Opinião: A Europa espera pela Alemanha
7 de fevereiro de 2018Eles conseguiram. Até que enfim. E estão exaustos. Exatos 135 dias depois das eleições legislativas alemãs e após uma luta aparentemente interminável, os partidos conservadores CDU e CSU, liderados pela chanceler alemã Angela Merkel, e os social-democratas apresentaram um acordo para formar uma coalizão de governo.
A grande negociação, porém, será seguida de um período de apreensão. É que, para as próximas semanas, o programa acordado é apenas um documento de boas intenções. Eles ainda não chegaram ao objetivo. Mas, pelo menos, a Alemanha conseguiu se aproximar mais da formação de um governo.
A importância desse avanço fica evidente quando se olha para a agenda de quinta-feira (08/02) da chanceler: ao meio-dia, ela recebe o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e à noite o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
A Europa espera pela Alemanha, esta forte potência na União Europeia ao lado da França de Emmanuel Macron. E faz tempo que o bloco espera. A janela para reformas na UE, que também consta do programa de governo estabelecido na Alemanha, já está diminuindo.
A Europa é um dos pontos mais importantes desse contrato de coalizão – e, dependendo de como se lê, até pode ser visto como a questão central do programa. É que ele também inclui temas relacionados à política externa, que voltaram a ser abertos na reta final das negociações.
Na política interna, até o momento, está difícil identificar um conceito orientador. É notável que, diante de um debate sobre identidade e globalização na sociedade alemã – um assunto que não é apenas populista –, o conceito "pátria" apareça no título do Ministério do Interior (na Baviera, isso já existe há mais tempo).
A dimensão e a riqueza de detalhes do consenso de mais de 150 páginas demonstram cuidado na regulamentação, mas também representam a falta de confiança dos parceiros de negociação. O Parlamento alemão vai receber um calhamaço para processar durante os três anos e meio que restam para o fim da atual legislatura. Os impulsos vêm das cúpulas dos três partidos que integram a coalizão e não, em primeiro lugar, dos parlamentares alemães.
Ainda assim, o acordo ainda deverá enfrentar um teste decisivo: no Partido Social-Democrata (SPD), ainda precisa superar o obstáculo do aval dos membros da legenda. Em 2013, isso não foi problema – mais de três quartos da base aprovaram o contrato.
Em 2018, vai ser diferente. No congresso nacional do partido, apenas 56% dos delegados se disseram a favor da participação em negociações de governo. E os opositores a uma nova "grande coalizão", especialmente entre a ala jovem social-democrata, lutam há tempos por um "não" na decisão dos 464 mil membros do partido –24 mil dos quais aderiram nas últimas quatro semanas.
Mas a lista de ministros que começou a vazar na imprensa mostra a tenacidade com que os social-democratas lutaram noite adentro. Os ministérios que o SPD deverá assumir surpreendem. Na verdade, o partido não poderia mesmo ter alcançado mais do que isso.
E chama a atenção especialmente o fato de que o ministério do Exterior e o das Finanças deverão ser social-democratas. Até hoje, pastas que controlam umas às outras sempre foram para as mãos de partidos diferentes.
Fica a imponderabilidade da decisão dos membros do SPD. Mas, do lado dos partidos conservadores, não será menos emocionante, já que o sucesso das negociações de um lado significa ceder do outro lado. Angela Merkel, presidente da CDU, falou em "concessões dolorosas" quando chegou à última rodada de negociações, na terça-feira (06/02). O acordo agora mostra o que ela quis dizer com isso.
Merkel terá que administrar essa dor entre a sua base. A CDU não precisa do aval dos membros do partido, nem enfrentará um congresso. Mas os resmungos sobre sua a presidente no interior da legenda não vão silenciar.
Este novo passo rumo à coalizão de governo é bom e, ao mesmo tempo, tardio. A Alemanha já está há tempo demais (135 dias) funcionando com um governo interino, com capacidade restrita de ação. Apesar de todo o alívio atual, os últimos obstáculos só serão superados em março. Já será hora.