Passo a passo, a campanha eleitoral nos Estados Unidos vai saindo dos eixos. Depois das pancadarias entre apoiadores e opositores de Donald Trump em comícios eleitorais do pré-candidato republicano à Casa Branca, agora é o presidente Barack Obama quem se intromete, exigindo moderação do partido, num discurso público neste sábado (12/03).
Boas intenções e nada mais – e o democrata Obama sabe disso. Pois há muito a liderança republicana perdeu o controle sobre estas eleições primárias. Durante tempo demasiado subestimou-se Trump e deixou-se que ele fizesse o que queria. Perdeu-se a chance de coibir suas manifestações de racismo e desprezo humano, e de excluí-lo dos debates televisivos – coisa que deveria ter acontecido a tempo de que se estabelecesse um candidato alternativo com perspectivas.
Fica cada vez mais aparente que luta Donald Trump está travando, na verdade, e quão fáceis de seduzir são dos seus adeptos. Ele quer uma América da exclusão; uma América que renuncie aos próprios fundamentos; que coloque cidadãos sob suspeita generalizada, devido a sua confissão religiosa; que reconheça a tortura como recurso lícito; e que cancele todos os seus comprometimentos internacionais.
Trump propaga essa nova ordem mundial em discursos incendiários, que não atingem apenas aqueles que contam entre os perdedores da atual sociedade americana. É assustador o número de adeptos com que também conta entre os empresários bem situados e bem-sucedidos. Ou seja: quão xenófobos são esses Estados Unidos em pleno ano de 2016, quão pouco unidos, quão profundamente divididos.
Nas últimas semanas frequentei diversos eventos de Donald Trump. E foi apenas uma questão de tempo até descambar em violência seu apelo indireto para que os espectadores se defendessem contra uma ordem social multicultural e realmente liberal. Milhares o aclamaram quando ele disse que se devia socar a cara dos manifestantes contrários. Ou quando afirmou, sob aplausos, que antigamente gente assim seria retiradas de maca do local.
Sejam jeans, música ou iPhones, os EUA costumam ser vistos como pioneiros em muitos setores, não em relação a bens de consumo, mas também a mudanças sociais. Isso deveria fazer refletir os políticos que brincam tão levianamente com o fogo, a fim de alcançar um sucesso político efêmero.
A Lei Fundamental alemã é uma das melhores muralhas existentes contra uma política populista e xenófoba, como a propagada por Trump. E na Lei Fundamental está previsto não só o direito a asilo como também, explicitamente, a proteção às minorias.
Quem transita pelos EUA por estas semanas, como eu, só pode torcer para que os políticos alemães observem atentamente o que está acontecendo aqui, no momento. Sim, não só se pode aprender com Donald Trump, como até mesmo se deve.