Parecia uma ação espontânea e meio descoordenada: uma multidão rompeu as barreiras diante do Reichstag, a sede do Parlamento alemão em Berlim, subiu em disparada pelas escadas e pressionou em direção à entrada do edifício histórico. Cantava suas palavras de ordem e agitava as bandeiras do Reich alemão – a bandeira dos antidemocratas.
A "tempestade", porém, não durou muito. Os manifestantes foram mantidos sob controle por alguns poucos policiais. Em seguida, a área foi esvaziada. Portanto, não há com o que se preocupar, certo? Pelo contrário: a extrema direita na Alemanha há tempos vem perseguindo um plano.
Muitos dos extremistas de direita modernos têm uma nova virtude: paciência. Eles não tentam com todas as suas forças ocupar o Reichstag. Eles já ficam satisfeitos com as imagens simbólicas da tentativa por si só e com as bandeiras de seus apoiadores tremulando.
Isso serve como motivação para seus apoiadores, e o resto da sociedade rapidamente pensa: "Nada aconteceu". É exatamente essa impressão que mostra como são incendiários os planos dos extremistas de direita: eles estão evitando os "erros" que, nas últimas décadas, serviram como obstáculo à sua ganância por poder e busca por relevância.
O objetivo principal dos homens e mulheres em frente ao Reichstag não era realmente ocupar o edifício do Parlamento. Eles queriam desencadear exatamente o que aconteceu agora: uma grande onda de indignação. Membros do governo, parlamentares e até mesmo o presidente da República, Frank-Walter Steinmeier, condenaram nos termos mais fortes a ação.
É claro que a condenação é correta. Mas o problema é que as respostas dificilmente refletem o quanto a indignação calculada se tornou agora parte integrante da estratégia da direita: nos últimos anos, os provocadores têm usado com frequência esta tática de alfinetada, por assim dizer. Como resultado, o público está cada vez mais acostumado a tais incidentes, e as rápidas críticas do mundo político estão se degenerando em um ritual.
A narrativa da direita está se infiltrando cada vez com mais sucesso no centro da sociedade. O lema é: "Os políticos devem antes cuidar dos problemas reais do povo!"
Essa tática de camuflagem dos pregadores de ódio da direita é tão bem-sucedida que eles podem participar dos grandes protestos de coronacéticos na Alemanha sem causar grande agitação. Mesmo que a maioria dos manifestantes não seja apoiadora de suas mensagens, eles conseguem empurrar os limites do que pode ser dito em sua direção, numa estratégia calculada.
Mas para onde querem ir os inimigos da democracia com seu plano? Seu objetivo é uma sociedade racista que não conhece nenhuma democracia e, portanto, nenhuma liberdade de imprensa. O que conta é exclusivamente sua própria opinião. Os imigrantes e aqueles que pensam de maneira diferente seriam tudo, menos bem-vindos neste tipo de sociedade. Há muito tempo existem modelos para tal política na Europa: na Polônia ou na Hungria, os inimigos de uma sociedade aberta governam há anos.
E também na Alemanha, os inimigos de uma sociedade aberta percorreram um longo caminho nos últimos anos. No sábado eles foram contidos na entrada do Parlamento alemão por policiais – mas as vozes mais poderosas de suas políticas misantrópicas há muito tempo já entraram lá.
Desde 2017, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), em parte de extrema direita, está representado no Parlamento alemão – com a maior bancada de oposição. Com hostilidades permanentes contra muçulmanos, imigrantes, opositores políticos, igrejas e instituições sociais, seus deputados estão minando cada vez mais os valores da constituição liberal da Alemanha.
Este é o perigo real de tais ações diante do Reichstag: que cidadãos e cidadãs subestimem sua grande influência e as consequências perigosas que elas podem ter. Não hoje, não amanhã – mas depois de amanhã.
Hans Pfeifer é jornalista da Deutsche Welle. O texto reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.