É necessário punir responsáveis por torturas na CIA
11 de dezembro de 2014Basta ler apenas algumas linhas do resumo do relatório de 6.700 páginas sobre as práticas de tortura cometidas pela CIA durante a administração do ex-presidente George W. Bush para ficar chocado.
O documento descreve minuciosamente como o país que se vê como o bastião dos direitos humanos e da democracia violou sistematicamente os seus próprios princípios.
É repugnante ler sobre práticas como "alimentação retal" ou sobre como os presos eram forçados a falar com armas apontadas para a cabeça ou com ameaças contra os seus filhos. Dói ter que escrever isso, mas o que é relatado no documento lembra mais séries de televisão sobre a máfia, no estilo de Os Sopranos. Mas isso aconteceu sob ordens do governo os Estados Unidos.
E também é assustador observar que, mesmo após a divulgação do relatório, ainda existem discussões sobre se os métodos de interrogatório, chamados eufemisticamente de enhanced interrogations, ou seja, "interrogatórios ampliados", podem ser chamados de tortura ou não. A resposta certa foi dada no prefácio do relatório pela senadora Dianne Feinstein: "Sob todos os significados usuais do conceito de tortura, os prisioneiros da CIA foram torturados."
Pior ainda são os testemunhos de políticos, tanto antigos como ainda na ativa, que justificam o emprego da tortura, afirmando que esses métodos são eficazes. Ouvir esse tipo de declaração de representantes eleitos pelo povo é um tapa na cara no Estado de Direito. Pois, em primeiro lugar, conforme mostra o próprio relatório, a declaração é falsa. E, ainda mais importante, a tortura não é aceitável numa democracia.
Nem mesmo numa situação excepcional, na qual certamente os Estados Unidos se encontravam depois dos ataques devastadores de 11 de setembro de 2001. Quem usa a tortura como meio para obter informações coloca a corda no pescoço do Estado de Direito e se comporta da mesma forma que os extremistas de todos os credos que querem aboli-lo.
Por essa razão, o relatório também precisa ter consequências políticas e jurídicas. Como Dianne Feinstein corretamente afirmou, os métodos de interrogatório aplicados durante a presidência de George W. Bush precisam, finalmente, ser oficialmente proibidos pelo Congresso. A proibição atualmente em vigor é uma ordem exclusiva do presidente Barack Obama e pode ser removida pelo próximo presidente.
Além disso, os líderes políticos precisam ser responsabilizados. Afinal de contas, a prática de torturas não surgiu do nada, mas teve respaldo político e jurídico explícito do então governo. Não é a toa que George W. Bush se entitulava The Decider, ou seja, "O tomador de decisões". Ele deveria ser tomado ao pé da letra.