"A Suécia foi atacada. Tudo aponta para um ato terrorista." As palavras do primeiro-ministro Stefan Löfven vieram rápidas e inequívocas. Antes mesmo de serem divulgadas informações sobre a identidade e motivação do suposto criminoso de Estocolmo, ele praticamente corroborava a tese de terrorismo.
Algumas horas mais tarde, num comunicado detalhado, Löfven se mostrou mais cauteloso, apenas dizendo que a polícia investigava o atentado como "presumível terrorismo".
Mais do que mera minúcia, tal distinção é essencial para o modo como uma sociedade aberta se protege de seus inimigos: se ela já capitula ao condenar prematuramente, alastrando assim o pânico, ou se primeiro procura conhecer os fatos antes de se pronunciar sentenças.
Os circunlóquios de Löfven são sintomáticos de uma época marcada por terríveis atentados terroristas na Europa. Paris, Nice e Berlim são apenas os exemplos mais recentes que a maioria dos cidadãos guarda na memória. A vida nessas cidades continua exatamente como antes dos atos criminosos. Quem agora evita grandes eventos e locais públicos está simplesmente se curvando diante dos terroristas – é um argumento tão usual quanto coerente.
Também na Suécia não vai mudar muita coisa por causa desse ataque. Na própria sexta-feira (07/04), ainda só se referindo ao "presumível terror", o premiê exortou que se preservem a liberdade e a democracia, e foi elogiado por suas palavras.
"O alvo do terror é minar a democracia, cravar uma cunha entre as pessoas para que cada vez mais comecem a se odiar e desconfiar umas das outras. Mas tais atos jamais terão sucesso na Suécia", afirmou Löfven.
E no entanto já existe, sim, na Suécia, uma espécie de cunha separando os cidadãos. Pois, segundo sondagens recentes, 18% dos eleitores votariam no ultradireitista Democratas Suecos (SD). Desse modo, o partido com conexões na cena radical de direita está situado um pouco à frente dos liberais e bem atrás dos social-democratas de Löfven.
O SD, que rejeita a sociedade aberta sueca, provavelmente se fortaleceu por que, durante décadas, deixou de abordar os problemas de integração no país em vez de encarar de frente o fato de que a integração bem-sucedida não é algo que cai do céu, mas sim exige empenho de ambos os lados.
A zona de pedestres de Drottninggatan, no coração de Estocolmo, sobre a qual o caminhão avançou contra pedestres na sexta-feira, já foi duas vezes palco de delitos semelhantes na última década e meia.
Em 2010, a apenas uns 100 metros da loja de departamentos contra a qual agora o veículo acabou por se chocar, um sueco natural do Iraque se explodiu. Felizmente ele foi o único a perder a vida no atentado de motivação islamista. Em 2003, um homem de 50 anos avançou de carro pelo centro histórico, ao sul da rua de comércio, matando dois transeuntes. O autor foi considerado mentalmente doente, mas sem motivações políticas ou religiosas.
O terrorismo está longe de ser o único perigo a que estamos expostos. O chefe de governo Löfven participava de uma cerimônia em memória de três jovens vítimas de um acidente de ônibus, antes de ter que retornar a Estocolmo, devido ao atentado.
Lidar de forma ponderada com o perigo terrorista significa também não superestimá-lo, e sim dar-lhe o devido peso, proporcional aos demais riscos. Os atos violentos que visam atacar a sociedade aberta alcançam seu alvo com tão mais sucesso, quanto mais se reaja com pânico a eles.
Devemos também tomar essa lição da Suécia. O terrorismo na Europa é a mosca numa loja de porcelana, comparou o historiador israelense Yuval Noah Harari, em março, numa entrevista à revista alemã Der Spiegel. Em si, essa mosca não é capaz de causar qualquer dano – até que pousa na orelha de um elefante. Nós todos precisamos atentar para não nos transformarmos nesse elefante.