Numa análise superficial, os social-democratas, tão surrados em outros cantos da Europa, poderiam se alegrar por finalmente terem vencido novamente uma eleição.
Na Finlândia, os social-democratas vão formar a maior bancada no Parlamento, mas, com 18% dos votos, terão apenas 40 dos 200 mandatos – bem longe de obter a maioria, portanto. Pelo menos eles irão liderar uma coalizão de governo, e um social-democrata poderá ser o próximo primeiro-ministro em Helsinque.
Mas basta olhar um pouquinho melhor para ver que os populistas de direita do Partido dos Finlandeses ficaram só 0,2 ponto percentual atrás dos social-democratas e conquistaram 39 mandatos.
Ou seja: não há motivo para festejar, e muito menos para os partidos liberais no governo, que, apesar de terem o que mostrar na política econômica, foram punidos pelos eleitores.
O Partido dos Finlandeses conseguiu se reerguer depois da divisão e da nova radicalização de dois anos atrás. O novo presidente do partido, o filósofo Jussi Halla-aho, já foi condenado por sedição. Ele conseguiu transformar a imigração num tema de campanha de grande apelo emocional.
No início de 2019, o Partido dos Finlandeses tinha cerca de 10% das intenções de votos. Depois de um crime, a discussão sobre como lidar com requerentes de refúgio e imigrantes que cometem crimes esquentou. Segundo estatísticas da polícia, os imigrantes respondem por cerca de 3% da população, e seu percentual entre os criminosos é de 18%. O percentual de votos para os populistas de direita quase dobrou.
Halla-aho adotou a mesma receita para caçar votos que muitos outros partidos populistas de direita usaram: os problemas realmente existentes com requerentes de refúgio que cometeram crimes foram inflados de forma desproporcional e generalizada.
De uma hora para a outra, todos os imigrantes se transformaram em potenciais criminosos sexuais, e a população nativa passou a se ver ameaçada por uma "invasão" de muçulmanos. As estatísticas não confirmam nada disso, mas a demanda "Finlândia em primeiro lugar" se deixa estabelecer com facilidade.
Desde 2015, quando a onda migratória ganhou força, o governo liberal da Finlândia, como todos os outros governos na Europa, endureceu a legislação migratória, facilitou as extradições e apresentou programas de integração dos imigrantes na sociedade.
O número de pessoas que chegam de países de fora da Europa caiu drasticamente, como em toda a União Europeia, mas isso não impediu um populista de direita como Halla-aho de conquistar votos. Isso também não é um fenômeno restrito à Finlândia.
Na campanha, ninguém prestou atenção ao fato de que, nos últimos anos, a maioria dos imigrantes veio da Rússia, da Ucrânia e de países vizinhos à Finlândia, e não do mundo islâmico.
Seis semanas antes da eleição para o Parlamento Europeu, a eleição legislativa na Finlândia de fato mostra uma tendência na Europa: os partidos no governo, em sua maioria moderados, fracassam; a oposição vence; e os populistas de direita vencem de forma desproporcional.
Ao que parece, as pessoas estão insatisfeitas com os seus governos e querem mudanças, mesmo que suas decisões nem sempre estejam em sintonia com os fatos. Na Alemanha e na França, os populistas de direita também deverão obter bons resultados nas eleições europeias, e os partidos governantes deverão perder votos. Na Itália, a Liga, partido populista de direita que está no governo, se prepara para um grande aumento no seu número de votos. Na Polônia, na Hungria e na Áustria, os partidos populistas governam e se mantêm fortes nas pesquisas eleitorais.
O próximo teste para verificar a situação será daqui a 13 dias, quando a Espanha irá às urnas. Os social-democratas lideram, mas é incerto se vão conseguir formar governo. Chama a atenção ainda o fato de o partido populista de direita Vox, que também aposta no tema imigração, estar em alta. Os populistas de esquerda, que fazem campanha apostando no combate à política de austeridade, estão em queda.
Os social-democratas provavelmente serão a principal força na Espanha, assim como na Finlândia. Mas também lá a coisa ferve embaixo da superfície.
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