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Opinião: O jubileu de uma União Europeia em crise

Alexander Kudascheff
24 de março de 2017

A UE comemora os 60 anos de sua primeira versão, a CEE, em clima que, para muitos, não convida à festa. Ainda assim é um êxito incrível, e sua atual crise, uma chance, opina o ex-editor-chefe da DW Alexander Kudascheff.

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Alexander Kudascheff é ex-editor-chefe da DW
Alexander Kudascheff é ex-editor-chefe da DW

A União Europeia está em crise. Para muitos, parece a pior desde sua fundação, 60 anos atrás – embora os anos 1980 já tenham sido uma década de crises. Na época, falou-se de uma esclerose europeia superada pelo então presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors. Ele começou a criar o Mercado Comum e, sensatamente – ou melhor, astutamente –, sem grandes anúncios ou mesmo afirmando um "passo histórico", e sem uma visão retórica celebrada publicamente.

Em vez disso, foi um projeto de 300 passos, que ao fim automaticamente resultaram no Mercado Comum Europeu. Assim, dentro da então Comunidade Europeia – consideravelmente menor do que a atual UE – essa foi uma possibilidade política que pôde ser inventada e implementada por Bruxelas. Algo impensável, hoje em dia.

CEE, CE, UE: essas três siglas descrevem o desenvolvimento da União Europeia, a partir de uma Comunidade Econômica, passando por uma Comunidade Europeia.

Com meros seis Estados-membros, a primeira representou uma arrancada idealista após a devastadora Segunda Guerra Mundial; passou-se por uma comunidade em lenta expansão, que acolheria o Reino Unido, a Irlanda e mais tarde jovens democracias como Espanha, Portugal e Grécia; até se formar o bloco que hoje conta 28 países, com o ingresso dos do Leste Europeu.

Mas em breve deixará de contar com o Reino Unido, que volta a se retirar. Nada simboliza tanto a atual crise como o Brexit: um país sai da UE porque o povo assim quis – algo que ninguém poderia ter imaginado. Desde então, a dúvida de si mesmos atormenta os europeus – o que mostra a profundidade da crise.

Essa insegurança é aprofundada pela ascensão do populismo de direita, que encurrala os adeptos da UE. Em França, Holanda, Itália, Alemanha, em diversas nações do Centro e do Leste da Europa, por toda parte os direitistas e ultradireitistas bradam que a UE tem que acabar, é preciso dar fim ao monstro burocrático Bruxelas, abolir o euro. E eles encontram plateia – não uma maioria, graças a Deus, mas adeptos, que preferem voltar para o pseudo-idílio do Estado nacional.

E, no entanto, a UE é uma história de sucesso sem igual – apesar de seu tamanho, que lembra a muitos um "império ultraesticado". Ela garantiu a paz na Europa. E para saber o que paz significa, basta viajar ao Leste da Ucrânia e conversar com o povo.

O mercado comum e o livre-comércio possibilitaram uma incrível prosperidade. A solidariedade dos países mais ricos ajudou os mais pobres a ganharem terreno, reduzir sensivelmente o atraso. Os cidadãos podem viajar, os jovens podem estudar em qualquer lugar, é possível trabalhar e residir onde se quiser. Que utopia pareceria isso 60 anos atrás, pouco depois da devastadora Segunda Guerra Mundial. Ninguém teria acreditado.

É verdade: hoje em dia a UE regulamenta demais; ela não é suficientemente próxima dos cidadãos; não consegue sempre comunicar as próprias finalidades e o próprio sentido. Bruxelas é uma nave espacial; o euro não funciona como os seus pais (idealisticamente demais) esperavam; a proteção das fronteiras externas não é percebida como tarefa comunitária.

Há um abismo econômico norte-sul e leste-oeste, também por se ter aceitado cedo demais o ingresso de um país ou outro. E o aprofundamento e desenvolvimento da UE institucional muitas vezes sobrecarrega os governos nacionais, levando assim ao teimoso "não" e a frequentes bloqueios.

Os europeus precisam refletir sobre isso. Mas precisam também simplesmente constatar como se vive bem no Velho Continente. Fora isso, no momento milhares de jovens entram em formação, através de todo o bloco, para tornar audível e fortalecer o "pulso da Europa", e constituir uma voz contrária aos de direita (e por vezes também aos esquerdistas antiglobalização).

Na França, um europeu convicto tem a chance de se tornar presidente, na figura de Emmanuel Macron. Na Alemanha, com Angela Merkel e Martin Schulz, confrontam-se dois candidatos ao governo federal que não poderiam ser mais distintos, mas que são, ambos, incondicionalmente pró-Europa. Desse modo, há novamente a esperança realista de que o eixo franco-alemão volte a ser o motor de uma Europa que se renova. A crise também é uma chance.