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Alemanha tirou lições da Segunda Guerra Mundial

Alexander Kudascheff (av)1 de setembro de 2014

Em 1º de setembro de 1939, os alemães deram início ao segundo grande conflito do século. Ao fim, estavam vencidos e arrasados. Mas aprenderam três lições importantes, afirma o editor-chefe da DW, Alexander Kudascheff.

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Há 75 anos começou a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha, o "Terceiro Reich", atacou a Polônia, arrastando, assim, todo o mundo para um conflito que, ao longo de seis anos, alastrou-se pela Europa, África, Oriente Médio e a região do Pacífico, onde o Japão também desencadeara a guerra. Sessenta nações estiveram envolvidas, 110 milhões de pessoas pegaram em armas.

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Alexander Kudascheff, editor-chefe da DWFoto: DW/M. Müller

Ao fim, entre 60 milhões e 70 milhões morreram, 6 milhões de judeus foram exterminados no Holocausto. A Europa estava arrasada. A Alemanha, vencida e dividida, e milhões de pessoas haviam sido expulsas ou deportadas. E pela primeira e, até agora, última, armas nucleares haviam sido empregadas numa guerra, em Hiroshima e Nagasaki.

Não houve nem há, até hoje, a menor dúvida quanto ao culpado pelo conflito – ao contrário dos debates históricos em torno da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha quisera e provocara a Segunda Guerra, da qual saiu não apenas vencida, mas destruída.

Depois do Holocausto, o país passou a carregar a marca do crime do milênio. Mais de 9 milhões de alemães estavam mortos, entre os quais mais de 3 milhões de civis. As cidades haviam sucumbido aos bombardeios. A Alemanha perdera uma parte de seu território, no leste, 12 milhões de habitantes haviam sido expulsos. Após essa guerra devastadora, a nação jazia no chão.

Depois disso, a parte oeste da Alemanha dividida se recuperou, primeiro econômica, depois politicamente. Na confrontação entre blocos da Guerra Fria, a República Federal da Alemanha se afirmou como parte do Ocidente, até do ponto de vista militar, ao ingressar na Otan.

Mais tarde, foi membro fundador da Comunidade Econômica Europeia, a célula germinal da atual União Europeia. E daí tirou a primeira lição básica da Segunda Guerra: ela queria ser uma Alemanha europeia, parceira das democracias, procurou aliados na Europa e para além do Oceano Atlântico, nos Estados Unidos. Incursões políticas solitárias eram tabu.

A segunda grande lição do conflito mundial foi o "não" à guerra, o "não" ao inferno na terra. A filiação à Otan, logo após o rearmamento, mais tarde o reforço bélico no contexto da Dupla Resolução da Otan de 1979 – tudo isso foi encarado pelos alemães com ceticismo extremo ou simplesmente rejeitado.

E até hoje, 25 anos após a Reunificação, a grande maioria dos alemães rejeita a guerra, mesmo como último recurso da política. E toda vez que um governo alemão precisa se engajar militarmente ao lado de seus parceiros e aliados – seja no Kosovo, seja no Afeganistão – há debates ferrenhos e quase nunca apoio entre a população.

Por isso é espantoso que, há alguns anos, a Alemanha haja abolido o serviço militar compulsório – embora mais por razões financeiras do que por considerações estratégicas – e agora comece a criar um exército profissional, com o fim declarado de estar apto a atuar como parceiro forte em intervenções militares.

O espantoso aqui é que justamente essas operações militares são mais do que controversas e praticamente só conseguem ser impostas sem o aval da população.

E, desse modo, a segunda grande lição, "Guerra nunca mais!", se tornou um autoengano alemão. Toda vez que é exigida a cooperação alemã numa missão militar, a política se contorce, sublinha os aspectos humanitários ou invoca logo um genocídio para tentar, talvez, convencer a população – geralmente sem sucesso.

Há 75 anos começou a Segunda Guerra, desencadeada pelos alemães. Hoje, a Alemanha é um gigante econômico, também a caminho de se tornar uma protagonista da política mundial. Um papel que não é bem-visto pelos alemães, que prefeririam ser uma "Suíça verde".

Mas esses tempos se foram. Da Alemanha, esperam-se liderança política na aliança ocidental e contribuições militares relevantes. E também um comportamento discreto. E isso corresponde a uma terceira lição: comportamento fanfarrão, prepotente até, não é mais o jeito dos alemães.