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Opinião: Crise turca pode respingar na economia europeia

13 de agosto de 2018

Paira agora sobre a Europa o medo de um efeito dominó. Fuga de capitais, colapso da moeda: isso acaba alimentando preocupações de que empresas e bancos turcos não possam mais pagar suas dívidas.

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Turcos não seguem pedido do presidente e preferem levar divisas estrangeiras para casaFoto: Reuters/M. Sezer

Não adianta tampar o Sol com a peneira: é claro que o Fundo Monetário Internacional (FMI) já guarda há muito tempo na gaveta um plano emergencial para a Turquia. Mas também é claro que ninguém vai confirmar isso. A situação estava assim em 2002. A Turquia era um país instável, sua inflação girava em torno de 40%, e o desemprego era extremamente alto.

Somente com empréstimos do FMI, a falência estatal pôde ser evitada naquele momento. O partido do presidente Recep Tayyip Erdogan, o AKP, chegou ao poder naquele ano. As condições impostas pelo FMI a todos os países receptores foram implementadas com sucesso pelo então governo turco e seu primeiro-ministro. Na época, o premiê se chamava: Recep Tayyip Erdogan.

Na sequência, a economia turca desenvolveu-se admiravelmente, com a criação de muitos novos empregos e a queda da inflação para abaixo de 10%. A Turquia tornou-se um local interessante para os investidores estrangeiros.

Os turcos voltaram a ganhar bem, aplaudindo Erdogan. Ele lhes trouxera uma nova prosperidade – e estabilidade política para o país. E não se deve esquecer: quando a crise do euro estourou, e a Grécia ameaçou entrar em colapso, a Turquia sempre foi mencionada como um modelo de como sair de uma situação aparentemente sem esperança. Mas tudo isso parece agora estar em perigo.

As sanções dos EUA ao aço e ao alumínio da Turquia, que entram em vigor nesta segunda-feira (13/08) foram apenas a gota d'água. Porque a crise já corrói há meses a economia do país. A lira turca perdeu mais da metade de seu valor em relação ao dólar desde o início do ano. Atualmente, a inflação está novamente acima de 15%.

Tudo isso será, mais cedo ou mais tarde, sentido pelo povo turco. Aqueles que um dia saudaram o reformador de sua economia por lhes proporcionar mais riqueza se afastarão de Erdogan quando perderem seus empregos ou não puderem mais manter seu padrão de vida.

No entanto, para o presidente turco, que levou seu país a essa situação por meio de sua política autocrática, a culpa é dos outros, é claro. As armas desta guerra são "dólares, euros ou ouro", reiterou Erdogan neste fim de semana.

Mas o fato de ele ter questionado repetidas vezes a independência do Banco Central – uma circunstância que sempre assusta investidores –; de ele ter defendido, ao contrário da teoria econômica corrente, cortar as taxas de juros para combater a inflação e fortalecer a moeda: tudo isso leva a uma crescente perda de confiança entre os credores e por parte "dos mercados". O resultado agora pode ser visto: teve início uma enorme fuga de capitais, cujo impacto também afetou as moedas de outros países emergentes.

E os próprios turcos, instados pelo presidente a trocar seus dólares e euros pela lira, fazem exatamente o contrário: preferem sacar suas divisas do banco e guardá-las em casa.

Naturalmente, paira agora sobre a Europa o medo de um efeito dominó. Porque os investidores só se importam com uma coisa: o dinheiro deles. Fuga de capitais, colapso da moeda: isso alimenta, com razão, preocupações de que empresas e bancos turcos não possam mais pagar suas dívidas.

Mas a situação ainda parece administrável: de acordo com números atuais coletados pelo banco holandês ABN Amro, as obrigações junto a bancos europeus somam 143 bilhões de euros. Afetados estão, principalmente, o espanhol BBVA e o italiano Unicredit. Os riscos para os institutos financeiros alemães giram em torno de gerenciáveis 18 a 20 bilhões de euros.

É claro que ninguém está interessado num colapso econômico da Turquia. Mas também o medo não precisa circular na Europa. Atualmente, as economias da zona do euro estão novamente estáveis, de forma que podem resistir a alguns choques, inclusive vindos do Bósforo.

Uma recessão turca acrescentaria, naturalmente, mais um fator a todas as incertezas: o Brexit ainda pouco definido e a política (comercial) imprevisível do presidente dos Estados Unidos. No entanto, cabe apenas ao presidente turco colocar a economia de seu país de volta aos trilhos. Ele já provou que é capaz disso uma vez.

Henrik Böhme é repórter da editoria de Economia da DW.

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