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Opinião: Merkel não anunciaria, na cervejaria, uma nova era

Dagmar Engel
29 de maio de 2017

A chanceler disse que acabou o tempo em que se pode confiar nos outros. Embora alguns vejam nisso o fim das relações transatlânticas, ela está longe de romper com os EUA, opina a jornalista Dagmar Engel.

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Dagmar Engel
Dagmar Engel é chefe da sucursal de Berlim da DW

Angela Merkel, a mais poderosa chefe de governo no mundo, poucas vezes gerou uma onda assim no outro lado do Atlântico: suas palavras estão sendo intensamente discutidas, já se fala até numa reviravolta histórica no relacionamento entre Alemanha e Estados Unidos. A intensidade das reações provavelmente surpreendeu Merkel, pois, afinal, ela nada mais fez do que declarar publicamente que, sejam quais forem as qualidades atribuídas ao presidente americano, Donald Trump, confiabilidade certamente não é uma delas.

Para ser mais preciso, ali não era – ou não era apenas – a chanceler falando, e sim principalmente a presidente da CDU, durante sua participação em um comício eleitoral. A chanceler trouxe a frustração da reunião do G7 ocorrida no fim de semana, e a presidente do partido, o conhecimento de que críticas aos EUA e, especialmente, a Trump são algo que os eleitores gostam de ouvir. O principal adversário na campanha eleitoral, os social-democratas, jogam este jogo faz algum tempo. E ambos descobriram a Europa.

Trump e o Brexit – os maremotos desencadeados pelas decisões americana e britânica fizeram despertar a Europa, seus cidadãos e cidadãs. Com uma postura pró-europeia, é possível ganhar eleições contra populistas, como demonstrou Emmanuel Macron na França. As chances para se fortalecer a União Europeia, para se continuar a escrever sua história, há tempos não eram tão grandes como no momento. E uma UE é um player em quem devemos confiar.

Ainda assim, isso não significa uma renúncia de Angela Merkels em relação aos EUA. A insatisfação dela com a política climática do presidente americano não pode ser tão grande que a leve a cancelar sua solidariedade com os EUA, princípio que já faz parte de sua própria história pessoal, como cidadã da Alemanha Oriental. O Apocalipse não chegou. Ele também não vai chegar em seis semanas, quando ocorre a cúpula do G20 em Hamburgo.

Agora, todos estão preparados para o fato de que "já se foi o tempo, de certa forma" em que é possível confiar nos outros, quer dizer: a cúpula do G20 possivelmente não será um enorme sucesso.

Então, que tenhamos calma. E quem ainda precisar de uma garantia: a líder da CDU e chanceler alemã certamente não iria anunciar o início de uma nova era em um evento eleitoral do partido irmão, a CSU, realizado em uma cervejaria. Pois essa chefe de governo tem mais estilo do que isso.