Viagem de Merkel
6 de fevereiro de 2007O conflito no Oriente Médio já foi uma noz dura de roer para muitos outros, por exemplo, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton. Num ponto em que tantos fracassaram, as esperanças da chanceler federal alemã, Angela Merkel, não podem ter sido muito grandes.
Ainda assim, ela escolheu o Oriente Médio para sua mais longa viagem oficial ao exterior. E levava consigo uma mensagem clara: o processo de paz precisa ser reativado, e a Alemanha e a Europa estão dispostas a contribuir para seu sucesso.
Até aí tudo bem: desde a vitória do grupo radical islâmico Hamas nas eleições há um ano, a Europa não empreendeu nenhum esforço sério para acabar com as hostilidades entre israelenses e palestinos.
Também nos Estados Unidos houve uma mudança na política para o Oriente Médio: às repetidas tentativas de mediação de Bill Clinton seguiu-se uma abstenção de George W. Bush nesta questão. E, nas poucas vezes em que ele se manifestou a respeito do conflito, foi sempre com apoio incondicional a Israel.
A guerra no Iraque, o conflito em torno do programa iraniano de enriquecimento de urânio, a guerra no Líbano e o conflito fratricida entre os palestinos só contribuíram para agravar ainda mais a situação. Mas eles também fizeram soar todos os sinais de alarme: é preciso que se faça alguma coisa.
Por sua atitude partidária, os EUA não se adequam tanto a tentar ressuscitar o processo de paz. Já os europeus têm melhores cartas, mesmo sabendo que nada pode ser feito sem a participação de Washington. E muito menos sem a boa vontade das partes conflitantes.
A tentativa de Angela Merkel de reativar o Quarteto do Oriente Médio – União Européia, EUA, ONU e Rússia – é, portanto, bem-vinda. No entanto, o primeiro encontro após meses de inatividade mostrou que é preciso primeiramente que os palestinos superem suas diferenças e cheguem a um consenso sobre uma política mais conciliadora em relação a Israel. Neste caso a Europa só pode fazer muito pouco, mas pode bem apoiar os egípcios e os sauditas em seus esforços.
Vista sob este prisma, a visita da chanceler federal no Cairo e em Riad foi uma contribuição positiva – ainda que modesta. Uma contribuição para a solução do conflito entre israelenses e palestinos que se restringe principalmente a mostrar que existe um consenso internacional quanto à necessidade de pôr um ponto final nesse conflito. Mas o caminho até que o processo de paz deslanche de fato é ainda muito longo.
Os problemas no Líbano, o conflito com o Irã e a situação no Iraque foram deixados totalmente de lado nesta viagem da chanceler federal. E aqui também ainda há muito o que fazer.
Peter Philipp é chefe da equipe de correspondentes da Deutsche Welle e especialista em Oriente Médio.