À primeira vista, 2016 parece ter sido um ano de sucesso para o presidente russo, Vladimir Putin: em relação a todas as principais palavras-chave do ano – Síria, Turquia, Brexit, crise de refugiados, Trump – o autocrata do Kremlin parece ter saído ganhando. Mas essa conclusão não deve ser tirada assim, às pressas. Pois a nova importância global de Moscou e a força da Rússia são superestimadas.
A Rússia só exibiu força na Síria em 2016 porque o Ocidente – especialmente os Estados Unidos – não se envolveu muito nos anos anteriores, afinal o presidente Barack Obama optou – à luz das intervenções equivocadas no Afeganistão, Iraque e Líbia – pela contenção militar na Síria.
Depois que Obama rejeitou uma intervenção contra o regime do presidente Bashar al-Assad foi criado um vácuo de poder nessa região conflituosa do Oriente Médio, usado por Putin para os seus objetivos. Com uma ação militar aérea reduzida e provavelmente algumas forças especiais no chão, a Rússia ajudou, em 2015 e 2016, com o apoio do Irã, a estabilizar o poder de Assad e a recolocar partes importantes do país sob o controle de Damasco. Mas é duvidoso se a Rússia é militarmente forte o suficiente para partir contra os combatentes do chamado "Estado Islâmico".
Também falta, à Rússia, força econômica para reconstruir a Síria do ditador Assad, devastada pela guerra. As atrocidades terríveis cometidas contra civis escondem a falta de uma estratégia russa de longo prazo para a Síria. Como ocorreu no leste da Ucrânia, o Kremlin só é capaz de espalhar guerra e violência. Para criar uma ordem estável e orientada para o futuro nas "zonas de influência" reivindicadas pelo país, faltam poder político e econômico à Rússia.
O Kremlin pode ser certamente considerado um beneficiário do Brexit, pois este coloca o futuro da União Europeia em questão. E também a eleição do republicano Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos cai muito bem para Putin. Pois sua arqui-inimiga Hillary Clinton teria sido, como presidente, um desafio muito maior. Mas segue sendo uma incógnita até que ponto o Brexit e um presidente Trump realmente serão vantajosos para a política russa em 2017.
Apesar da megalomania de poderio internacional do Kremlin, não se deve esquecer que a Rússia é um país economicamente fraco. A economia, já encolhida em anos anteriores, não cresceu também em 2016. Os rendimentos reais dos salários estão caindo. O fosso entre ricos e pobres está aumentando. A economia russa é – com os preços do petróleo, que continuam baixos – dependente das exportações de commodities. A indústria de transformação carece de inovação e de capital – enquanto capital russo, como sempre, continua a ser enviado para fora do país. Qualquer esforço de modernização dos anos anteriores foi completamente paralisado. Também em 2017 não devem ser esperadas reformas econômicas, porque o Kremlin irá impedir agitações em 2018 até a eleição presidencial russa em março. Estagnação econômica ou até mesmo uma queda ainda maior devem, portanto, continuar nos próximos anos, caso o preço do petróleo não aumente inesperadamente para níveis recorde.
Politicamente, o Kremlin controla o país ostensivamente: os poucos membros da oposição, organizações da sociedade civil e meios de comunicação livres são marginalizados pela repressão dos órgãos de segurança. A população também não se anima a fazer protestos. A baixa taxa de participação nas eleições parlamentares russas em setembro – principalmente nas grandes cidades – expôs a apatia política. No caso de turbulências econômicas, políticas ou sociais futuras, o sistema de poder de Putin pode perder aceitação rapidamente. Especialmente porque a confiança no funcionalismo russo, devido a corrupção e má gestão, é mais do que reduzida.
A Rússia de Putin não começa o novo ano necessariamente com o pé direito. Assim como Estados Unidos, Europa, Turquia, Japão, China, Brasil e muitos outros países, a Rússia vai estar diante de desafios significativos em 2017. Diante, disso, ninguém no Kremlin deveria se sentir especialmente vitorioso.