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Fome na África

25 de julho de 2011

A seca no Chifre da África provocou uma situação catastrófica que exige uma ampla e urgente ajuda internacional, declara diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, durante reunião de emergência em Roma.

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Somalis fazem fila à espera de comida em MogadíscioFoto: dapd

A seca na região do Chifre da África gerou uma situação catastrófica e que precisa ser combatida o mais rápido possível, concluiu uma reunião emergencial da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), convocada para debater a situação de extrema fome vivida numa das regiões mais pobres do planeta.

Em Roma, nesta segunda-feira (25/07), representantes dos 191 países da FAO, além de organizações internacionais, concordaram que é necessário agir para evitar uma catástrofe humanitária iminente e garantir a segurança alimentar a longo prazo na região. A seca no Chifre da África provocou uma situação catastrófica que exige uma ajuda internacional ampla e urgente, declarou o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, na abertura da reunião em Roma.

Segundo ele, são necessários mais 1,6 bilhão de dólares para enfrentar a crise. O Banco Mundial ofereceu 500 milhões de dólares nesta segunda-feira, dos quais 12 milhões para ajuda imediata. O governo alemão elevou sua contribuição direta para 30 milhões de euros. A Alemanha também participa com mais 30 milhões de euros no pacote de 160 milhões da União Europeia.

A reunião desta segunda-feira, porém, não foi para pedir doações aos governos. "Foi para informar a comunidade internacional, para expressar solidariedade, para mostrar onde estamos – o que já foi feito e o que precisa ser feito –, também para dar a chance aos países afetados de explicar a situação local e o que eles precisam", disse à Deutsche Welle Erwin Northoff, do departamento de comunicação da FAO.

A crise é gravíssima: estima-se que 12 milhões de pessoas estejam precisando de assistência imediata. No Quênia, Djibouti, Uganda, Sudão, Etiópia e Somália, situação mais preocupante, milhares se confrontam, diariamente, com a falta do que comer.

Alarme mundial

Segundo agências das Nações Unidas, o Chifre da África, região oeste do continente, enfrentou duas temporadas de pouca chuva, o que causou a pior seca desde a década de 1950. O quadro se agrava pela alta local dos preços dos cereais, mortalidade elevada de criações de animais, conflitos locais e acesso humanitário restrito a algumas áreas.

Embora o tema tenha ganhado mais destaque depois que moradores da região começaram a morrer de fome, o alerta do risco já havia soado há cerca de dois meses. "Já havia os primeiros sinais dos impactos da seca há dois meses. Mas é comum que esses alertas não sejam ouvidos, até que a crise realmente aperte e as crianças comecem a morrer, então as pessoas começam a prestar atenção ao problema", comentou Northoff.

A declaração do estado de fome das Nações Unidas veio no dia 20 de julho, chamando a atenção para as duas regiões do sul da Somália, Bakool e Lower Shabelle, controladas pelos rebeldes islamitas shebab e atingidas pela grave seca. Na ocasião, o órgão advertiu para o risco de a situação se espalhar para todo o país.

Somália

Em discurso na reunião da FAO, Mohamed Ibrahim, vice-primeiro-ministro da Somália e ministro do Exterior, disse que o alarme foi dado ainda no ano passado. "O governo da Somália alertou o mundo há meses. O ex-primeiro-ministro falou com o escritório da WFP (Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas) em Nairóbi, em fevereiro de 2010, para destacar a intensa dificuldade enfrentada pela população somali."

Ibrahim alegou que, frente aos conflitos internos que trazem instabilidade para o país, o governo enfrenta grande fragilidade para providenciar serviços básicos à população. "E assim a situação se deteriora mais rápido do que qualquer pessoa possa imaginar."

Só na Somália, as Nações Unidas estimam que 3,9 milhões de pessoas estejam passando fome, o que equivale à metade da população. Em todo o Chifre da África, aproximadamente 80% da população depende da agricultura como principal fonte de renda.

Socorro urgente

As agências das Nações Unidas trabalham para levantar 1,6 bilhão de dólares para os países afetados pela fome. O dinheiro será gerido pelos próprios países, ou por programas específicos, dependendo do caso, explicou a secretaria de comunicação da FAO.

Organizações como a Oxfam International também atuam na região de crise com ações para ajudar as comunidades locais a encontrar meios de produção agrícola sustentáveis e entrega emergencial de alimentos e água.

"Não pode haver problema de maior pressão, mais agudo, mais urgente do que milhões de pessoas famintas nessa parte da África. Isso não deveria acontecer. É ultrajante que os avisos não tenham sido ouvidos, que as lições das crises de fome passadas não tenham sido aprendidas", disse Barbara Stocking, chefe-executiva da Oxfam, sobre a necessidade de ajuda internacional, no encontro em Roma.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler