Alemanha tirou lições da Segunda Guerra Mundial
1 de setembro de 2014Há 75 anos começou a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha, o "Terceiro Reich", atacou a Polônia, arrastando, assim, todo o mundo para um conflito que, ao longo de seis anos, alastrou-se pela Europa, África, Oriente Médio e a região do Pacífico, onde o Japão também desencadeara a guerra. Sessenta nações estiveram envolvidas, 110 milhões de pessoas pegaram em armas.
Ao fim, entre 60 milhões e 70 milhões morreram, 6 milhões de judeus foram exterminados no Holocausto. A Europa estava arrasada. A Alemanha, vencida e dividida, e milhões de pessoas haviam sido expulsas ou deportadas. E pela primeira e, até agora, última, armas nucleares haviam sido empregadas numa guerra, em Hiroshima e Nagasaki.
Não houve nem há, até hoje, a menor dúvida quanto ao culpado pelo conflito – ao contrário dos debates históricos em torno da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha quisera e provocara a Segunda Guerra, da qual saiu não apenas vencida, mas destruída.
Depois do Holocausto, o país passou a carregar a marca do crime do milênio. Mais de 9 milhões de alemães estavam mortos, entre os quais mais de 3 milhões de civis. As cidades haviam sucumbido aos bombardeios. A Alemanha perdera uma parte de seu território, no leste, 12 milhões de habitantes haviam sido expulsos. Após essa guerra devastadora, a nação jazia no chão.
Depois disso, a parte oeste da Alemanha dividida se recuperou, primeiro econômica, depois politicamente. Na confrontação entre blocos da Guerra Fria, a República Federal da Alemanha se afirmou como parte do Ocidente, até do ponto de vista militar, ao ingressar na Otan.
Mais tarde, foi membro fundador da Comunidade Econômica Europeia, a célula germinal da atual União Europeia. E daí tirou a primeira lição básica da Segunda Guerra: ela queria ser uma Alemanha europeia, parceira das democracias, procurou aliados na Europa e para além do Oceano Atlântico, nos Estados Unidos. Incursões políticas solitárias eram tabu.
A segunda grande lição do conflito mundial foi o "não" à guerra, o "não" ao inferno na terra. A filiação à Otan, logo após o rearmamento, mais tarde o reforço bélico no contexto da Dupla Resolução da Otan de 1979 – tudo isso foi encarado pelos alemães com ceticismo extremo ou simplesmente rejeitado.
E até hoje, 25 anos após a Reunificação, a grande maioria dos alemães rejeita a guerra, mesmo como último recurso da política. E toda vez que um governo alemão precisa se engajar militarmente ao lado de seus parceiros e aliados – seja no Kosovo, seja no Afeganistão – há debates ferrenhos e quase nunca apoio entre a população.
Por isso é espantoso que, há alguns anos, a Alemanha haja abolido o serviço militar compulsório – embora mais por razões financeiras do que por considerações estratégicas – e agora comece a criar um exército profissional, com o fim declarado de estar apto a atuar como parceiro forte em intervenções militares.
O espantoso aqui é que justamente essas operações militares são mais do que controversas e praticamente só conseguem ser impostas sem o aval da população.
E, desse modo, a segunda grande lição, "Guerra nunca mais!", se tornou um autoengano alemão. Toda vez que é exigida a cooperação alemã numa missão militar, a política se contorce, sublinha os aspectos humanitários ou invoca logo um genocídio para tentar, talvez, convencer a população – geralmente sem sucesso.
Há 75 anos começou a Segunda Guerra, desencadeada pelos alemães. Hoje, a Alemanha é um gigante econômico, também a caminho de se tornar uma protagonista da política mundial. Um papel que não é bem-visto pelos alemães, que prefeririam ser uma "Suíça verde".
Mas esses tempos se foram. Da Alemanha, esperam-se liderança política na aliança ocidental e contribuições militares relevantes. E também um comportamento discreto. E isso corresponde a uma terceira lição: comportamento fanfarrão, prepotente até, não é mais o jeito dos alemães.