Opinião: Formação de governo deve ser prioridade na Turquia
Antes do atentado suicida em Suruç, o partido governista AKP negociava com todos os partidos políticos para tentar formar uma nova coalizão de governo. Mas Suruç mudou tudo. Agora todos os olhos se voltam para a guerra ativa contra o "Estado Islâmico" e para a concomitante retaliação à organização terrorista PKK, que também executa ataques dentro da Turquia.
O oposicionista Partido Democrático dos Povos (HDP), moderado e pró-curdo, é criticado – com razão – por não ter condenado publicamente os ataques do PKK. Esses ataques lembram o conflito dos anos 1990. Ninguém quer o retorno desses tempos de insegurança cotidiana e inúmeros mortos. Por isso, uma solução para esse conflito de longa data é fundamental. Mas não é segredo que o processo de paz já apresentava fissuras bem antes da clara declaração do presidente Recep Tayyip Erdogan, nesta terça-feira (28/07).
Erdogan exigiu o fim da imunidade parlamentar dos políticos curdos que mantêm relações com grupos terroristas, numa clara alusão à liderança do HDP. Em resposta, o presidente do partido, Selahattin Demirtas, anunciou que todos os 80 deputados do seu partido tinham solicitado o fim da sua imunidade. Esse tipo de confronto só alimenta o debate e afasta a Turquia de uma solução para o problema.
De um lado, o AKP tenta lucrar com a atual situação na Turquia fazendo provocações desse tipo. Tudo na esperança de conseguir de volta os votos que foram para o HDP caso haja mesmo novas eleições.
Do outro lado, a reação impulsiva de Demirtas – que pode parecer inteligente num primeiro momento – não colabora para a estabilidade política no país. O pedido, por parte do Partido do Movimento Nacionalista (MHP), de uma proibição do HDP também não ajuda em nada.
Enquanto a agenda política turca é dominada por acusações de culpa, as negociações para a formação de uma coalizão de governo continuam. O Partido Popular Republicano (CHP) e o AKP já se encontraram duas vezes. Se eles chegarem a um acordo, a coalizão deverá ser formada em breve. Se não, haverá em breve novas eleições.
Esse é um plano que o AKP persegue há muito tempo, pois ele não ficou satisfeito com o resultado das eleições de junho e com o fim do seu reinado como partido único no governo.
Agora a Turquia debate desesperadamente os próximos passos do processo de paz. Só que todos os partidos deveriam se acalmar e se concentrar no próximo passo importante: uma coalizão que funcione.
Os líderes partidários precisam voltar à época antes das eleições: à rejeição comum ao AKP e à esperança de mudanças a ela relacionada. Em outras palavras, o processo de paz só deve ser debatido quando uma nova coalizão estiver formada. E aí devem ser chamados à responsabilidade não apenas aqueles que apoiaram o terrorismo, mas também aqueles que se envolveram com corrupção e outras atividades ilegais.