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Cartas na mesa

11 de setembro de 2018

Uma incerteza a menos na eleição presidencial brasileira: Haddad é o candidato do PT ao Planalto. Seria bom se agora os candidatos pudessem, enfim, se concentrar nos problemas do país, opina editora-chefe da DW Brasil.

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Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad juntos em São Paulo, em 2012, em evento de campanha
Fernando Haddad (dir.) é oficializado candidato do PT à Presidência. Na foto, Lula em campanha para Haddad em 2012.Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba

Depois de um mês de campanha eleitoral tumultuada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu Partido dos Trabalhadores acataram a ordem da Justiça Eleitoral e passaram o bastão da disputa presidencial ao sucessor de Lula, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad.

Já não era sem tempo. Lula está inelegível e sabe disso. É o que prevê a Lei da Ficha Limpa, aprovada com o apoio de milhões de brasileiros e assinada por ele próprio – uma das muitas coisas boas que o ex-presidente fez pelo país. Agora é preciso respeitá-la.

Lula decepcionou aqueles que esperavam dele uma postura de estadista, que pusesse os interesses do país à frente dos próprios. O esperneio do PT para manter a candidatura do ex-presidente colaborou para acirrar os ânimos da população, que chegou a um nível de radicalismo tal que não se pode mais descartar a possibilidade de o país ser empurrado para uma protoditadura voluntária.

O candidato populista de direita Jair Bolsonaro segue como favorito no primeiro turno das eleições, de acordo com a pesquisa de intenção de voto divulgada pelo Instituto Datafolha nesta segunda-feira (10/09). E o voto no primeiro turno desta eleição será decisivo, pois em segundo lugar vêm quatro candidatos tecnicamente empatados, o que aponta para um segundo turno completamente imprevisível.

Apesar do favoritismo, Bolsonaro também é o campeão de rejeição – 43% dos eleitores não votariam nele de jeito nenhum. Esse dado é importante, visto que, no pleito deste ano, os eleitores parecem mais empenhados em voltar contra alguns candidados do que a favor de outros.

Assim, na simulação de segundo turno, Bolsonaro perde para qualquer adversário – num fenômeno parecido com o de Marine Le Pen na França. Até mesmo Haddad, que nem candidato era quando a pesquisa foi feita, parece bater o capitão reformado do Exército.

Mas essa é a década dos sustos políticos mundo afora, e nenhum cenário está descartado. Mesmo que Haddad herde boa parte dos votos que seriam de Lula – ele já saltou de 1% para 9% das intenções de voto desde junho – e consiga avançar para o segundo turno, ele também herdará o ódio contra o PT. Diante de tantas variáveis, é impossível prever o futuro do Brasil.

Quem sabe com o fim da insegurança sobre o processo eleitoral, os candidatos possam, enfim, se concentrar em propostas para recuperar o país. Pois depois de quatro anos de crise política e econômica, dois anos de um governo ilegítimo e lamentáveis retrocessos nos indicadores sociais, os brasileiros querem virar a página. Eles têm agora pouco mais de um mês para escrever uma nova história. Tomara que não seja de terror.