Recuperação da economia europeia será prioridade de Juncker
22 de outubro de 2014Jean-Claude Juncker é uma das pessoas mais bem conectadas na política da União Europeia (UE). Ele conhece todos, e todos o conhecem. Nos últimos 20 anos, o social-cristão já participou de alguma negociação ou fechou algum acordo com a maioria das principais figuras do bloco.
Ele está há mais tempo em Bruxelas e Estraburgo do que qualquer outro. Como chefe do Eurogrupo por muitos anos, também conhece os altos e baixos da política monetária e econômica europeia.
Juncker não tem medo dos monstros sagrados da UE. Ele fala sem rodeios com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, ou o presidente francês, François Hollande. Essas são pré-condições fundamentais para a gigantesca tarefa que terá que enfrentar agora, a poucas semanas de seu 60º aniversário.
Economia e revitalização da conjuntura são os dois focos da Comissão Europeia sob Juncker. A UE segue enfrentando uma crise econômica, enquanto outras regiões do mundo há muito já superaram os efeitos da crise financeira de 2008 e 2009. Juncker é contra tanto o curso estrito de austeridade quanto o endividamento. Isso é típico dele, que prefere um meio termo entre a receita alemã e a francesa.
Para realizar sua meta, de investimentos sem novas dívidas, quer reunir, até o fim do ano, 300 bilhões de euros. Trata-se de um objetivo ambicioso, que Juncker não revelou como pretende alcançar, em seu discurso de posse. A nova Comissão Europeia precisa possibilitar a reindustrialização do bloco sem abrir mão dos padrões sociais e das metas climáticas. E isso sem um endividamento adicional nem sacrifícios financeiros para os contribuintes dos países-membros.
O critério para julgar o sucesso de Juncker será sua capacidade de fechar o profundo fosso entre os inimigos do endividamento, encabeçados pela Alemanha, e aqueles que tendem a se endividar, liderados por França e Itália. Ele espera de si mesmo ser uma "máquina de acordos".
Depois de inicialmente se mostrar hesitante na candidatura à presidência da Comissão Europeia, Juncker parece ter reunido novas energias depois das eleições europeias e pelos meses do verão adentro.
Isso poderá ajudá-lo a se mostrar mais convincente do que seu antecessor, José Manuel Durão Barroso. O português era muito dependente dos chefes de governo conservadores, sobretudo de Merkel. Em Bruxelas, há quem tenha esperanças de um novo Jacques Delors, o lendário chefe da Comissão Europeia que implementou reformas abrangentes na década de 80.
Contudo, hoje a UE é muito mais complexa do que há 25 anos. Reduziu-se o poder da Comissão, no contexto das instituições europeias. O Conselho Europeu, em que os Estados-membros estão representados, e o Parlamento são capazes de controlá-la muito mais do que antes. Naturalmente Juncker não pode atuar independentemente dos chefes de Estado e governo, mas pode utilizar melhor do que Barroso os espaços de que dispõe.
Juncker não está sozinho em sua missão. Ele conta com 27 comissários, enviados pelos países-membros, com qualificações bem diversificadas para os seus novos empregos. O líder da Comissão tenciona tornar mais eficiente a atividade dessa trupe bem variada através de sete vice-presidentes e uma complexa estrutura de grupos de trabalho. É um experimento interessante: se dará certo, ninguém sabe ainda dizer.
O político social-cristão luxemburguês dispõe de muita experiência, mas ainda precisa aprender a liderar uma repartição com mais de 30 mil funcionários. Até agora, ele foi primeiro-ministro de um Estado-anão, onde todos se conhecem. Luxemburgo tem apenas 500 mil habitantes. Agora, Juncker está encarregado de 500 milhões.
O novo chefe da Comissão Europeia tem a seu favor o fato de ter saído de um processo democrático, como candidato de ponta nas eleições europeias. Ele quer diminuir a burocracia e deixar claro aos cidadãos por que eles precisam da União Europeia – algo urgentemente necessário diante da imagem ruim que as autoridades em Bruxelas têm em muitos países-membros.
A verdadeira prova de fogo será a capacidade de Juncker de manter os britânicos na UE. Mas ele terá que encontrar uma resposta para o ceticismo antieuropeu não apenas no Reino Unido, como também na França, na Itália ou na Hungria. As condições para isso não são boas, uma vez que tanto britânicos quanto húngaros rejeitaram a velha raposa de Luxemburgo como chefe da Comissão.