Durante alguns dias, eles foram notícia em todo o mundo: hondurenhos – que inicialmente eram centenas e depois se tornaram milhares –, juntos com cidadãos de outros países vizinhos, se puseram na estrada em direção aos Estados Unidos com o sonho de uma vida melhor.
"Caravana" foi a palavra-chave que se consolidou em relação a essa marcha de desesperados para criticar o presidente americano, Donald Trump, e sua política migratória.
Em Honduras, a caravana trouxe à luz as profundas desigualdades sociais e a violência que seu presidente, o conservador Juan Orlando Hernández, não conseguiu controlar, mesmo depois de sua reeleição extremamente controversa.
Nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, esse fluxo crescente de pessoas foi explorado pelo populismo de direita como se fosse a encarnação de um pesadelo de que "massas estão 'nos' invadindo" e usado para fins de propaganda.
Uma cúpula do G20 depois, a "caravana" já havia deixado de ser notícia. O mundo tinha novamente outras notícias e preocupações. Cuidar dos refugiados que permaneciam no México ficou a cargo do novo presidente do país, Andrés Manuel López Obrador, mas que preferiu dedicar-se a outras prioridades depois que assumiu o posto.
O polêmico debate sobre o pacto global da ONU para a migração, alimentado por imagens da "caravana", deixou danos permanentes. E as pessoas retidas no México não têm apenas de lidar com seus sonhos fracassados, mas também com a crescente incompreensão de muitos moradores locais.
A exposição constante na imprensa e o apoio solícito de várias organizações humanitárias alimentaram, em alguns casos, as esperanças dos refugiados, o que sobrecarregou a tradicional disposição em ajudar dos mexicanos.
A "caravana" foi esquecida e compartilha o destino com os 3,3 milhões de venezuelanos que já deixaram o país, segundo estimativas da ONU. O número representa um em cada dez habitantes, e o êxodo continua.
Mas a fuga da Venezuela ocorre de forma constante, não em notáveis multidões. E o fluxo não segue para o norte, em direção a Donald Trump. Ali, paradoxalmente, os venezuelanos teriam mais chances de serem ouvidos, já que Trump gosta de polemizar contra a ditadura pseudo-socialista de Nicolás Maduro.
A crítica dos Estados Unidos, no entanto, vem do lado errado e só contribui para estabilizar Maduro. Nada é mais odiado na América Latina do que o intervencionismo americano.
Além disso, é preciso considerar que a esquerda global continua romantizando a revolução bolivariana. Assim, é difícil chamar a crise pelo nome que merece e identificar o "socialismo do século 21" como sua origem.
Por outro lado, embora os governos conservadores da América Latina compartilhem fortes críticas a Maduro e suas políticas, eles não podem e não querem arcar sozinhos com o ônus da migração.
O Chile acabou não assinando o pacto da ONU para a migração, e, na Colômbia, o novo presidente Iván Duque venceu a eleição alertando contra a "venezuelanização" do país caso a esquerda vencesse. Nada disso melhora a popularidade dos refugiados da Venezuela.
Também é verdade que os venezuelanos já não fogem mais da ditadura, mas da fome e da violência cotidiana, assim como os hondurenhos, guatemaltecos e salvadorenhos.
Todos eles são instrumentalizados por diferentes interesses políticos. As pessoas e os países que os recebem – especialmente a Colômbia – são em grande parte deixados à própria sorte.
Os movimentos de refugiados na América Latina têm diferentes causas, mas também um denominador comum: a miséria e o sofrimento – e esses sentimentos não conhecem nenhuma ideologia.
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