-alliance/dpa

Através de conferências em todo o mundo e de uma campanha de conscientização sobre a importância da batata, e da agricultura em geral, no tratamento de questões relativas à fome, à miséria e às ameaças ao meio ambiente, a Organização das Nações Unidas declarou 2008 como o Ano Internacional da Batata.

Apesar de não agradar a alguns diplomatas, que consideram “anos internacionais” menos importantes que resoluções sobre conflitos mundiais, a ONU justifica que, atualmente, um dos principais desafios da comunidade internacional é assegurar o suprimento nutricional das gerações presentes e futuras e garantir a proteção dos recursos naturais.

Segundo dados da ONU, a população mundial aumentará em média, nas próximas duas décadas, em mais de 100 milhões de pessoas, anualmente. Mais de 95% deste aumento acontecerá em países em desenvolvimento, onde é intensa a pressão em torno da posse da terra e da água.

Pesquisa é fundamental

Kartoffelblüte
Batata foi planta ornamental

Desta forma, a ONU acredita que a batata deva ser um componente importante no combate à pobreza e à miséria. Sua produção é ideal em regiões que possuam escassez de terra e abundância de mão-de-obra, condições que caracterizam boa parte dos países em desenvolvimento. Além disso, o plantio do tubérculo produz alimentos mais rapidamente e em condições climáticas mais adversas que qualquer outro grande cultivo.

Em termos de quantidade de produção, a batata é, depois do milho, do trigo e do arroz, o alimento mais plantado no mundo. Mais da metade da produção mundial do tubérculo provém de países em desenvolvimento.

Nos últimos 40 anos, o consumo da batata diminuiu na Europa, mas duplicou entre os países em desenvolvimento e não é à toa que China, Rússia e Índia são, atualmente, os maiores produtores mundiais do vegetal. Estados Unidos, Ucrânia e Alemanha ocupam as posições seguintes.

Embora decrescente, o continente europeu ainda é líder mundial no consumo do vegetal – cada europeu come, em média, 96 quilos de batatas por ano. Nos países em desenvolvimento, esta cifra cai para 21 quilos anuais por habitante.

Fungo originário do México

Letzte Ernte
China é primeiro produtor mundial de batataFoto: AP

O agrônomo e diplomata suíço Thomas Gass adverte, no entanto, para uma eventual dependência alimentar da batata entre os países em desenvolvimento.

Gass lembra que a fome que dizimou a população da Irlanda, durante o século 19, foi causada por um fungo originário do México, que contaminou as plantações locais de batata, então principal fonte alimentar do país.

"A pesquisa é fundamental para o combate a doenças de mutação", explica Gass. O agrônomo afirma, todavia, que o setor privado não estaria interessado nesse tipo de pesquisa de baixo lucro e daí a importância do apoio das Nações Unidas em aumentar a conscientização sobre o produto entre organizações públicas.

Plantada há 8 mil anos

Bolivien Bauer erntet Kartoffeln
O vegetal é originário dos AndesFoto: AP

Originária da região do Lago Titicaca, na fronteira entre Peru e Bolívia, onde já era plantada há 8 mil anos, a batata foi introduzida na Europa pelos conquistadores espanhóis, durante o século 16.

A semelhança com a batata-doce (batata em espanhol) levou à junção dos dois conceitos. Navegadores espanhóis e ingleses espalharam o produto pelo mundo e, no Brasil, o tubérculo ficou conhecido como batata-inglesa.

Inicialmente usada como planta ornamental, a batata passou a ser cultivada no continente europeu no século 17, na Irlanda, então colônia britânica. Sua importância nutricional foi logo reconhecida pelos governos de uma Europa devastada e dizimada pela Guerra dos Trinta Anos (1618–1648).

"O agricultor não come aquilo que não conhece"

Deutschland Kartoffelanbau König Friedrich II
Frederico 2° vigia pessoalmente o cultivo da batata

Entre os alemães, sua disseminação deveu-se à visão do rei Frederico 2° da Prússia ou Frederico, o Grande, que, através do "Decreto da Batata", uma Ordem Circular de 24 de março de 1756, obrigava seus súditos ao plantio do assim chamado tartufo ou Tartoffel, que deu origem à Kartoffel, palavra alemã para batata. Várias histórias envolvem a introdução deste componente essencial da cozinha alemã.

Além da distribuição gratuita de brotos, conta-se que Frederico 2°, famoso por suas conquistas militares, utilizou-se de uma inteligente estratégia para vencer a resistência da população camponesa da época, que pode ser entendida através do ditado popular alemão: "O agricultor não come aquilo que não conhece".

O imperador ordenou que soldados vigiassem plantações de batatas, fato que chamou a atenção dos agricultores para o valor do produto. Os soldados também foram instruídos a não interferir no roubo das batatas pelos camponeses, que provaram o produto, decidindo-se, finalmente, por plantá-lo.

Quilo de frango a um quilo de batata

Eine Portion Pommes frites mit Ketchup p178
Batata é mais que fastfoodFoto: dpa

Diferentemente de seus colegas do Bric (grupo formado pelos quatro mais importantes países emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China), no Brasil a batata não teve a mesma sorte como teve na Alemanha. Em entrevista à USP Online, o professor Paulo César Tavares de Melo, presidente da Associação Brasileira de Horticultura, afirma que não há no Brasil uma cultura de consumo da batata e de sua importância nutricional.

Num país onde a proteína animal é barata, o consumidor prefere levar para casa um quilo de frango a um quilo de batata. Melo lembra ainda que, atrás do ovo e do leite, o tubérculo é o terceiro alimento com maior valor biológico [porcentagem do alimento que é usada pelo corpo].

O professor da USP sugere uma maior especificação dos diferentes tipos de batatas pelos supermercados. Purê e fritura, por exemplo, demandam diferentes tipos de batata. Se a batata frita fica oleosa é porque o tipo de batata usado não foi o correto, esclarece.

O Centro Internacional da Batata, centro de pesquisas científicas sediado no Peru, contabiliza 7,5 mil diferentes variedades de batatas. Dos diferentes tipos, cerca de 2 mil são silvestres.