Governo do México precisa recuperar confiança
11 de outubro de 2014No México, a polícia persegue e atira contra estudantes em plena rua. Depois, alguns deles são presos e, aparentemente, entregues pela polícia a narcotraficantes. Essas cenas lembram as revoltas estudantis de 1968, quando, poucos dias antes das Olimpíadas que seriam realizadas no país, o governo enviou o Exército para reprimir os estudantes.
Até hoje, o número de mortos no Massacre de Tlatelolco permanece incerto. O Estado contra seu próprio povo. Pior ainda: o Estado contra estudantes, pessoas que possuem o maior potencial para moldar o futuro de um país.
Isso não deveria ter acontecido nunca. O passado deveria ter servido de lição. Em vez disso, quase 50 anos depois, o massacre de Iguala entrará para a História. Os estudantes da escola Ayotzinapa queriam arrecadar fundos para financiar uma viagem à capital mexicana para participar dos protestos de aniversário do Massacre de Tlatelolco. Mas eles não foram tão longe.
Em Iguala, a polícia parou o ônibus no qual eles viajam, abriu fogo e prendeu a maioria deles. Alguns conseguiram escapar, mas 43 desapareceram. Agora, exatamente 43 corpos carbonizados e mutilados foram encontrados em diversas valas comuns.
Apenas depois que a primeira vala foi encontrada, uma semana após o desaparecimento dos estudantes, o caso ganhou importância para autoridades do governo federal. A Procuradoria Geral da República, a nova Polícia Federal, chamada de Gendarmaria, e o Exército enviaram representantes para o estado de Guerrero.
Segundo informações oficiais, os policiais em Iguala agiram sob o comando de seu chefe local, que, no momento, está foragido. Fontes não oficiais, entretanto, afirmam que a ordem partiu de um dos chefes do narcotráfico, ligado ao prefeito. Quanto mais profunda é a investigação, menor é a confiança da população.
A história do Exército em Guerrero não é boa. Numerosos casos de "desaparecidos" e de abusos cometidos pelos militares têm sido pesquisados e documentados. A ONG Tlachinollan, que trabalha na região, recebeu em 2011 em Berlim o prêmio de Direitos Humanos da Anistia Internacional. No final daquele mesmo ano, dois estudantes da mesma escola Ayotzinapa foram mortos por policiais.
Um presidente para o social
O caso de Iguala poderia significar uma mudança. Mas como? O presidente do México, Enrique Peña Nieto, tomou posse com uma nova estratégia de segurança, voltada para conter a violência e fortalecer o Estado de Direito. Peña Nieto queria se diferenciar de seus antecessores ao conscientemente interromper a "guerra" contra o crime organizado, além de investir em prevenção social.
De fato, no seu governo, os gastos na área social aumentaram bem mais do que os com as áreas militar e de segurança. No entanto, essa estratégia parece ter falhado. Durante os 20 primeiros meses do governo Peña Nieto foram registrados 30 mil assassinatos, mais do que no mesmo período de governo do seu antecessor Felipe Calderón.
Agora já surgem teorias de conspiração: a suposta nova estratégia seria na realidade apenas um disfarce de um pacto com chefes do narcotráfico. A prisão de dois líderes de cartéis procurados há muito tempo, justamente nesta semana, é vista como uma prova disso.
As estatísticas podem ainda ser interpretadas de outra forma: nos primeiros meses deste ano a violência diminuiu significativamente pela primeira vez, de acordo com dados do governo. Mas os mexicanos não estão mais dispostos a dar tempo ao seu presidente. Muitos de seus antecessores não conseguiram conter a violência e a corrupção. Muitas vezes os mexicanos se decepcionaram.
Iguala poderia se tornar um símbolo não somente do fracasso de Peña Nieto, mas também do fim da violência do Estado no México? Em Guerrero, uma espécie de milícia foi formada para assumir com as próprias mãos a luta contra a máfia das drogas. O presidente precisará ganhar a confiança do povo antes de estabelecer a confiança nas instituições. Apenas condenar veemente os acontecimentos não é suficiente, ele precisa dar um sinal claro.
Os estudantes de Ayotzinapa tinham apenas 20 anos e faziam parte de uma turma que há um ano conseguia levar educação para comunidades indígenas em regiões pobres do México. Até agora, o presidente não chegou até lá.