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Dilma para todos

4 de novembro de 2010

O primeiro discurso de Dilma Rousseff após sua eleição para a Presidência da República não deu a impressão de que ali estava apenas uma protegida do presidente Lula da Silva, comenta o articulista Carlos Albuquerque.

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Com uma firmeza quase marcial, típica de mulheres que sabem como tiveram de agir para chegar onde estão, Dilma listou, após estar claro o resultado das eleições presidenciais, as prioridades de seu governo em um primeiro discurso dominado pela objetividade e por poucos momentos emotivos – a deferência ao seu mentor foi uma das poucas exceções.

Muitos foram os pontos tocados: entre outros, o crescimento econômico, os programas sociais, a igualdade de direitos entre os gêneros e a liberdade da imprensa. Dilma agradeceu à mídia pelo correto papel exercido durante a campanha eleitoral, enviando assim, indiretamente, um recado àqueles dentro de seu próprio partido que defendem a implementação de órgãos de controle da mídia.

O ponto alto desse primeiro discurso foi, certamente, o estender de mão que Dilma ofereceu aos seus adversários, ou seja, a nova presidente pretende fazer um governo para todos. E aí está o seu grande trunfo.

Diferentemente do presidente Lula, que se confunde com o próprio Partido dos Trabalhadores (PT), a carreira política de Dilma Rousseff se iniciou num outro partido, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) de Leonel Brizola.

O resultado das últimas eleições presidenciais evidenciou que, no final de seu mandato, o presidente Lula deixa um país dividido – regional, econômica e politicamente. A esmagadora vitória de Dilma no desfavorecido Nordeste, onde obteve 70% dos votos, e a vantagem do opositor José Serra em regiões mais abastadas, como São Paulo e os estados da Região Sul, elucidam tal divisão.

É certo que os programas sociais do governo petista, que tiraram milhões de brasileiros da miséria, também surtiram o efeito colateral de garantia de votos para o partido da situação, principalmente no interior do Nordeste, onde vários empresários reclamam que as "pessoas não querem mais trabalhar". Muitos esquecem, todavia, que esses empregos ainda têm que ser criados.

Nesse ponto, Dilma tem pela frente a grande tarefa de aliar a inclusão social à inclusão nos processos produtivos. E, por seu passado administrativo e acadêmico, ela tem as melhores cartas para conseguir tal proeza. As palavras de Dilma em seu primeiro discurso levam a crer que seu governo será guiado pela economia. E nada como uma economista para cumprir essa tarefa.

À frente do Ministério das Minas e Energia, durante o primeiro mandato do presidente Lula, Dilma já deixara claro, em confronto com a ambientalista Marina Silva, na época ministra do Meio Ambiente, que não colocaria em risco o fornecimento de energia elétrica à nação. Dilma defendeu a universalização do acesso à energia elétrica, implementando o programa "Luz para Todos", privilegiando principalmente o deficitário Nordeste, que agora lhe agradeceu.

Dilma não chegou à Presidência através da política. Assim como outras mulheres na América Latina, foi sua atuação na sociedade civil através de cargos administrativos que a levou até onde está hoje. Que o apoio de Lula foi essencial não se pode discutir. Mas o próprio Lula não tinha grande experiência política ao assumir a Presidência do Brasil em 2002. E talvez seja a descrença da sociedade na política que tenha levado Lula e Dilma à Presidência.

Dilma encontra agora um país politicamente dividido. Fazer com que seus adversários também lhe estendam a mão e modernizar seu partido para que o Brasil evite se tornar uma "república sindical" talvez sejam suas maiores tarefas em um momento de bons ventos econômicos.

Autor: Carlos Albuquerque

Revisão: Rodrigo Rimon