Quem viaja pela Alemanha por estes dias vivencia um país dividido. Há regiões que, a rigor, parecem estar como sempre: um discreto cartaz eleitoral aqui ou ali, nada mais. E há lugares em que pelo menos dois rostos sorriem em cada poste de luz, gigantescos murais decoram cada pracinha, e no sábado é impossível ir à feira sem ser assediado por um candidato.
A que se deve essa diferença? Em nove dos 16 estados federados transcorrem neste domingo (26/05) as eleições municipais, e em Bremen se elege o parlamento estadual. Nessas localidades – e só nessas – luta-se por cada voto e por cada mandato, com toda força e sem poupar material.
Qual lição se tira disso? Apesar de todo o palavreado sobre uma suposta eleição decisiva para a União Europeia, parece que, pelos menos para os partidos alemães, os conselhos comunais no Sarre ou na Saxônia ainda são mais importantes do que o Parlamento Europeu. E essa exausta campanha europeia está ainda mais longe do empenho que cerca as eleições para o Bundestag (Parlamento alemão) no país.
Tais não são as melhores condições para elevar a participação daqueles menos de 48% alcançados no pleito parlamentar europeu de 2014 – o que já foi vergonhosamente pouco em termos de Alemanha, mas, ainda assim, cinco pontos percentuais acima da média da União Europeia. O recorde negativo coube à Eslováquia, onde apenas 13% do eleitorado encontrou o caminho para as urnas.
Desta vez tudo deve ser melhor, acreditam os especialistas em demoscopia, apontando uma mobilização nitidamente mais alta em todo o bloco. Segundo os pesquisadores de opinião, o motivo para tal é óbvio: o temor de uma maciça guinada para a direita estaria impelindo as cidadãs e cidadãos às seções eleitorais.
A dedução não poderia ser mais equivocada: também em quase todas as votações dos últimos anos a participação alemã nas urnas cresceu, e apesar disso os populistas de direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) alcançaram, na maioria dos casos, resultados muito bons.
Antes a regra fora sempre que, quanto maior a participação eleitoral, menor o sucesso das legendas nos extremos do espectro político. Agora, ao contrário, deve-se tomar consciência de que sobretudo os populistas de direita conquistam para si numerosos eleitores que antes ficavam em casa.
O desempenho dos ultradireitistas será, sem dúvida, o tema decisivo da noite de domingo na Europa. Será que o escândalo do vídeo de Ibiza terá consequências para seu resultado na Áustria? Ou será que eles alcançarão, por todo o bloco, os 20%, talvez até 25%, que preveem alguns estatísticos? E, caso tal previsão se confirme: o que isso significa para a UE? Será esse de fato o princípio do fim de sua história de sucesso?
Não, a despeito de todas as ondas de choque que um resultado de 25% para a extrema direita em nível europeu certamente provocaria, a coisa não é tão fácil assim. A primeira pré-condição seria os populistas e nacionalistas da Europa entrarem em acordo e se unirem numa bancada conjunta no Parlamento Europeu. No momento há três.
Nacionalistas de todas as nações, uni-vos? A contradição é evidente, e o perigo de uma ameaça à UE a partir do Parlamento, proporcionalmente pequena. Cada governo nacionalista ou populista de direita é capaz de causar danos bem piores através de bloqueios nos conselhos ministeriais e conferências de cúpula.
Não, para a legitimação e futura força do Parlamento Europeu, vale muito mais dizer que os grandes desprezadores da democracia e da Europa unida são aqueles que não se importam com nenhuma dessas duas coisas, e que, por isso, nem sequer vão votar.
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