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Opinião: Libaneses se colocaram como reféns do Hisbolá

7 de maio de 2018

Grupo xiita obteve ganhos significativos em eleições no Líbano. Triunfo de fundamentalistas financiados pelo Irã e que contribuíram para guerra na Síria é péssima notícia para o país e a região, opina Kersten Knipp.

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Apoiadora do Hisbolá segura cartaz do líder Sayyed Hassan Nasrallah
Apoiadora do Hisbolá segura cartaz do líder Sayyed Hassan NasrallahFoto: picture alliance/AP Photo/H. Malla

Parece ironia: a guerra da Síria, em que o grupo libanês Hisbolá interfere com más intenções, recai sobre o Líbano, e os eleitores locais esperam poder minorar as consequências desse conflito justamente com a ajuda dos fundamentalistas.

Segundo as primeiras projeções das urnas, juntamente com seus aliados, o Hisbolá ("Partido de Deus" em árabe) teria conquistado mais da metade dos assentos do Parlamento libanês. Ao que tudo indica, ele ficará agora encarregado de consertar o caos, para o qual contribuiu de forma significativa.

Kersten Knipp é jornalista da DW
Kersten Knipp é jornalista da DW

O Hisbolá terá que encontrar uma solução para os problemas que o país enfrenta sobretudo devido aos cerca de 1,5 milhão de refugiados sírios. Em termos de abrigo, abastecimento e mercado de trabalho, o país de 6 milhões de habitantes não está, nem de longe, pronto a receber tal volume de migrantes.

É fato que, neste ínterim, várias dezenas de milhares de sírios deixaram o Líbano. No entanto, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) expressou recentemente dúvidas de que essa retirada tenha sido totalmente voluntária.

Decerto não foram poucos os libaneses que votaram no Hisbolá na esperança de ele conter a corrupção que se alastra no país. Mas o principal problema são os refugiados, e tendo-os em vista, os libaneses escolheram o lobo como pastor. Pois a maioria dos sírios não deixou seu país tanto por causa das gangues terroristas à la "Estado Islâmico" (EI), mas sim por medo do regime de Bashar al-Assad – justamente aquele para cuja guerra o Hisbolá enviou à Síria milhares de combatentes.

O partido xiita é ainda responsável por mais um desdobramento sinistro no Oriente Médio: ele é cria do Irã, sendo financiado por este com até 800 milhões de dólares por ano. É óbvio que Teerã não faz isso por pura amizade: em contrapartida, as milícias do Hisbolá devem abrir para o regime dos mulás o caminho em direção a Israel.

Graças ao acordo nuclear, o Irã ganhou novas forças, as quais investe agora em projetos imperiais no Oriente Médio, mas, acima de tudo, na luta contra Israel, também com a ajuda do Hisbolá.

Desse modo, grande parte do eleitorado libanês se pronunciou a favor de uma legenda que até hoje não se destacou na política externa por uma atitude especialmente construtiva – para dizer o mínimo.

Pelo contrário: as passeatas do partido em seus redutos, inclusive com numerosas crianças marchando uniformizadas, dá a impressão de que ele promove um gigantesco projeto ideológico. Portanto há bons motivos para duvidar das intenções do Hisbolá.

Entre as primeiras reações, alguns políticos israelenses já declararam que para eles o Líbano e o Hisbolá passarão a ser a mesma coisa. Pode-se ver a situação assim: os libaneses se colocaram como reféns de sua maior milícia. Para a região, o triunfo dela é uma das piores notícias que se possa imaginar.

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Kersten Knipp
Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.